segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A história da Companhia Sul Mineira

A chegada da energia elétrica

Fundada em 1912, a primeira empresa de eletricidade de Santa Rita do Sapucaí recebeu o nome de “Companhia Força e Luz Minas Sul” e foi dirigida até 1935 por diversos empresários locais. Dentre seus acionistas, o maior era Antônio Moreira da Costa, que teria construído o prédio – com uma arquitetura que lembrava muito a atual Pizzaria Na Lenha - onde funcionou a primeira estação da cidade. A partir de 1936, a sociedade foi vendida para a conhecida “Companhia Sul Mineira de Eletricidade”, com sede no Rio de Janeiro e que era responsável pelo suprimento de energia de outras 39 cidades da região.

Assim que a “Sul Mineira” passou a gerenciar o suprimento de energia da cidade, muitos foram os melhoramentos ocorridos em nossa infraestrutura. Através de um “programa de reformas”, implantado no ano de 1937, os velhos postes de madeira foram trocados, as instalações particulares melhoradas e os fios foram adaptados às exigências do município. Naquele mesmo ano, foi proposta à prefeitura a instalação elétrica subterrânea  na Praça da Independência (Praça Santa Rita) e o serviço foi parcelado de forma a facilitar o pagamento da dívida.
Reunião de antigos funcionários da Sul Mineira, em 1980.
Mesmo com a venda da Companhia, a gerência continuou nas mãos de um santarritense que não poupou esforços para que a cidade tivesse uma “Concessionária de Serviços Públicos  de Força e Luz” à altura de seus sonhos. José Longuinho Sobrinho tornou-se o responsável pelos negócios da empresa na cidade. No departamento de vendas, Antônio de Souza Júnior cuidava dos novos projetos e divulgava os benefícios do uso de aparelhos de aquecimento nos lares santarritenses. Já Dona Maria Thereza do Carmo Vono era a responsável pelo recebimento dos pagamentos. Era dela a função de administrar o caixa da empresa e atender os fregueses que vinham acertar suas contas.
Segunda pele

Segundo contam os mais antigos colaboradores da empresa, os funcionários da Sul Mineira vestiam um uniforme de brim pardo e tinham a caderneta de trabalho recoberta pelo mesmo tecido. Dentro desses pequenos livros individuais de anotação, constava o salário e o desempenho de cada um deles, no decorrer dos anos.
Raridades da Companhia

Muitos documentos raros sobre os primeiros lampejos de eletricidade em Santa Rita foram preservados. Algumas fotos também foram guardadas com zelo pela família do senhor Longuinho e carregam uma boa parte da história do município. Outros registros importantes também foram arquivados pelos descendentes do estimado gerente, como o fichário dos empregados - datado da primeira metade do século XX – além de uma cópia da ata do dia 31 de janeiro de 1935 e de uma listagem cronológica dos primeiros presidentes da Companhia de Força e Luz. Através do Jornal “O Correio” de 6 de julho de 1968, tivemos acesso a uma transcrição do projeto de lei de 2 de junho de 1929 que autorizava a instalação de uma compa-nhia de energia na cidade - um fato que mudou para sempre a vida dos santarritenses e aposentou de uma vez por todas os velhos lampeões à querosene, acesos ao anoitecer e apagados entre 9 e 10 horas da noite. No mesmo jornal, consta que a inauguração da estação local aconteceu no dia 31 de dezembro de 1912, através de inestimáveis esforços de João Eusébio de Almeida e outros colaboradores.

José Longuinho Sobrinho

Contratado aos 15 anos de idade como ajudante da extinta Companhia de Força e Luz, o senhor José Longuinho foi umas das figuras mais importantes de nossa cidade. Sua trajetória de 63 anos junto às concessionárias de energia da cidade, fizeram dele uma referência, não só em nossa região, como em todo o estado de Minas. Segundo consta nos registros jornalísticos de 1969, ele nunca tirou uma licença-prêmio, jamais entrou em férias em todo o tempo em que esteve à frente da Sul Mineira. Salete Andrade, uma de suas companheiras de trabalho, assim falou sobre o estimado senhor Longuinho: “Era uma pessoa maravilhosa e era dono de um coração imenso. Foi um paizão para mim e sempre me contava sobre o amor que tinha pela família e sobre como havia conhecido sua esposa Áurea.” Sua Neta, Elizabeth Longuinho, nos contou que muitas pessoas chegavam à Sul Mineira sem dinheiro para saldar suas dívidas e acabavam amparadas pelo senhor Longuinho que, não raramente, tirava dinheiro do próprio bolso para pagar as contas vencidas. Com a chegada da Cemig, este grande profissional continuou à frente da Companhia Elétrica até sua aposentadoria, em 1981. De acordo com uma reportagem do jornal “Cemig Notícias”, de 1986, que noticiou seu falecimento, “sua saída da empresa, aos 78 anos, foi marcada pelo mais profundo respeito de seus colegas e amigos.”
Os causos da companhia

João Coelho, ex-funcionário, nos contou que, na usina de energia de Natércia, havia um enorme banco de malacacheta e muitas pessoas diziam que lá poderia ser encontrado ouro. Para tirar essa história a limpo ele lembrou que, certo dia, os senhores Pedrinho Figueiredo e Antônio Longuinho resolveram recolher uma boa porção de terra do local para que fosse realizada a bateia – técnica de retirada do ouro. Ao ouvirem aquelas conversas todas, que surgiam em torno do assunto, Antônio Lemos Carneiro, José Martins e o próprio João Coelho tiveram uma grande ideia: passar uma torneira inteirinha no esmeril e colocar o pó dourado da peça dentro das amostras de terra.

No dia seguinte, os três ficaram só de butuca e presenciaram o momento em que encontraram o “precioso minério”. Era “ouro” que não acabava mais. O senhor Longuinho ficou eufórico com sua incrível descoberta e chegou a enviar amostras para o Rio de Janeiro, quando um dos funcionários da firma acabou encontrando os restos da torneira nos fundos da oficina. Ao descobrir que tudo não passava de uma brincadeira, o gerente da Companhia virou a cara para seus amigos e só voltou a falar com eles, um mês depois.

Em outra ocasião, Antônio Lemos Carneiro – em início de carreira - estava consertando uma instalação elétrica nas proximidades do morro do cruzeiro, quando um de seus colegas, sem saber que ele ainda estava ligando os fios, resolveu acionar a energia elétrica. Por estar ensopado pela tempestade, Antônio ficou colado no fio de alta tensão e só conseguiu se livrar da morte quando o condutor não aguentou seu peso e arrebentou. Depois disso, o eletricista contou que nunca mais teve medo de choque. Muitas vezes, era visto pelos colegas colocando os dedos na tomada para saber se era 110 ou 220. De uma forma ou de outra, ele teria que se acostumar. Aquela não seria nem a primeira e muito menos a última descarga elétrica que levaria na vida, em sua trajetória de mais de 50 anos trabalhando com alta tensão.
(Carlos Romero Carneiro)


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