quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Quando Roque Júnior estava a um passo de se tornar imortal

A edição de abril de 2002 da Revista Placar trazia um momento interessante na vida do Santa-ritense Roque Júnior. Ele já havia saído de Santa Rita para tentar a vida como jogador de futebol, atuava como um respeitado zagueiro do Palmeiras, onde conquistou diversos títulos, mas estava prestes a conquistar um sonho que iria marcá-lo pelo resto de sua vida: ganhar uma Copa do Mundo. Alguns meses depois daquela matéria, ele não seria apenas um jogador profissional de futebol, o que já era um grande feito. Ele seria imortal. Veja, a seguir, como foi um dos momentos mais decisivos na vida de nosso ilustre conterrâneo.
Roque, o sonhador

A bola foi levantada na área. A torcida vaiava o técnico Leão e a seleção brasileira. Bandeiras foram atiradas a rodo na pista de atletismo do Morumbi. O time não conseguia marcar um único gol nos colombianos, num daqueles jogos de seis pontos pelas eliminatórias. Já nos descontos, um zagueiro entrou no meio do bolo e fez de cabeça o gol da vitória. “Foi um momento importante, tanto para mim quanto para a Seleção naquela altura. Um jogador sonha em viver um momento como esse. Vai ficar guardado para sempre.” E Roque Júnior sonhava com mais, muito mais. 

Muita coisa mudou desde que mais um Júnior se profissionalizou no São José, 1994. No ano seguinte, foi jogar no Palmeiras e, como não tinha espaço no Clube, logo virou o Júnior 2º. Ou seja, aos 19 anos, nem mesmo o mais importante Júnior do Palmeiras ele era. Apenas o “segundo”.

A história começou a mudar quando Luiz Felipe Scolari assumiu o comando do time. O treinador gostou da sua habilidade, deu-lhe mais espaço e cobrou algumas mudanças de atitude. “Ele é um zagueiro muito técnico, mas tem que aprender a eficiência de dar umas trombadas. Precisa aprender a ser um pouco mau também.” - disse o treinador, ao seu estilo, logo depois de sua chegada ao Palestra Itália.

“Todo treinador passa muito conhecimento. É necessário aprender com isso e ver como serve para você. O mais importante para mim foi eu ter tido a oportunidade de fazer uma série de jogos, o que me deu tempo para pegar o ritmo do profissional no início da carreira.”
Júnior 2º conquistou a confiança do treinador, tornou-se um líder dentro do campo e até ganhou um nome de titular. Nada de “segundo”. Passou a ser o “Roque Júnior”, nome duplo, como virou moda no Brasil nos últimos tempos.

Foram três anos jogando sob a batuta do Felipão, em um período de títulos importantes. Ganhou uma Taça Libertadores, uma Copa Mercosul, uma Copa do Brasil, um Campeonato Paulista e um Torneio Rio-São Paulo.

Passou a ser respeitado, virou referência para os companheiros e para a torcida. Nos momentos de tensão, assumiu responsabilidades, como não fugir das disputas por pênaltis. Nada de “se precisar, eu bato”.  Estava sempre presente, para o bem e para o mal. Na Libertadores 2000, fez o seu na disputa contra o Corinthians e descarregou sua tensão dando um bico na placa de publicidade, tão forte que seu pé a furou e ficou preso. 

Não se importou. Estava feliz, pois iria disputar a segunda final seguida da Libertadores. Na final também não se omitiu mas, contra o Boca, não teve o que comemorar, pois perdeu sua cobrança, e o Palmeiras, o Campeonato. 

Continuou realizando sonhos.Disse que sempre pensou em jogar em um clube grande, em chegar à Seleção Brasileira e disputar a Copa do Mundo. Não que Wanderlei Luxemburgo não tenha apostado na sua habilidade durante as eliminatórias. Mas Roque acabou cortado quatro vezes, sempre por estar contundido, uma fase que, garante, havia ficado para trás.

A tranquilidade era tamanha, que podia se dedicar a outra atividade que aprecia bastante: a leitura. Naquele momento, dizia estar devorando uma biografia do líder negro Malcolm X. Detalhe: em italiano, a mesma língua em que ouviu muitos cantos racistas desde que chegou ao Europeu. Mas isso também não o perturba. “Quando fui jogar em Verona isso ficou mais evidente. Gritavam todas as vezes que eu pegava na bola, mas isso só aconteceu dentro do estádio. Do lado de fora eu nunca tive problema.”

Enquanto preparava-se para disputar a Copa com o respaldo total do treinador, ele apostava nos problemas vividos pela Seleção durante as Eliminatórias para conseguir o pentacampeonato. “Passamos por momentos difíceis, sofremos bastante, mas isso acabou criando uma união muito grande no grupo, com todos se ajudando muito, dentro e fora do campo.” - disse, com conhecimento de causa. E não há nada melhor em uma Copa do Mundo do que os jogadores estarem unidos. “Quero deixar meu nome marcado no futebol com a participação em algo tão bom.” Não custa sonhar, Roque.

 (Retirado da Revista Placar)

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Um comentário:

  1. Eu estava neste jogo no Morumbi, com uns amigos de Pouso Alegre, e como não podia deixar de ser, sempre rolava uma brincadeira entre Santa Rita e Pouso Alegre, eu brincando com eles por Pouso Alegre não ter um jogador na seleção Brasileira, eles brincando, falando que iamos perder com gol contra do Roque Junior. E para coroar a brincadeira o Roque Junior fez o gol da Vitória... até hoje qdo encontre meus amigos desta empreitada, não deixo passar, e já pergunto de cara, Tem algum Pouso Alegrense na seleção Brasileira?? Pouso Alegre tem algum jogador campeão mundial pela seleção Brasileira??
    Como dizem por ai, a zoeira não para... :) e até hoje quando encontro com estes amigos, damos boas risadas lembrando desta história.

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