segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A grande saga da Associação José do Patrocínio

Bloco Mimosas Cravinas.

Cada uma das estrelas que vemos no céu, representa um sol como o nosso. Em torno de cada uma dessas estrelas, existem diversos planetas. Se pararmos para pensar que existem infinitas estrelas no universo, teremos uma pequena noção do quanto somos pequenos e simples. Há bem pouco tempo, éramos ainda menores do que somos hoje. Nossa falta de esclarecimento a respeito da vida, fazia com que procurássemos nos impor sobre as outras pessoas, criando diferenciações insignificantes. Até o final da primeira metade do século XX, algumas pessoas eram perseguidas por terem nascido em um determinado local do mundo, perseguidas pela maneira como encaravam a vida e até mesmo pela pigmentação de suas peles. Parece inacreditável que uma pessoa possa se considerar melhor do que a outra por motivos tão pequenos, não é verdade? Mas é o que acontecia. Em nossa cidade, por exemplo, cidadãos afro-descendentes eram impedidos de frequentar clubes ou de terem uma vida social por essa simples visão limitada da sociedade da época. O mesmo acontecia em relação aos blocos carnavalescos, tão admirados até os dias de hoje. Dentro desse contexto, Sinhá Moreira, uma mulher que vivia décadas à frente de sua época, percebeu tal equívoco e, amparada por cidadãos ilustres, ajudou a sociedade negra da época a criar um clube social formado por homens e mulheres de bem, que faziam daquela agremiação uma oportunidade de terem momentos agradáveis e de participarem de discussões edificantes em torno daquela realidade que precisava ser modificada. Ela sabia que a humanidade já estava mais do que na hora de curar aquela verdadeira miopia social. Desta forma, foi criada a “Associação José do Patrocínio”, em homenagem ao grande guerreiro pelas causas abolicionistas. Uma sociedade recreativa altamente politizada que tinha como objetivo promover a liberdade, a igualdade e a fraternidade entre os homens. 
Sinhá Moreira, Maria Bonita, Carlos Lacerda, Dalila e Magalhães Pinto, na Associação José do Patrocínio.
Dentro desse contexto, Maria Idalina de Jesus, também conhecida como Maria Bonita, teve um papel fundamental na defesa da igualdade entre os irmãos santa-ritenses. Com passe livre em todos os segmentos sociais da época, essa mulher iluminada promoveu o esclarecimento social na cidade com muita brandura, docilidade e caráter. Junto com grandes lideranças negras da época, ela tornou-se um ícone de nosso passado e um reflexo às futuras gerações.

Com o início dos trabalhos na associação, grandes eventos eram realizados no prédio construído à Rua Joaquim Inácio. Durante décadas, a associação foi palco de muitas peças teatrais, apresentações de danças africanas e de um dos mais concorridos bailes do dia 13 de maio na região.

Tuca conta que, durante os bailes, os pares dançavam mantendo uma distância considerável entre o casal, sob pena de receberem um puxão de orelha de Maria Bonita que zelava muito pelo respeito nas festas. “Se ela ou Joaquim Flauzino visse os casais dançando a uma distância inferior a um palmo entre eles, eram convidados a deixarem o recinto.”, conta.
Quadros que sobraram nas paredes da Associação.
Mimosas Cravinas

Em tempos de carnaval, desfilava por nossas ruas o saudoso bloco que deu origem à associação, conhecido como “Mimosas Cravinas”, que tinha a própria Maria Bonita à frente, carregando seu portentoso estandarte. O bloco de carnaval criado nos meados da década de 20, não se limitou somente aos desfiles de carnaval e foi o pilar desta associação que tantas alegrias trouxe à população de Santa Rita do Sapucaí.
Conquistas do passado.
O hino do bloco

Quando lemos com um pouco de atenção um trecho do hino do bloco, podemos perceber que o sentimento daquelas pessoas era de semear a alegria e a fraternidade entres nossos conterrâneos.

“Lindas Mimosas
Procurando triunfar
vem convidar todo mundo
Para tomar parte
Desse carnaval.

Convidei Ride Palhaço
Democráticos também
Convidei o tira-teima, 
O furacão e mais alguém!”
Conquistas do passado.
O sonho de Maria Bonita

José Margarido relatou com grande emoção que, oito dias antes de ela falecer, encontrou-se com ele e falou: “Quita, tome conta daquele salão pra mim. Não deixe o sonho acabar. Aquilo é a nossa vida.”
Senhor José Pequeno, já falecido.
Como anda a Associação, hoje

Hoje, essas diferenciações quase já não existem. Entretanto, uma vez superadas tais limitações, a “Associação”, atualmente inativa por falta de incentivo, pretende manter os ideais de seu fundadores, promovendo a inclusão social dos menos favorecidos. Desta forma, sua atual diretora, Maria Tereza Alves, pretende fazer com que a agremiação volte a funcionar, com o objetivo de oferecer o acesso dos menos favorecidos ao entretenimento, à cultura e aos debates sociais. Em visita à sede da associação, notamos que o prédio precisa urgentemente de reforma, uma vez que a estrutura está seriamente comprometida e incapaz de sediar qualquer evento. Fica aqui o apelo às autoridades e também a recomendação para que este sonho continue vivo nos corações dos responsáveis pela querida “Associação José do Patrocínio”.

Oferecimento: Pizzaria Italiana

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