quinta-feira, 29 de maio de 2014

Reminiscências da Praça Santa Rita (Por Rita Seda)

Os que nasceram nas últimas décadas andam reclamando das muitas mudanças em nossa cidade. Não gostam do que estão vendo. Como será que as vê quem vem de muitas décadas, sempre residiu aqui, e acompanhou as transformações pelas quais  passou? Conto alguns fatos, mas deixo bem claro que os mesmos não me abalam, pois o progresso transforma mesmo, queiramos ou não, gostemos ou não. 
Cada tempo tem o seu jeito de ser. A nossa praça era pequena, um jardim bem cuidado, com buxinhos (aquela planta que plantaram em frente da Caixa Econômica) plantados em formação, como soldados, cortados baixinho, fazendo uma divisão da calçada interna do jardim e da calçada externa. Nessa calçada interna, a moçada fazia seu footing. Os homens andavam em uma direção e as mulheres na outra. Assim se dava o flerte, que era simplesmente “um olhar mais demorado, interessado”... Quantos namoros começaram ali! Na calçada externa formavam-se grupinhos de pessoas, (muitas vezes os pais, de olho em suas meninas), e havia os que preferiam caminhar  ali. Ainda existiam as famosas e polêmicas 4 casas, com seus janelões, constantemente ocupados por olhares curiosos. No prédio do cinema, havia um serviço de alto-falante que funcionava  até o começo da exibição do filme. Além de fazer propagandas das casas comerciais, tocava músicas, assim como faz hoje o programa da Katia Kersul, mas sempre oferecidas por namorados ou interessados em começar um romance! Músicas de filmes, boleros,  foxtrot’s, tangos argentinos,  sambas e chorinhos,  faziam a delícia das mocinhas, que, naquele tempo, não tinham a afoiteza de fazer o oferecimento: uma proeza impossível para os costumes interioranos. O jardim da praça era muito bem iluminado, não tinha árvores frondosas como as de agora, provocando escurinhos, não... Após as 8 horas, o silêncio só era interrompido pelas conversas de grupos maiores.  Quase todos iam para o cinema. Barulho de carros? Se tinha uma dúzia na cidade, era o bastante... Moto? Só a do Sr. Zé da Silva, e ele, parece que  à noite, só saía de carro. Comprava-se umas balas, chicletes, cigarrinhos de chocolate ou picolé no Bar do Sr. Júlio e o footing ia se acabando. Às 9 horas, a praça se esvaziava da juventude, especialmente a feminina. Era o nosso passatempo, noite após noite. A gente só  deixava de ir se chovesse, na semana das provas ou se estava de castigo! E como ficava amuada... Nós Acompanhamos o crescer da praça, uns monumentos retirados, outros colocados, uma nova fonte (graças a Deus que se manteve a que já existia), o cinema não tem mais projeção de filmes e muito menos o serviço de alto-falante; as casas foram demolidas, apesar das reclamações em massa, a Igreja Matriz foi reformada e agora é Santuário. Para nós, mais idosos, triste mesmo foi o avanço dos costumes. Mas, quem é capaz de parar o tempo e sua mania de progresso e mudança?    

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