quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Hack Town chega ao Sul de Minas com palestras, debates e música ao vivo

Evento de formato inovador acontece no dia 20 de fevereiro em bares e restaurantes de Santa Rita do Sapucaí, e promete reunir profissionais de todo o país, em áreas como tecnologia, música, empreendedorismo e economia criativa. Ingressos estão sendo vendidos
 online a preço promocional de R$20,00.
Inspirado em eventos de grande impacto como o SxSW , nos Estados Unidos, e o Festival Path, em São Paulo, o Hack Town 2016 (www.hacktown.com.br) promove mais de 70 atividades no sábado, dia 20 de fevereiro, das 08:30 a 00:00. Serão palestras, debates, oficinas, shows autorais, exposições e um karaokê de ideias, tudo acontecendo simultaneamente em dez locais - entre eles bares e restaurantes, um próximo ao outro. Trata-se do Hack Town, que acontece em Santa Rita do Sapucaí, cidade de 40 mil habitantes, localizada em Minas Gerais,  a cerca de 220 km da cidade de São Paulo, reconhecida como polo tecnológico e criativo.

A primeira edição do Hack Town tem como mote “Ideias diferentes. Conexões de impacto”, o que, segundo os organizadores, representa exatamente a proposta do evento. Para João Rubens Fonseca, um dos idealizadores, o Hack Town é destinado a todo mundo que se interessa por criatividade e inovação, seja qual for a área de atuação. A ideia, segundo ele, é unir tribos diferentes e, a partir disso, gerar conexões de impacto.

Para Marcos David, também organizador, ”qualquer pessoa precisa fazer diferente e inovar, e isso vale para um músico, para um pesquisador, para um chef, para um advogado ou para um engenheiro”. Portanto, reforça David, ”o Hack Town é um encontro para reunir pessoas curiosas, e não para segregar pequenos grupos, como geralmente acontece em eventos de conhecimento”.

Entre os assuntos das palestras estão Artes, Cidades e Carros, Lean Startup, Star Wars, Música, Alimentos Orgânicos, Futurologia, Esportes. Tecnologia Assistida, Competências Profissionais do Futuro, Design Thinking, Processos Criativos, Empreendedorismo, Ufologia, Metodologias de Inovação, Cerveja Artesanal, Economia Colaborativa, entre muitos outros. Segundo Carlos Henrique Vilela, também da comissão organizadora, os profissionais que fazem a diferença no mundo atual, em qualquer área, possuem conhecimento especializado, mas também precisam de um amplo repertório sobre assuntos aparentemente desconectados. Afinal, quando se conectam todos esses pontos, é que nascem as grandes ideias, ressalta.

O principal objetivo do Hack Town, segundo Vilela, é abrir novos referenciais aos participantes, através da exposição a conteúdo diverso e networking com participantes de áreas diferentes. O Hack Town acontece no dia 20 de fevereiro, sábado, de 08:30 a 00:00, em Santa Rita do Sapucaí. Para obter mais informações sobre o evento e comprar os eu ingresso pelo preço promocional de R$20,00, visite o site www.hacktown.com.br

Serviço:

Hack Town
Data: 20 de fevereiro
Horário: 8h30 a 00:00
Local: Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais
Valor: R$ 20,00

Fotos ilustrativas:

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Robô "mineiro" que pinta parede sozinho é apresentado no Campus Future 2016

O protótipo de uma máquina que realiza pinturas automaticamente, desenvolvido por alunos do curso de Engenharia de Automação e Controle do Inatel, vai estar na Campus Future 2016, que é uma exposição de trabalhos acadêmicos realizada dentro da Campus Party, que acontece de 26 a 31 de janeiro, no Anhembi, em São Paulo. O projeto Smart Paint é dos alunos Francisco Souza Neto, Raví de Paula, Eduardo dos Reis Dionísio e Antônio Camargo, e foi apresentado na Feira Tecnológica do Inatel - Fetin, em outubro do ano passado.
O projeto surgiu depois da experiência do estudante Eduardo dos Reis, quando pintou o próprio quarto. "Além de ser cansativo, gastei muito tempo e muito material. Por isso, resolvi encontrar na tecnologia uma solução", conta o jovem que reuniu outros três amigos na missão. Brincadeiras à parte, o foco do projeto é a construção civil com a proposta de minimizar o desperdício de tinta ou outro produto utilizado na pintura, além da redução do tempo de trabalho em relação ao tempo gasto pintando manualmente.

Ainda por ser protótipo, o robô realiza a pintura numa faixa de 40 centímetros na vertical e um metro na horizontal, depois se desloca outros 40 centímetros e faz o processo novamente. Isso se repete até ser feita a pintura do cômodo programado. O protótipo foi montado com materiais recicláveis e, agora, a equipe busca parcerias para melhorar o projeto e construir um novo equipamento. "Ao receber o comunicado que fomos selecionados para a Campus Future 2016 tivemos a certeza que todo nosso esforço para o desenvolvimento do projeto valeu a pena. A expectativa agora é de fazer o melhor possível para que nosso projeto e o nome do Inatel sejam bem representados, além de ser uma vitrine que pode trazer parcerias para o Smart Paint"

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Braz Fernandes Ribas: um nome se escreve fundo (Por Jonas Costa)

“Letras são coisas, e não imagens de coisas”. A frase é de Eric Gill, tipógrafo britânico, mas poderia ser de seu contemporâneo Augusto Telles, maestro santa-ritense que se viu obrigado a abrir uma oficina gráfica para imprimir as próprias partituras. Outra Telles, minha contemporânea Nídia, preferiu criar um blog e nele descreveu os atributos dos ajuntamentos de letras: “Para mim, as palavras têm gosto, têm cheiro, têm alma”.
Se as palavras são capazes de dar vida a coisas, essa força mágica deve estar presente também nos nomes próprios. “Um nome – cantam Beto Guedes e Ronaldo Bastos em sol com sétima – se escreve fundo”. Braz Fernandes Ribas está, certamente, entre os nomes indeléveis que conheço. Primeiro, porque não conheço dois iguais. Segundo, porque pertenceu a alguém que deixou marcas profundas por onde passou.

Trago esse nome gravado com força na memória e na alma, mas demorei a entender por quê. Eu o li pela primeira vez no final da década de 1990, na página 232 do livro A Diocese de Pouso Alegre, no Ano Jubilar de 1950. Essa publicação, organizada pelo cônego João Aristides de Oliveira, no 50º aniversário de criação do bispado, resume a história de cada uma das paróquias da região, entre as quais a de Santa Rita.

Sem Braz Fernandes Ribas, a Paróquia Santa Rita de Cássia talvez não existiria. Teria, no mínimo, outra trajetória. E outra seria a origem da cidade que se formou em torno da primeira capela dedicada à padroeira. O resto da história todos nós conhecemos: cumprindo promessa, Manoel e Genoveva da Fonseca doaram terras para a construção da igrejinha, que virou matriz e depois santuário, presenciando o progresso à sua volta.

A origem de Santa Rita do Sapucaí, porém, não se circunscreve aos oito alqueires de fé cedidos em 1821 pelo casal piedoso sobre o qual pouco se sabe, quase nada. Nos últimos anos, pesquisas históricas desenvolvidas por alguns de nossos conterrâneos têm resgatado o protagonismo exercido pelo capitão Braz Ribas, no período de formação do núcleo populacional que resultou na cidade que temos hoje.

Segundo o estudo Santa Rita do Sapucaí – Sua História Revisitada (2009), do saudoso Adirson Ribeiro, nossa terra conservou o nome de Santa Rita do Vintém até aproximadamente 1850 por “ter tido sua origem às margens do Riacho Vintém, na Fazenda Água Limpa do Vintém, de propriedade do Capitão Braz Fernandes Ribas”. Nos oratórios dessa e de outra fazenda, a da família Ribeiro de Carvalho, concentravam-se os ofícios religiosos, antes e depois da primeira missa no município, celebrada em 1825.

“Dono de grande sesmaria e respeitado pela Igreja e pelo Estado”, nas palavras do professor Ivon Luiz Pinto, Braz Ribas conquistou prestígio social e político no Sul de Minas. Em 1829, elegeu-se suplente do juiz de paz José Joaquim Leite Ferreira de Melo, pai do cônego e futuro senador José Bento Leite Ferreira de Melo, de Pouso Alegre. Dois anos mais tarde, foi um dos primeiros cidadãos santa-ritenses a aderir à Sociedade dos Defensores da Liberdade e Independência Nacional, liderada pelo legendário José Bento.

Coincidência ou não, José Bento era o nome de um dos filhos de Braz e sua esposa, Floriana Maria da Conceição. Os outros dois se chamavam Roque e Ana Victória. Que importância têm esses nomes? Para a cidade, não sei. Para mim, além de curiosidades históricas, são dados genealógicos. Há quatro anos, descobri que sou tetraneto de Ana Victória – portanto, pentaneto do capitão Braz.

Devo esse desvelamento de minhas raízes familiares a dois brilhantes pesquisadores dos primórdios de Santa Rita: Adirson Ribeiro e seu discípulo Luiz Gustavo Torquato Villela, o Neco. Adirson produziu, em 2007, com a contribuição de Neco, um estudo a respeito da família Vilela. Ao tomar conhecimento desse trabalho, em 2011, pouco tempo após a morte do autor, encontrei em suas páginas o elo perdido entre mim e Braz: Quirino Antônio de Araújo e Silva.

Quirino era o marido de Luiza Cândida Vilella Ribas, filha de Ana Victória e neta de Braz. É outro nome que se escreve fundo em mim. Quando o li no estudo sobre o clã dos Vilela, de imediato me soou literalmente familiar, já que esse prenome aparecia ao lado de Luiza Cândida, no topo da árvore genealógica que eu havia rabiscado na infância. Poderia estar diante de uma incrível combinação de homônimos, mas só precisei de uma rápida conversa com minha avó paterna, neta do casal, para confirmar o parentesco.

Emoções conflitantes tomaram conta de mim naquele momento. Estávamos ali Haydeé, minha avó, José, meu pai, e eu – três gerações de descendentes de um homem que participara da fundação de Santa Rita e que, ao mesmo tempo, tivera grande número de escravos. Orgulho ou vergonha? Difícil descrever o que senti, pois tinha acabado de lançar um livro-reportagem sobre a comunidade negra santa-ritense, cujo capítulo inicial, No Tempo do Cativeiro, relata a escravidão no município e cita meu pentavô Braz.

Passei a enxergar meu livro como um involuntário, tardio e insuficiente pedido de perdão de minha família aos descendentes dos escravos que a ela pertenceram. Por outro lado, comecei pesquisas e contatos para investigar os primeiros anos de Braz Ribas, vividos em Portugal. Sabia, basicamente, que ele nascera em meados da década de 1770, na “freguesia de São Lourenço de Paranhos, bispado de Braga”, conforme seu testamento.

O primeiro resultado de minha modesta investigação histórica apareceu timidamente em janeiro de 2013, quando recebi por e-mail a resposta a uma mensagem que havia encaminhado à Junta de Freguesia de Paranhos questionando se aquela era a localidade que eu procurava. Em menos de 500 caracteres, o então presidente da junta, José Manuel Dias Fernandes, manifestou alegria por meu interesse e pediu dados de minha família para “trocar informações culturais”.

Ao envio dos dados solicitados seguiram-se enorme expectativa e longo silêncio. Portugal estava em transe e Paranhos, em transição. Em decorrência da crise financeira global deflagrada em 2008, os três grandes credores da dívida portuguesa (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) impuseram ao país, entre outras medidas, a reorganização territorial das freguesias, que são subdivisões dos municípios.

Com pouco mais de 100 habitantes, Paranhos acabou agregada, em setembro de 2013, a outras duas localidades do município de Amares. Enquanto se formava a União das Freguesias de Caldelas, Sequeiros e Paranhos, eu tentava, sem sucesso, restabelecer contato com o outro lado do Atlântico. Como que trazida pelo mar, no interior de uma garrafa, a segunda mensagem chegou um ano, nove meses e 11 dias depois da primeira.

Quem me escrevia agora era o novo presidente da Junta da União das Freguesias, José Manuel Fernandes Almeida. Figura extremamente simpática e atenciosa, mantém comigo extensa correspondência eletrônica, desde então. Graças à colaboração dele e do amigo Neco Torquato Villela, estou prestes a ver realizado um sonho: Santa Rita e Amares declaradas cidades-irmãs pelas autoridades dos dois municípios.

Um ano atrás, localizei no Arquivo Distrital de Braga, pela internet, o registro de batismo de Braz Fernandes Ribas, nascido no dia 11 de julho de 1776, exatamente uma semana após a Declaração de Independência dos EUA. Ele morreria em 22 de maio de 1848, dia de Santa Rita de Cássia, no povoado que ajudara a criar. Nasceu para fazer história; deixou rastros ao morrer. Não viveu em vão; seu nome, enfim, renasce.

Oferecimento:

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Educação para o pensar (Por Danlary Tomazini)

E se crianças descobrissem que cozinhar os alimentos é possível devido a reações Químicas? Que a Física entendeu como nos locomovemos ou por que nos mantemos em pé? Que andarmos em ruas de asfalto ou de paralelepípedos está relacionado à Geografia? E se as escolas deixassem de ser receptáculos para crianças cujos pais trabalham fora, ou centros de formação em massa de mão de obra? E se todos compreendessem que, mesmo a matéria que menos interessa, só está lá porque nos auxilia a entender quem somos, como somos e, até mesmo, por que somos? E se o aprender se tornasse fonte vital da existência?
Nesse mundo ideal, as escolas teriam tantas aulas práticas quanto fosse possível. Acabariam as carteiras enfileiradas e os círculos de gente tomariam conta de todos os espaços. Os alunos aprenderiam que ter empatia é um conhecimento muito importante, o respeito seria natural e não fruto de imposição. A participação seria inevitável! Quem é que não quer fazer parte de uma rotina assim?

Parece utopia, mas não é. Não precisamos mudar o mundo todo, apenas a nossa cidade! 

Um ensino assim é um dos objetivos da “Educação para o Pensar”. Antes de formar profissionais, as escolas precisam formar pessoas. Ainda que a educação seja de responsabilidade dos pais, é na escola que nossos filhos passam a maior parte do tempo. Sendo assim, por que não incutir maiores reflexões na vida dos pequenos? Quem sabe, desta forma, um dia eles se tornarão os pais que os profissionais de ensino tanto sentem falta hoje: os que interagem com a escola em prol da comunidade. 

Essa é uma meta a longo prazo, mas estamos caminhando para concretizá-la. Já tivemos o 1º Curso de Capacitação em Educação para o Pensar e o 1º Encontro de Filosofia para Crianças e Jovens – Educação para o Pensar de Santa Rita. O próximo passo será finalizar o projeto de Lei que tornará a disciplina obrigatória no Currículo Municipal de Ensino e levá-la à Câmara para votação. 

Se o mundo não é mais o mesmo, por que a Educação deveria ser? 

(Danlary é moradora do bairro Rua Nova)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

A experiência de produzir um livro (Por Ivon Luiz Pinto)

A ideia de fazer um livro sobre a História desta cidade apareceu há muito tempo. Aos poucos, muito devagar como o rastejar de um caracol, ela foi tomando forma, criou substância, alimentou-se das vitaminas necessárias e, por fim, nasceu. Sua geração começou lá pelos anos 70, quando lecionava na E.E. Sinhá Moreira. Frequentemente, pedia que os alunos fizessem pesquisa sobre a pessoa que dava nome à sua rua. Guardo com carinho muitos desses trabalhos e alguns foram expostos no lançamento do livro “Pioneiros Visionários”. Foi a partir dessa experiência que comecei, seriamente, a pesquisar a origem e a vida desta cidade. Muita coisa aconteceu como viagens malucas pelo interior do município e por outras cidades, algumas próximas e outras distantes. Vinte ou trinta anos depois, dois ex-alunos e grandes amigos, se mostraram entusiasmados pela pesquisa histórica e vasculharam arquivos e bibliotecas em busca da verdade sobre esta terra. Em meu livro tem muita participação destes dois, Carlos Romero e Neco Torquato. Minha família colocou fogo no estopim dizendo que eu não poderia guardar tanta informação só para mim, não oferecendo ao povo oportunidade de conhecer tanta beleza. Aceitei o desafio e construí o livro. A Casa da Festa, José Carneiro Pinto, do Salão D. João Bergese estava repleta, na noite de 11 de dezembro, com amigos, colegas e ex-alunos, que ouviram uma História que começa com a exploração do ouro e a formação do Sul de Minas. A procura do ouro trouxe pessoas para o leito do Mandu e, depois, para o Sapucaí. Aos poucos, foram chegando famílias e se apossando da terra, estabelecendo propriedades e fazendo plantações. Depois, veio o manejo do gado e, mais tarde, o café.

Quando a família de Manoel da Fonseca chegou nesta parte da Mantiqueira, encontrou “uma razoável população nas regiões do Bom Retiro, além da serra do Mata Cachorro, espalhando-se pela Bela Vista, o  Paredão e as Furnas, mais para o sul do chamado Pouso do Campo, até as terras banhadas pelo ribeirão do Vintém e o córrego do Mosquito”. Ficaram também sabendo dos métodos usados pelo governo português para cobrar o imposto sobre o ouro e evitar seu contrabando. Tudo está no livro que conta as peculiaridades de Braz Fernandes Ribas, Capitão Manoel Joaquim Pereira e outras pessoas que residiam nestas terras, antes da visita de Manoel da Fonseca e Janaubeva Maria. Esse histórico casal que doou as terras para uma capela à Santa Rita não morava aqui e aqui não morreu. Nenhum documento existe mostrando que eles morassem aqui, mas existe documentação provando que eles doaram as terras para a Santa, em pagamento da promessa feita, na doença de Manoel.Quer saber mais? Leia o livro! Locais de venda: Revistaria Caruso, Loja Schmidt e Bazar do santuário.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Apenas um quarto (Por Salatiel Correia)

As batidas do coração aceleravam à medida em que o meu carro passava pelo trevo de Santa Rita do Sapucaí. Trevo, hoje, embelezado com uma escultura da santa da qual porta o nome. Fazia bem uns trinta anos desde que pisara pela última vez na terra de dona Sinhá Moreira.
De imediato, senti uma necessidade, vinda do interior da alma, no sentido de atar as duas pontas de minha vida. Naquele momento, consegui unir o que hoje sinto com o que um dia senti, quando cheguei, pelas rodas da Transul, a um lugar ao qual jamais tinha ido. A lupa de meu tempo voltou há 38 anos, quando, ainda um rapazola mal saído da adolescência e repleto de insegurança, aventurei-me a navegar em mares, por mim, nunca antes navegados.

A sensação dessa junção momentânea de meu passado distante se tornou presente. Bateu-me, então, um misto de melancolia e alegria. Era natural essa sensação, pois o atar das duas pontas da vida cria um fluxo momentâneo em que passado e presente se fundem numa coisa só.

“Aqui em Santa Rita, basta dar uma volta na praça ou ir ao mercado para encontrar todo mundo.” Assim me disse o simpático porteiro do Hotel Tadini. Fiz o que ele me disse. Já era assim há 38 anos. Santa Rita, embora tenha crescido, continua acolhedora. Ainda encontramos pessoas conhecidas no centro da cidade.

É bem verdade que velhos hábitos já não existem mais. Não existe mais o vaivém de um lado para o outro da praça, quando a missa acaba, mas o coreto da praça continua o mesmo. Como continuam os mesmos o prédio do fórum e o velho cinema, a igreja São Benedito e a casa do meu saudoso amigo Mauro Longuinho.

Nesse meu trafegar na terra de dona Sinhá, meu coração acelerou mais no momento em que me aproximei da mais profunda lembrança. Chegara ao mercado, bem de frente onde, por três anos, morei nos meus tempos de Santa Rita. A loja estava lá do mesmo jeito que a vi pela última vez, há mais de trinta anos: a Casa Marques, do meu querido amigo José Élcio Marques, carinhosamente conhecido por Brechó.

Parei o carro. As lembranças, cada vez mais intensas, impulsionavam mais ainda as batidas do coração. Atravessei a rua.

- Goiano, quanto tempo! - Assim me recebeu a simpática dona Dita, esposa de um querido amigo. Senti aquela alegria interior que a gente sente quando quer bem um ao outro.
- Cadê o Élcio? - Indaguei.
-Está lá no fundo da loja, - respondeu dona Dita.
Segui, em passos acelerados, rumo ao fundo da loja. Ia do presente ao encontro de meu passado. Lá estava ele, de costas, tomando café com a nora e um dos filhos, o Janilton. Este, quando eu morava no fundo da loja do pai, engatinhava. Hoje é um homem feito, pai de família. Como o tempo passa!

Toquei no ombro de meu dileto amigo que, naqueles tempos, foi um pai para mim. Ele se voltou com aqueles olhos verde-claros que nunca me saíram da memória. Deu-me um caloroso abraço fraterno. Abraço de dois amigos com uma amizade solidificada pelo tempo.
- Vem cá, goiano, ver como está seu quarto! - O coração disparou mais ainda. Era apenas um quarto, mas significava muito para mim.

- Fiz dele um depósito - me disse Élcio.
- Tem ainda o banheiro? - Perguntei.
- Sim. Não mexi nele.

Nisso, o atar das duas pontas de minha vida acelerou o fluxo entre o início e o fim desses 38 anos. Quanta água correu neste rio. Quantas alegrias! Quantas intempéries vencidas ou esquecidas! Amadureci. E lá estava eu recordando um rapazola na procura incessante pelo seu porto seguro. Hoje, caminhando para a terceira fase da vida, restou-me dizer ao Élcio e à dona Dita Marques o quanto eles foram uma família para mim. Foi uma alegria rever essa gente tão generosa para com o próximo. Gente que tanto quero bem. Amigos para sempre e que carrego no fundo do coração!

(Salatiel Correia é Engenheiro, Bacharel em Administração de Empresas, Mestre em Planejamento. É autor, entre outras obras, do livro Cheiro de Biblioteca. Obras que fazem nossa época.)

OPINIÃO: Ano eleitoral. Em quem NÃO VOTAR nas eleições de 2016

Entramos em ano eleitoral. Com ele, surgem os tapinhas nas costas, as promessas fáceis, o riso frouxo e os conchavos de gente não sabe fazer mais nada da vida a não ser mamar nas tetas do poder. Os candidatos mais bem cotados são aqueles que concederam o maior número de favores pessoais. São incapazes de gerir a própria vida, mas assumem as rédeas do município e acabam escolhidos para administrar uma comunidade inteira. Nisso, erra o eleitor.
A função de um vereador é saber avaliar as necessidades da população e produzir leis que irão beneficiar a todos. Ele não trabalha para o prefeito, nem para os amigos e nem para si mesmo. Ele trabalha para o COLETIVO! Acontece que, em boa parte dos casos, nem os próprios legisladores sabem direito o que estão fazendo na Câmara. Passam dias na porta da prefeitura pedindo favorzinho pra este ou aquele amigo, usam a remuneração que ganham para comprar o eleitor, conceder esmolas e ainda tem gente que se deixa corromper por esta forma velada de corrupção. Tais eleitores se esquecem que, quando precisarem de um bom emprego ou de um hospital decente, encontrarão dificuldades porque trocaram alguém capaz de atrair investimentos ou produzir uma boa lei, por um suposto "amigo" que nos corrompe e dificulta as coisas nos quatro anos seguintes. 

O problema do brasileiro, como um todo, é pensar apenas em si mesmo. Se vemos, hoje, um país corrompido pela roubalheira, se os preços sobem, se a saúde é ruim, se não temos boas escolas e dependemos dessas pessoas que estão no poder, também somos culpados. Mais do que ninguém, somos responsáveis pelo futuro porque ajudamos a eleger estas pessoas que deveriam nos representar e, muitas vezes, não o fazem.

Há também o problema das famigeradas legendas. Não votamos em candidatos, mas em legendas gerenciadas por pessoas que, após as eleições, querem negociar cargos, buscar benefícios pessoais e favorecer somente a quem interessa: eles mesmos. Política é meio complicado de entender, mas torna-se fácil quando entramos no âmbito municipal. Em cidade pequena, todo mundo conhece todo mundo e é fácil descobrir quem monta e quem toma parte em uma ou outra legenda para ajudar a população ou receber benefícios pessoais. É simples reconhecer quem gera ruído em torno de si mesmo para parecer boa gente e quem está realmente preocupado com o bem-estar da população. Já que o voto é secreto, que tal votarmos em pessoas realmente competentes desta vez?

Neste ano tem eleições. Lembre-se: é o sujeito competente e sério que irá mudar as nossas vidas. Os caras das "cortesias" serão aqueles que nos deixarão estressados por não termos o básico até as olimpíadas de 2020. A proposta é esta. Que possamos, todos juntos, votar com absoluta consciência e eleger ou reeleger apenas pessoas sérias e comprometidas. Boa sorte para todos nós!

(Por Carlos Romero Carneiro, que não é candidato a nada, não apoia ninguém, mas que sonha com uma cidade mais bacana para se viver)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Os feitos de Décio Saretti: um honorário cidadão santa-ritense

“Desta vez, vocês vão tocar a caminho do céu.” - foram as palavras do Padre Coutinho. A passarela de Aparecida estava lotada naquele 12 de outubro e o carro de polícia foi à frente, lentamente, abrindo alas entre os fiéis. Logo atrás, o Bispo dava a bênção, seguido pela Lira Santa Rita, “menina dos olhos” dos Padres Coutinho e Orlando Gambi e que, por todo o caminho, entoava hinos e encantava os presentes, até chegar ao altar. O ano de 1990 ficou marcado no coração dos integrantes da lendária corporação musical de Santa Rita do Sapucaí. O mesmo aconteceu nos três anos seguintes, quando estendeu-se o convite para que se apresentassem em Aparecida, no dia da Padroeira do Brasil. Foi com muita emoção e lágrimas que nosso homenageado se lembrou, como se o fato tivesse acontecido ontem. Durante o nosso papo, Décio Soares Saretti relatou estes e tantos outros acontecimentos de uma vida que se confunde, a todo momento, com a história da música e da cultura em nossa cidade.
“Uma doçura de pessoa.” - cabe-lhe, perfeitamente, o mesmo adjetivo com que se referiu a diversas personalidades que passaram por sua vida, como a D. Terezinha Capistrano e o menino Wilson (músico e aluno, cuja morte prematura ainda o emociona). Por trás da aparência imponente e da vida agitada que leva, constantemente envolvido em diversas atividades, há um homem amoroso, com alma de músico, capaz de se encantar com as pequenas belezas da vida.

Décio, 60 anos, é natural de Jacutinga. Veio para Santa Rita, ainda criança, com os pais e os irmãos. Apesar de ter morado em outras cidades, não tem nenhuma pretensão de sair daqui. “Eu rodo, rodo e acabo em Santa Rita. É aqui que eu vou ficar.”

Décio ficou e tem contribuído muito, ao longo dos anos, nos segmentos cultural e social do município, juntamente com outros nomes que nos são tão familiares. Atuando, há 15 anos, como presidente da Lira Santa Rita, entrou na banda muito antes, a convite de Odair. Desde então, usou os mesmos pratos que pertenceram ao Seu Lupércio, ao lado do saudoso Kenit, nomes que recorda com carinho, já que acrescentaram boas lembranças à sua vida.
Formado em Educação Física, Décio já foi diretor do Sanico Telles e, atualmente, é professor na escola, há mais de trinta anos. É lá, também, que ele cuida da tradicional fanfarra. Solteiro convicto, educou e auxiliou na criação de Juarez Monteiro, hoje com 37 anos,  e orgulhosamente comenta sobre suas proezas e superações. Depois que apadrinhou o menino, há 24 anos, sentiu a necessidade de fazer algo a mais por crianças e adolescentes, com quem sempre gostou de trabalhar. Foi assim que tornou-se Comissário de Menores, cargo que exerce de maneira voluntária, mas que exige inúmeros requisitos e avaliações. 

Em 2013, Décio foi homenageado pelo Fórum pelos serviços prestados ao Poder Público, juntamente com o Juiz de Direito, José Henrique Mallmann. Já em 2014, foi agraciado pela Câmara com o título de Cidadão Honorário Santa-ritense, reconhecimento que define a seriedade do trabalho que exerce na promoção de nossa cultura e que dá respaldo ao carinho dos santa-ritenses por esta grande figura. Ao querido Décio, nossa estima e consideração.

(Por Danlary Tomazini)

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