quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Estranhos cavaleiros das bandas do Arrebenta Rabicho (Por Cônego Carvalhinho)

Em 1821, numa tarde bastante fria de abril, o perdido arraial de Santa Catarina (Natércia), além da Serra da Manoela, viu estranhos cavaleiros que chegavam das bandas da serra do Arrebenta Rabicho, mais precisamente nos caminhos de Santa Isabel dos Coqueiros (Heliodora). Pareciam ciganos como muitos outros que vinham e arranchavam no povoado, antes de continuarem viagem a caminho da Capituva (Pedra Branca – Pedralva) ou de Itajubá. Esses, no entanto, não eram ciganos. Estavam à procura de terras devolutas ou que pudessem ser compradas nos sertões chamados do Mosquito ou da Lagoa do Bicho, em meio caminho do Balaio (serra).
- Trazemos cartas do governador da província e o visto do seu proposto, em São João Del Rey. – dizia o filho daquele estranho casal. 

- Nas paragens do ribeirão do Mosquito existem 200 a 400 alqueires de terras devolutas. – respondeu com um sorriso mal ocultado um informante de Santa Catarina – Mas são terras, segundo dizem, amaldiçoadas e entregues a bichos peçonhentos. Ninguém, até hoje, se dispôs a prepará-las para a lavoura ou criar gado. Se você for mesmo corajoso, vá vê-las e faça a sua demarcação. Se, porém, não voltar em 6 meses com um levantamento dessas terras, ficará nulo o documento oficial que traz de São João Del Rey.

O homem que parecia ser o chefe era sisudo e de pouca conversa. Dava a impressão aos catarinenses que o viram de ser mudo ou surdo, visto que nem sequer opinou sobre o acerto feito pelo filho com o chefe do Arraial. 

Todos eram cavaleiros, inclusive Rita de Cássia, que parecia ter 12 anos. Apesar de Manoel da Fonseca e de seu filho, Antônio Manoel, usarem montaria de pernas abertas, Janubeba e sua filha montavam o cilião usando saias compridas e recatadas. Acompanhando o bando vinham 3 escravos, jovens ainda, acompanhados de suas respectivas esposas, todos a pé, tangendo meia dúzia de burros de carga.

Após o pouso, na saída do Arraial, de manhãzinha, ainda sob a neblina que encobria a velha Santa Catarina, o bando começou a subir a Serra da Manoela pelo lado norte. Bem lá no alto, eles pararam para uma refeição à sombra de frondosas árvores à beira do caminho. Ao meio-dia, montaram novamente e deram início à descida da serra. Após consultar seu mapa, Antônio Manoel certificou-se de que, em no máximo 3 horas, chegariam ao córrego do Mosquito.

Às 4 da tarde, o grupo alcançou uma pequena elevação à beira do rio Sapucaí e, por informação de um tal Gerônimo (que teria dado nome ao morro), era o local menos úmido. Em torno, apenas brejos intransponíveis, numa vasta região Sapucaí abaixo.

Antônio Manoel da Fonseca deu ordem ao bando que parasse. Ele e seu pai aproveitavam o sol para seguir até o ribeirão do Mosquito que, pelo visto, não deveria estar longe dali. Enquanto os escravos levantavam duas coberturas entre as árvores, com folhas de palmeiras, as escravas preparavam a alimentação da tarde.

Foi ali, entre os ribeirões do Vintém e do Mosquito, entre pirizais e alagadiços, que se levantou a primitiva capela de Santa Rita de Cássia e que o grupo escolheu para ficar. 

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