sexta-feira, 24 de junho de 2011

Franklin Magalhães, poeta imortal

Nos tempos de colégio

O jovem estudante do Caraça era filho de banqueiro. Família abastada de São João Del Rey. Da mãe herdou o sobrenome “Almeida”, linhagem de Tancredo Neves. Estudou em colégio de padres até o último ano. No internato, não se conformava com a ideia de dividir o dormitório com dezenas de alunos. A saída que encontrou foi fingir sonambulismo para que o padre desse um quarto e uma moringa d’água só para ele. No último ano, percebeu que sua vocação não era a batina e decidiu voltar para casa, pouco antes da formatura.

Retorno ao lar

De volta a São João Del Rey, Franklin de Almeida Magalhães passou a ministrar aulas de História e Geografia. Aprendeu mais na prática do que na teoria. Correu o mundo em busca de fatos e monumentos que a maioria dos amigos só conhecia pelos livros.

De volta à terra natal, passou a cuidar da mãe, seriamente debilitada por um grave reumatismo. Tais cuidados fizeram com que seu casamento fosse adiado até os 43 anos de idade. Deu tempo de fundar a Academia Joanense de Letras – onde é patrono de uma das cadeiras até hoje - e de produzir suas primeiras poesias.
Novas sendas

Com a perda da mãe, Franklin buscou novos ares. Em sua ida a Belo Horizonte, levou junto o projeto que fundara e deu origem à Academia Mineira de Letras. Na capital do Estado, teve contato com grandes nomes da literatura brasileira. Em uma das festas em que participou, teve a oportunidade de declamar uma de suas obras e conquistou a admiração do homenageado da noite: o poeta Olavo Bilac.

Além de Belo Horizonte, o autor de “O portão” morou em outras duas capitais brasileiras. Primeiro esteve em São Paulo, onde chegou a se matricular na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco e de que desistiu por não conseguir conciliar os estudos com as carreiras de jornalista e professor. Mais tarde, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como redator do jornal “O País”.

Muita água rolou até que surgisse a proposta de lecionar em Santos Dumont, onde passou a dirigir o colégio de um irmão do amigo e governador Cristiano Machado. Seu vasto conhecimento das disciplinas, fez dele um professor disputadíssimo pelos colégios que se espalhavam pelo Estado. Em menos de um ano recebeu cerca de 5 ofertas. Uma delas era para lecionar em uma escola recém inaugurada e dirigida por outro grande amigo: Francisco Falcão.
A chegada a Santa Rita do Sapucaí

A escolha de vir para Santa Rita do Sapucaí foi mais influenciada pelo apreço que nutria pelo professor Falcão do que pelos atrativos do Vale. Aqui, junto com a esposa e a única filha – Zinita – Franklin encontrou um carinho imenso. Quanto mais conhecia os habitantes da pequena cidade encravada na Mantiqueira mais cativado se sentia. Todos os meses, tomava o caminho para Belo Horizonte, encontrava-se com escritores e poetas na Academia Mineira e retornava ao interior para compor suas obras, sentado em uma pequena mesa redonda enquanto saboreava um cigarrinho de palha.

O hino dos Democráticos

Apesar de já ter publicado diversas obras imortais, o reconhecimento maior dos santarritenses ao artista chegou quando recebeu uma visita de seu amigo Ângelo Bonorino, junto com outros personagens ilustre da sociedade local. O motivo da conferência era pedir ao professor da Escola Normal de Segundo Grau que criasse uma letra para o hino carnavalesco composto por Carmelo Carneiro de Abreu.

“Vibrem fanfarras da Aurora e risos em cataratas. Porque vai passar agora o Bloco dos Democratas”. Assim que o hino da nova agremiação preencheu os espaços do antigo Clube Literário, os foliões santarritenses foram às lágrimas e carregaram o poeta nas costas em torno do jardim da matriz. Enquanto era ovacionado, mirava seu isqueiro reluzente aos foliões, fingindo atirar lança perfume. Foi uma cena inesquecível que mudaria para sempre o  carnaval santarritense. Nos próximos 70 anos, aquela canção seria lembrada e reproduzida exaustivamente por diversas gerações de apaixonados.
“In Extremis”

Dez anos após sua chegada, uma enfermidade acabou por tirar a tranquilidade do ilustre poeta. Acometido por um derrame, retornou às pressas ao Rio de Janeiro, onde faleceu e foi sepultado, em 1938, aos 59 anos de idade.

Em reconhecimento ao amor de Franklin Magalhães pela terra que o acolheu, seus familiares decidiram trazer seus restos mortais para Santa Rita do Sapucaí. Sobre o mármore negro de sua ermida foi gravado o trecho do poema “In extremis”: “Que as almas voem aos páramos aéreos e os corações encontrem lenitivos no repouso final dos cemitérios”.

Homenagens Póstumas

Quatro anos após seu falecimento, foi a vez da população de sua terra natal prestar homenagem. Ergueram um monumento na Praça dos Andradas, em um evento que contou com grande aclamação popular. Em 2005, uma nova aclamação foi-lhe dirigida na mesma cidade quando o seu busto foi trasladado para o pátio de biblioteca municipal, sede da Academia de Letras.

Em Santa Rita do Sapucaí, quem prestou seu reconhecimento e cari-nho ao honorável Santarritense foi Maria José Vianna ao nomear Franklin Magalhães patrono de sua cadeira na Academia Santarritense de Letras. Com o falecimento da grande historiadora, coube a Antônio Siécola Moreira a honraria de imortalizar a memória do ilustre poeta que empresta o nome à cadeira que ocupou.

(Carlos Romero Carneiro)

Nossos sinceros agradecimentos à filha de Franklin Magalhães, Ambrozina de Almeida Magalhães Duarte (Zinita) e seu companheiro Nélio, pelos depoimentos e informações que nos concederam para o desenvolvimento desta Matéria.

3 comentários:

  1. Prezado Carlos, você saberia me indicar quais são as obras do Franklin Magalhães e onde posso encontrá-las? Ele escreveu alguma autobiografia ou memória?
    Obrigada,
    Carolina.(mafradesa@gmail.com)

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  2. Há alguns anos, infelizmente, não sei por quais motivos, o busto do notável Franklin de Magalhães foi removido do jardim que fica em frente da Academia de Letras de São João del-Rei/MG. A peça em bronze está indevidamente depositada/guardada no Museu Tomé Portes (casa de Bárbara Heliodora). Havia no plinto em granito uma placa com os dizeres "SÃO JOÃO DEL REI, TERRA GENTIL, TERRA MAIS FORMOSA, FELIZ QUEM TEVE A SINA, A SORTE VENTUROSA DE SER SEU FILHO...!!!", que eu não sei mais onde está (possívelmente pode etar no museu já referenciado). Por que não promover um movimento para que se volte com o busto de Franklin de Magalhães para a Praça dos Andradas, local original dele e de onde nunca deveria ter sido retirado?

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  3. Há alguns anos, infelizmente, não sei por quais motivos, o busto do notável Franklin de Magalhães foi removido do jardim que fica em frente da Academia de Letras de São João del-Rei/MG. A peça em bronze está indevidamente depositada/guardada no Museu Tomé Portes (casa de Bárbara Heliodora). Havia no plinto em granito uma placa com os dizeres "SÃO JOÃO DEL REI, TERRA GENTIL, TERRA MAIS FORMOSA, FELIZ QUEM TEVE A SINA, A SORTE VENTUROSA DE SER SEU FILHO...!!!", que eu não sei mais onde está (possívelmente pode etar no museu já referenciado). Por que não promover um movimento para que se volte com o busto de Franklin de Magalhães para a Praça dos Andradas, local original dele e de onde nunca deveria ter sido retirado?

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