quarta-feira, 25 de maio de 2011

A história do Café em Santa Rita do Sapucaí

Fazenda das Posses, de José Renno - era de
Francisca Vilela da Costa.
 Ouro Negro

O café é uma planta natural das estepes da Etiópia. Seu fruto, tal como o guaraná para os índios do Brasil, era aprovei-tado por estes povos africanos há muitos séculos na confecção de bebidas. Da África seu uso passou aos persas, destes aos árabes que o divulgaram a partir do século XV como um grande estimulante. Assim, suas sementes se espalharam por todo o mundo islâmico. Com o comércio com os árabes, o café chegou a Constantinopla e, logo em seguida, à Europa.

Para a América do Sul a planta foi trazida pelos franceses. Na tentativa de fincar raízes neste continente, a planta chegou ao Brasil em 1727, quando foi produzida em Belém do Pará. De mãos em mãos, as sementes foram “descendo” a costa do litoral brasileiro até chegar, na década de 1770, ao Rio de Janeiro.

A partir de 1820, com a crise da indústria açucareira, o café se tornou a principal fonte econômica nacional e foi amplamente cultivado no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Fazenda que pertenceu a José Carlos de Magalhães e Maria Avangelista Palma
e que depois foi vendida para Joaquim Inácio - Fazenda Delta.
A Chegada do Café a  Santa Rita do Sapucaí

Segundo o Historiador Ideal Vieira, o Café foi plantado pela primeira vez em Santa Rita do Sapucaí por volta de 1870, pelo Sr. Joaquim Cândido Rodrigues, em terras onde hoje está localizada a fazenda do Challet. Quatro anos depois, outro grande produtor - Francisco Marques Pereira - levaria algumas mudas para a “Fazendinha”. Em 1876, o café alcançava as terras da Capituba, pelas mãos do Sr. Joaquim Cândido Carneiro Santiago.

Até a chegada da estrada de ferro à cidade, em 1894, a produção agrícola local estava baseada na plantação do fumo. A escolha de tal cultura era puramente estratégica. Para transportar a produção até o Rio de Janeiro, no lombo de dezenas de mulas, era preciso optar por algo que fosse leve e de fácil negociação.
Fazenda que pertenceu a João Carlos
Ribeiro do Valle.
Os primeiros Barões

Cinco anos antes do italiano Antônio Rodolfo Adami vir “plantar trilhos” em nossas terras, o grande produtor Francisco Palma já havia iniciado a produção da preciosa rubiácea. Mal sabia que dentro de poucos anos, a sesmaria que herdara na serra do mata-cachorro seria o ponto de partida para que seu genro – Erasmo Cabral – iniciasse uma fortuna que o levaria a se tornar um dos maiores barões do café do estado de Minas.
Fazenda que pertenceu a Joaquim Ribeiro de Carvalho Jr.
A geada de 1918

Em 1918, os ventos mudaram para os produtores santarritenses em um momento em que, no país, havia excesso de produção: uma forte geada destruiu a maior parte das lavouras e apenas um cafeicultor conseguiu escapar dos prejuízos: Francisco Moreira da Costa. Com a escassez de café no mercado, os preços foram às alturas e somente os fazendeiros que produziam nas regiões mais altas conseguiram escapar da tragédia.  Naquele ano, o Cel. “Chico Moreira”, proprietário da Fazenda Challet, conseguiu negociar sua produção a preços exorbitantes e se tornou um dos homens mais poderosos do Brasil. Dono de uma aguda visão empreendedora e profunda moral em suas ações, o cafeicultor se tornou um grande banqueiro e passou a estimular os produtores que haviam perdido seus investimentos.

Na década seguinte tudo correu bem. A cidade progredia, oportunidades brotavam do fértil chão montanhoso e Coronéis se enriqueciam rapidamente, convertendo pequenos grãos em casas, propriedades, roupas luxuosas e tudo mais que o dinheiro podia comprar. Na linguagem dos cafeicultores, um “Fordinho” custava 25 sacas. Em torno das fortunas, surgiam os primeiros bancos locais. Diante das oportunidades, diversos empreen-dedores locais davam início a grandes riquezas.
Fazenda que pertenceu a Francisco Palma e
a Erasmo Cabral - Fazenda do Paredão
A Crise de 1929

Na década de 1920, a região sudeste produzia 60% do café consumido no mundo. Da Serra do Paredão, Erasmo Cabral movimentava uma incrível fortuna e multiplicava vertiginosamente seus bens. Em 1927, sua fortuna era tamanha que o empreendedor chegou a construir uma escola e um posto de gasolina nos limites de sua propriedade. De seu armazém, construído nas redondezas da Estação Afonso Penna, partiam centenas de sacas que depois eram exportadas pela Firma Leon Israel Agrícola.

Com a chegada da crise de 1929 - da noite para o dia - milhares de cafeicultores tiveram suas fortunas  completamente dizimadas. Como Erasmo Cabral comprava a produção da cidade inteira e revendia no Porto de Santos, sua falência influenciou diretamente grande parte dos produtores locais.

No auge do pânico e com um profundo senso de responsabilidade, ao perceber que outros produtores seriam prejudicados pela queda nos preços do café - Erasmo procurou o Banco do Brasil para apresentar a descrição de todos os seus bens: a Fazenda do Paredão, a Fazenda Aliança, todo o gado, uma fábrica de manteiga, uma máquina de café, implementos agrícolas, um armazém de café, uma residência na praça Santa Rita e uma mansão que, ao final da construção, seria a moradia final da família Cabral.
Fazenda que pertenceu a Manoel Joaquim Pereira.
Após a crise

Após a crise que varreu a fortuna de milhares de fazendeiros Brasil afora, os cafeicultores santarritenses encontraram grandes dificuldades, mas o tempo cuidou de reparar as perdas. Com o passar dos anos, surgiram novos produtores, a economia cafeeira se renovou e hoje a união dos produtores rurais, através de uma grande cooperativa, tornou-se fundamental para o sucesso de todos. Enquanto isso, o vale permanece rodeado pela bonita planta que adorna as montanhas do município e empresta a Santa Rita do Sapucaí uma paisagem especial que só Minas Gerais tem para oferecer.

Este texto foi produzido através dos depoimentos do Produtor Rural e Historiador Procópio Junqueira, que tem garimpado as riquezas de nossa história local com a mesma dedicação com que produz um dos melhores cafés do Brasil.

Nota:
Procópio Junqueira faz uma agradecimento especial aos seus amigos e companheiros de pesquisa histórica, Neco Torquato Vilela e Adirson Ribeiro. Juntos, esse trio de estudiosos de nosso passado histórico, tem revisto a trajetória de Santa Rita do Sapucaí e produzido um trabalho de inestimável valor cultural.

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