sexta-feira, 19 de julho de 2013

Cel Francisco Palma, a minha rua... Por Rita Seda

 
Antigamente, minha rua era pacata. À tarde, o pessoal sentava em cadeiras na frente das casas e punha a conversa em dia. Havia serenatas nas noites de lua cheia e os namorados passeavam livremente pelas calçadas, enquanto a criançada brincava de pique, de roda, de passa-anel, de amarelinha ou de gude. As mocinhas gostavam de sentar nas portas das casas para conversar e ver estrelas. As portas davam para a rua...As janelas não tinham grade. Era uma rua pacata, mas impregnada de vida, de amizade, de alegria.Nela, nasci e vivi sempre. Assisti à sua mudança... E quanta mudança! A maioria das minhas recordações estão ligadas a esta rua. Do lado em que fica minha casa, só tem dois quarteirões. E, no meio deles, uma esquina que cruza com a Rua Cel Joaquim Inácio. Ah! O nome da minha rua é Cel Francisco Palma. Ali, naquela esquina, batia o coração das duas ruas... Eram quatro pontos inesquecíveis. De um lado, no lado da minha casa, um bar. Pertencia ao Sr. Augusto Rafael de Souza, pai do Sr. Nivaldo, o Didi, (que continuou o trabalho do pai por muitos anos), e pai, também, do Renato, grande amigo e companheiro vicentino. Aquele que trabalhava na farmácia do Sr. Anardino e que entende tão bem da arte farmacêutica. Do tempo do pai, embora sendo amiga de sua esposa, dona Zina, não me lembro muito bem, mas no tempo do Didi, sei que era um ponto de encontro de amigos, ambiente familiar, onde todos eram atendidos com a máxima cortesia. Que saudade! Nunca antes, houve em Santa Rita sorvetes artesanais de igual qualidade. Eram caprichados. Ficaram famosos. O picolé de limão reinava absoluto. Do mesmo lado da rua, na outra esquina, era uma farmácia. Seu Tonico, esposo de dona Ritinha Marins, era o farmacêutico. Uma casa pequena, de alpendre e com minúsculo jardim. Os medicamentos ficavam na salinha da frente. Uma escadinha levava à outra sala, onde era o laboratório, local de curativos e de injeções. Ele manipulava uns remédios numa cápsula enorme que a gente tinha que engolir na marra! Quase toda tarde, sua filha Neusa tocava valsas ao piano, na sala de visitas da casa. Gostava de ouvir! Eles tinham uma empregada, irmã do Antônio e do Paulo Tobias, grande amiga e companheira das minhas irmãs. Sua vida foi servir, com fidelidade, a essa família. Dona Ritinha era professora no “Grupão”. Do outro lado da rua ficava a Padaria Central. Pelo menos, de um nome de estabelecimento eu me lembrei...pertencia ao avô do José Carlos, do Cassinho e do Vaguinho. Seu nome era Francisco Resch, um alemão exímio na arte da padaria e da confeitaria. O que eu mais gostava das delícias que ele fazia era a bolacha margarida. Vivo com seu gosto presente na memória. Era redonda, grande, amarela e perfumada, toda rachadinha, como se tivesse sido craquelada pelo seu Chico... A esposa se chamava Ella, apelidada Lola. Tinha os filhos Carlito, que também foi um ótimo padeiro, era casado com minha amiga Carminha e passou o ofício aos filhos: Roberto, Pai do Chicão; uma filha chamada Elza e o último, de cujo nome não me lembro, era apelidado Picolé. Por fim, do outro lado da rua, a marcenaria do Sr. Herculano Silva. Que cheirinho mais gostoso exalava naquele rústico lugar, cheio de máquinas enormes e de madeiras de todo tipo!  Hoje tomou seu lugar a  loja Olhaki. Meu Deus, como eu dava trabalho àquele santo  homem! Precisava de ripas para colocar nos cartazes da escola, corria a pedir-lhe. Quebrava uma cadeira, mesa ou outro móvel, corria a ele. No tempo de natal quem me fornecia a serragem para o presépio? Não podia ser outro...Tenho as melhores lembranças daquele homem bom que foi tão paciente comigo. Era costume da rua: os pais eram pais de todas as crianças que por aqui moravam. A estes donos do miolinho da minha  rua, figuras simpáticas e queridas, que já se foram do nosso convívio há tanto tempo, sempre dei e dou  grande valor. Povoaram a minha história de delicadezas, simpatias e coisas boas. Hoje, rezo por eles, numa forma de reconhecimento, de amor e de saudade. Se todos fossem iguais a vocês...

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