terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mistério na Santa Casa de Misericórdia

Desejo me referir a um fato que se deu no velho Hospital Antônio Moreira da Costa, ainda no casarão da Ladeira do Buracão. Todos os domingos, às três horas da tarde, ia dar a bênção do Santíssimo às irmãs e aos doentes. Era o que podia fazer às freiras e aos enfermos, principalmente quando não tinha um auxiliar.  As irmãzinhas sempre preparavam um suculento café com leite, bolos e outras guloseimas para o seu vigário. Naquele tempo, eu “comia mesmo como um padre”...

Cheguei um pouco atrasado naquele domingo. Tudo porque Marcílio Araújo me prendeu, ainda na praça, falando de teatro amador que ele estava preparando para levar em cena com os Marianos. Achei uma chatice a lenga-lenga do amigo, mas tive que aturá-lo, pois “noblesse oblige”...

Para aquele dia, as irmãzinhas reservavam-me uma naca de bolo de chocolate, visto que, com a minha demora, resolveram distribuir a outra metade com os doentes das enfermarias. Ainda não tinha entrado no hospital e já percebi o reboliço lá dentro. O bolo estava envenenado. Três doentes que o comeram morreram imediatamente.  Outros passaram mal e, lá no terreiro, jaziam os patos e galinhas mortos por terem comido as migalhas atiradas pela janela. Atendi imediatamente aos que passaram mal, dei uma absolvição “sub conditione” aos que tinham morrido e procurei, imediatamente, me inteirar do lamentável fato, desde o seu início.

Conclusão: uma enfermeira leiga que passara pelo Hospital não ficou satisfeita com a superiora que lhe chamara a atenção e a dispensara do serviço. Dias depois, “suadente diabolo”, arquitetou liquidar a superiora. Fez o bolo e mandou uma criança levá-lo, em nome de outra pessoa, como presente às irmãs. Felizmente, a moça da portaria morava no mesmo bairro e conheceu o menino portador do bolo. Amedrontado, o garotinho contou tudo e pudemos então prender a assassina. No inquérito, ela, cinicamente, revelou que não era sua intenção matar o Padre, nem as outras irmãs, mas unicamente a superiora: “Se os doentes morreram ou se o Padre ou as outras irmãs tivessem morrido, seriam inocentes.” A assassina foi presa e levada para Belo Horizonte. Na prisão feminina, aguardou o julgamento. Foi, no entanto, absolvida porque, pelo laudo médico, constatou-se que era um caso psicológico ou de loucura intermitente.

Por tudo o que relatei, mais tarde, procurei o amigo chato e o agradeci sinceramente. Não fosse ele, estaria no cemitério o vigário da cidade no lugar dos pobres doentes da enfermaria, pois seria eu o primeiro (guloso como era) a comer bolo com formicida.

(Texto foi retirado do livro “Trem de Manobra”, escrito pelo Cônego José Augusto de Carvalho)

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