segunda-feira, 5 de março de 2012

Botelho, o último alfaiate de Santa Rita do Sapucaí

Em meio à alta tecnologia desenvolvida pelas empresas e instituições de ensino na cidade de Santa Rita do  Sapucaí, as modernas fachadas se misturam aos antigos casarões e o comércio preserva ainda alguns profissionais do passado, como Antônio Diogo Botelho: o único alfaiate da cidade que ainda atua na profissão. Conheça agora um pouco de sua vida através da reportagem de Marina Aro.
Embora afirme que suas vendas cairam muito com o tempo, Botelho atua na confecção e conserto de roupas há 70 anos. Sua loja, a Alfaiataria São Benedito, mantêm o aspecto de um antiquário que contém, em cada instrumento ali guardado, um pouquinho de sua própria história. Entre máquinas de costura, tesouras, agulhas e linhas, Botelho conta sua trajetória como alfaiate sem perder a atenção no conserto que realiza em uma peça de roupa.

Com uma certa dificuldade para ouvir e para falar por causa de uma labirintite, o alfaiate com seus 88 anos de idade esbanja bom humor ao se referir à netinha de 10 anos, “menina muito esperta”, que ele gostaria que nos acompanhasse na conversa, porém se encontrava na escola.

Descendente de portugueses, Botelho nasceu na cidade de Jacutinga e veio morar em Santa Rita aos 7 anos de idade. Ingressou na profissão por uma casualidade, quando uma amiga da família o convidou para trabalhar numa alfaiataria militar, cujo dono era o italiano José Severino, pai da moça. Botelho relembra essa época ressaltando que confeccionava uniformes, fardas e quepes de ótima qualidade e não mal feitos como os de hoje em dia.
Em 1934, Botelho resolveu montar sua própria loja e. com mais 6 funcionários. passou a fabricar roupas masculinas e femininas, além de chapéus e boinas, que eram vendidos em alta escala na época. “Os ajudantes não davam conta do serviço”, afirma Botelho. As instalações da alfaiataria, hoje bem menores do que antes, comportam ainda os antigos utensílios desses anos de prosperidade. A placa com o nome da loja em letras garrafais e cor avermelhada fica escondida no fundo do cômodo, como se tudo ali fosse somente um conjunto de lembranças.

Botelho se entristece ao contar o motivo da decadência de sua loja. “As boutiques que vendem roupas de fábrica, mais baratas que as feitas manualmente, tomaram conta do comércio, a freguesia sumiu e eu continuei, mas hoje só faço consertos”, explica. No entanto, ele se conforma comentando que a alfaiataria é a única coisa que sabe fazer bem e conta que já se aventurou em outras profissões que não deram certo. Foi dono de bar, de granja mas somente como alfaiate se sente realizado.

Na tentativa de melhorar as vendas, a alfai-ataria chegou a ser transferida durante um ano para a cidade de Pouso Alegre, porém, nem a mudança fez com que o negócio progredisse. Há 40 anos, Botelho passou a trabalhar sozinho e a realizar somente reparos em roupas.

  O Alfaiate conta ainda com a preferência de alguns antigos clientes que, igualmente a ele, optam pelo trabalho manual por acharem mais cuidadoso e bonito. Talvez seja pela tradição e amizade que os clientes prefiram confiar nas mãos habilidosas do Sr. Botelho.
A renda adquirida na confecção e conserto de roupas sempre foi suficiente para sustentar o alfaiate e sua família e, quando o assunto é o número de filhos, Botelho sorri e comenta que “pelo que sabe” são 12: 9 com a primeira mulher e 3 com a segunda.

Sua loja fica hoje localizada à Rua Francisco Palma, no centro de Santa Rita do Sapucaí. Ao passar pela rua, é difícil não perceber o cômodo com a fachada marcada pelo tempo onde pode-se ler “Alfaiataria”, palavra que acompanha o simpático Sr. Botelho por toda sua vida. Ao falar sobre a idade, o alfaiate brinca com um ar de satisfação: “88 anos, já estou passando da hora” e assim ele segue resistindo ao tempo e fazendo-se notar pela sua persistência em sua antiga profissão.

Oferecimento:

Um comentário:

  1. Daniela Gaudino Palma7 de março de 2012 às 09:35

    O Sr. Botelho já se tornou um "Patrimônio da cidade de Santa Rita."Muito bem lembrado.

    ResponderExcluir