terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A última causa do Doutor Caponi

“Esqueceram de convidar o Caponi, mas ele vai assim mesmo. Tem algumas coisas que preciso explicar.” - confessou o advogado a um amigo, em terceira pessoa, como tinha o hábito de falar. 
O convite a que se referia tratava-se de uma Assembleia Extraordinária da Fundação Santa-ritense de Saúde e Assistência, responsável pela gestão do hospital. Disse que iria e foi, sem imaginar o que estava prestes a acontecer.

No decorrer da Assembleia, Caponi teria comentado aos presentes algo, mais ou menos, assim: “Vou morrer amanhã ou depois, mas vocês vão ficar. É necessário que se unam para que a cidade não fique sem o hospital.” O que ele teria dito ocorreu, com certo tom de profecia.

Há meses, Caponi andava preocupado com a situação da entidade. Entre os seus conhecidos, falava sobre a necessidade de empenho para promover a saúde e questionava a falta de sinergia entre poder público e seus voluntários. 

Consternado com o estado crítico de nossa saúde, Caponi ouvia um pronunciamento da Assembleia, quando queixou-se com alguém ao seu lado: “Não estou ouvindo o promotor. Por que está falando tão baixo?” Estas teriam sido as suas últimas palavras. O advogado foi acometido por um infarto e sucumbiu diante dos participantes que não tiveram tempo de socorrê-lo. Uma médica, presente na reunião, tentou reanimá-lo, mas não obteve sucesso. Despedia-se, naquele momento, o engajado e não menos polêmico, Doutor José Caponi de Melo, tão presente na história local.

Natural de Bueno Brandão, Caponi chegou jovem a Santa Rita e nunca mais retornou. Casado com Dona Cidália  (filha de Dona Hespanha e do lendário professor Castillo), apaixonou-se pelo Ride Palhaço e tornou-se uma de suas mais importantes figuras. Era dele a missão de correr o Livro de Ouro e recolher doações. “Em quatro visitas que eu fazia, pagava boa parte do desfile.” - disse uma vez, enquanto lembrava os antigos carnavais.
Outras entidades também tiveram a sua participação. Quando corremos os olhos em velhas fotografias e documentos de tempos atrás, vemos sempre um jovem magro e sorridente, usando óculos de grau, com pessoas alegres à sua volta. Associação de Atletismo, ETE, Inatel, Clube, Academia de Letras ou Sociedade dos Amigos... todos tiveram a sua participação.

Dizem os mais próximos que, desde que perdeu a esposa, Caponi nunca mais foi o mesmo. Parecia ter perdido a alegria. Não tinha a disposição que foi sempre a sua marca mais forte. Sentia-se um pouco sozinho e já não via tanta graça nas coisas.

Com o seu passamento, foi-se embora o advogado que, dificilmente, perdia um embate. Despediu-se o homem, sempre rodeado de amigos, na defesa de sua derradeira causa: a manutenção de nosso precioso (e tão castigado) hospital. Vai com Deus, Caponi.

(Por Carlos Romero Carneiro)

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