quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Quando tentaram roubar a Santa (Por Ivon Luiz Pinto)

As duas cidades estão ligadas historicamente. Uma nasceu da outra e, portanto, são: mãe, Delfim Moreira e, filha, Itajubá. A filha cresceu, prosperou e ficou rica, mas a mãe está acanhada lá no alto da serra. Houve época em que elas se estranharam, tudo por causa da Santa. Foi assim..
Em 1703 Miguel Garcia Velho descobriu ouro nas proximidades da cachoeira de Itagiba dando origem ao povoado de Descoberto de Itagiba que, depois, quando foi entronizada  a imagem de Nossa Senhora da Soledade como sua padroeira, tornou-se Soledade de Itajubá. Em 1752, foi-lhe concedida a prerrogativa do altar portátil e celebrada a primeira missa, sendo seu cura o Pe. Antonio da Silveira Cardoso e Silva. Em 1762, foi elevada a Freguesia sendo seu cura o Pe. Floriano da Silva Toledo.

Quando, em 1818, chegou o Pe. Lourenço da Costa Moreira, a situação se modificou e surgiu uma crise entre os fiéis. Não gostando da Paróquia e atribuindo-lhe muitos defeitos, o novo  sacerdote instigou o povo a abandonar o local e descer para o Sapucaí. Guido Gilberto do Nascimento relatou que cerca de oitenta homens aquiesceram à convocação do senhor vigário e, na manhã de 18 de março de 1819, após missa com orações e súplicas ao céu pelo bom êxito da jornada, eles partiram para as bandas do Sapucaí. O Padre vigário, que era coxo, foi a cavalo e no dia seguinte, 19 de março, celebraram a chegada ao novo lar. Era o início de uma povoação que se transformaria na atual cidade de Itajubá. Pe. Lourenço deixou a freguesia ou Capela Velha de Soledade de Itajubá, sem assistência e ainda lhe fazia inú-meras críticas dizendo que não tinha mais recursos, deplorando sua topografia, clima e isolamento. O Padre gozava de prestígio nos meios políticos e, graças a essa influência, conseguiu pelo Decreto de 8 de novembro de 1831 suprimir a freguesia de Soledade de Itajubá, rebaixando-a a simples curato. O Decreto foi assinado pelo Padre Diogo Antonio Feijó, Ministro e Secretário d´Estado do Interior e Justiça da Regência Trina. Em princípio de agosto desse ano Padre Lourenço, acompanhado de muitos fiéis da  Boa Vista do Sapucaí, rumou serra acima para a velha localidade com a finalidade de buscar o livro do Tombo, as alfaias, a Fazenda e os santos pertencentes à Paróquia. Na época, chamava-se de Fazenda a parte administrativa eclesiástica responsável  pela área econômica e financeira da igreja.  Tal qual temos, em semelhança, o Ministério da Fazenda. Ela era também o cofre e o caixa da Paróquia.

Os delfinenses souberam da expedição e se prepararam para receber “o Aleijado”, como o apelidaram, e sua turma. Nas proximidades da Velha Capela, o Pe. Lourenço, todo paramentado, organizou uma procissão com  os homens vestindo opas e tochas e as mulheres de véus e velas acesas. Rezando e cantando loas eles caminharam pela velha estrada. Quando a procissão chegou ao pontilhão do rio Taboão, no início da povoação, foram surpreendidos por homens  armados de foices, facões, espingardas e dispostos a não permitir a entrada. Ninguém, mas ninguém mesmo, iria levar a santinha, custasse o que custasse. De um lado da ponte estavam os defensores da Santa e, no lado oposto, estavam os invasores com o padre e comitiva. De repente, no auge da discussão, um tiro espocou, para o alto. Alguém, depois, asseverou que não foi tiro, foi um foguete.  Foi o suficiente para debandar a procissão e pôr o pessoal todo a correr desorientado para suas montarias e voltar para o Sapucaí. Em pânico, nem se lembraram das alfaias, do Livro de Tombo, santos, castiçais, Fazenda e sinos. Humilhado o Padre Lourenço jurou que iria fazer a completa extinção da Velha Freguesia. Coisa que nunca ocorreu.

Em  30 de novembro de 1842, a Lei Provincial nº 239,pelo seu Art. 2, devolveu a condição de Freguesia para Soledade de Itajubá.

Oferecimento:

Nenhum comentário:

Postar um comentário