sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Próxima parada, Porto Sapucaí.

 O Bairro Porto Sapucaí está localizado na divisa entre Pouso Alegre e Santa Rita do Sapucaí, no Km 116 da BR-459, que faz a ligação entre as cidades de Poços de Caldas - MG e Lorena - SP.
Sinalização da antiga plataforma do Porto Sapucaí. Patrimônio demolido para a construção de uma obra que nunca aconteceu.
O caminho do Rio Sapucaí

Durante o século XIX, o caminho entre Pouso Alegre e Santa Rita do Sapucaí foi feito através de estradas formadas pelos tropeiros. Como consta no livro de Ana Beraldo, este movimento persistiu até por volta de 1892 quando surgiram os primeiros barcos a vapor no Rio Sapucaí. As balsas eram impelidas por varas grandes que deslizavam pelo rio, e transportavam desde cargas a passageiros. Esta navegação proporcionou grandes benefícios para a agricultura cafeeira da região e para o comércio das localidades ribeirinhas. Mas somente em 1910 surgiu à navegação comercial chamada “Navegação Fluvial do Sapucay”, sendo que, naquela época, estava subsidiada pelo Estado. O trajeto feito pelas embarcações no rio partia do Porto Cubatão entre Cordislândia – MG, Paraguaçu-MG, chegando até o bairro rural Porto Sapucaí, próximo à cidade de Santa Rita do Sapucaí-MG. A navegação feita pelo rio, através destas balsas, persistiu até os meados do ano de 1934. Na década de 1980 o rio sofreu um grande corte em seu trajeto, como forma de diminuir a proporção das enchentes, sem nenhum planejamento de impacto ambiental, o que provocou uma forte decaída no número de peixes no rio Sapucaí.
Barco que navegava no rio Sapucaí, em 1934
O trajeto da linha férrea, privilegia o percurso entre Pouso Alegre e Santa Rita do Sapucaí:

Em 1910 uns dos maiores proprietários de terras do bairro Porto Sapucaí, Francisco Balbino Pereira (1846-1927) doou um terreno de cerca de um alqueire, para a Rede Sul-Mineira, para que esta pudesse construir uma estação de trem e casas para os seus funcionários. Atrás da recém construída estação, se encontrava o porto fluvial nas margens do rio Sapucaí e, à frente da estação, no pé do morro, havia uma Casa de Máquinas, de onde se descascava arroz e café. Durante décadas o local foi muito movimentado devido às duas paradas, a fluvial e a férrea. Além dos ambulantes que vendiam desde comida a bugigangas, havia os carregadores de bagagens, como o senhor Máximo Carline, que carregava as malas do vapor para o trem e vice-versa, conseguindo assim algum dinheiro. Porém, na década de 1950, foi construída a BR 459, o que provocou uma grande queda no número de passageiros para o trem, pois muitos passaram a viajar de ônibus, por ser mais rápido. Em 1971 a RFFSA começou a administrar os trens e, já no final dos anos de 1970, o trem de passageiros parou de circular. Por volta de 1990, retiraram os trilhos. Nesta mesma época a prefeitura de Santa Rita do Sapucaí compareceu ao local com o intuito de construir um centro de recreação para os moradores, e acabou demolindo a estação de trem. Segundo o morador José Nazaré Filho “a prefeitura precisou amarrar um trator na estação para conseguir derrubá-la”, mesmo com as madeiras do telhado podres”.
 
 O morador Jesus, recorda-se da época da demolição da estação:

“A prefeitura de Santa Rita do Sapucaí-MG tinha um projeto de construir uma praça com quadra de esportes para os moradores do bairro. Já tinham até colocado alguns troncos de eucalipto para construir umas cabanas, mas o terreno da estação não pertence à prefeitura. Com isso, o Governo Federal embargou a obra. Antes mesmo que os representantes do governo e da empresa chegassem para  embargar a obra, a prefeitura da cidade demoliu a estação de trem. A estação estava em ótimas condições físicas, somente o madeiramento do telhado e do assoalho precisavam de reparos...”

A plataforma demolida da estação do Porto Sapucaí.
Moradores atuais

O morador mais antigo do bairro Porto Sapucaí é o senhor José Nazaré Filho, 77 anos, conhecido como “Seu Neto”, que está neste bairro desde a década de 1950. Atualmente, possui alguns alqueires de terra no Porto Sapucaí e em outros bairros vizinhos, sendo que mora na antiga “Venda” do bairro.

As casas da RFFSA são habitadas, desde os anos de 1980, por algumas famílias. Segundo os próprios moradores, fiscais da RFFSA sempre vistoriam os terrenos da empresa, para se evitar que novas invasões ocorram e que os posseiros modifiquem as casas sem autorização prévia da RFFSA. Uma das únicas casas mais antigas do bairro é habitada pelo morador Jesus que, aliás, também é primo do Seu Neto. Jesus comprou a casa do antigo e falecido chefe da estação de trem, na segunda metade década de 1970, mudando-se, definitivamente, nos idos de 1980. Existe cerca de uma dúzia de casas a mais ao longo do caminho do trem no bairro, e seus moradores, em sua maioria, são descendentes de antigos funcionários da ferrovia, como a moradora Elza, nascida no bairro. Elza assim relatou: “Quando chegam moradores novos, e percebem que no local não se tem trabalho nenhum, são obrigados a irem embora por falta de renda. Os moradores do bairro, em sua maioria, ou são aposentados ou trabalham em Santa Rita do Sapucaí e Pouso Alegre. Isso acontece porque os poucos fazendeiros do bairro e redondezas não dão mais empregos para os moradores. Ao ser questionada: “Se a ferrovia tivesse continuado a funcionar, o bairro teria desenvolvido mais?”, Elza responde com certo desânimo que acreditava que não, pois o bairro, na época da privatização, já estava em decadência.
Por Gustavo Soares Ferreira Novo.

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