quarta-feira, 15 de agosto de 2012

As aventuras do estudante Jorge Sumita


Desde que me conheço por gente, ouço histórias sobre um estudante sem juízo que havia morado em Santa Rita, enquanto estudava no Inatel. A casa que alugava da minha avó, ficava em um sobrado no alto da Rua Antônio Moreira, mais precisamente na casa onde eu nasci. Outro dia, enquanto mexia nas gavetas, encontrei uma pequena caixinha de música com inscrições em japonês e soube que havia sido esquecida por ele, quando se mudou dali. A pequena engrenagem já não funcionava, mas, ao abrir sua tampinha metálica, foi possível ver a foto de um homem oriental que, possivelmente, era o pai do rapaz. Nesse momento, tive a ideia de retirar a fotografia para saber se havia algo escrito em seu verso e acabei encontrando a foto de uma moça, também oriental, que devia ser sua mãe. Desde então, soube que estava diante de uma grande história e saí em busca de informações.
Suely, Reinaldo, Jayro e Jorge - Pedreira de Santa Rita do Sapucaí
Na década de 60, havia um forte bloqueio dos chamados “nativos” aos estudantes que chegavam para cursar ETE ou Inatel. O fato de aqueles forasteiros “roubarem” as namoradas dos santarritenses era motivo de muitas brigas e gerava um grande abismo entre ambas as partes. Como acontecia em todos os bairros, não era comum um estudante fazer amizade com os vizinhos da sua idade e, no “Morro do Zé da Silva”, isso não foi diferente.

Certo dia, Dona Lazinha costu-rava as disputadas colchas de tricô que confeccionava por encomenda quando foi surpreendida pelo toque da campainha. Ao atender à porta, foi surpreendida por um rapazinho japonês que havia visto o anúncio do aluguel de seu sobrado, ao lado de sua casa. Ele estava interessado em fechar negócio. Ao assinar os papéis, a dona de casa soube que se tratava de Jorge Hiroshi Sumita: um abastado estudante paranaense que acabava de chegar a Santa Rita para cursar o recém criado Inatel. Sua filha, Yvelise de Fátima, ainda se lembra da reação dos irmãos diante da “invasão de território” e como aquela situação se inverteu de uma hora para outra: “O Luiz Carlos e o Iran ficaram com muito ciúme quando ele se mudou para cá. Eles sempre diziam para eu tomar cuidado, mas acabaram fazendo uma amizade incrível com ele.” O fato é que o estudante era muito gente fina e não demorou para que conquistasse toda a vizinhança. Apesar de ser muito avançadinho para a época, logo ele se tornou íntimo da família e sempre ia às casas dos vizinhos, caso precisasse passar uma camisa, bater um rango fora de hora ou de qualquer outro favor.”

Quem conviveu com Jorge Sumita, nos tempos em que cursou o Inatel, não se esquece de suas loucuras. As maiores aconteceram a bordo de seu fusquinha azul calcinha. Um dos episódios mais comentados foi quando o rapaz realizou a façanha de capotá-lo dentro do Inatel. Wagner “Gaiola” Matragrano também se recorda das vezes em que viu o amigo passar por ele no banco do passageiro, sem ninguém ao volante: “Ele dirigia o fusca do lado direito para fingir que não havia motorista. Outra brincadeira que ele sempre fazia era ir até o cruzeiro, rodar o carro e piscar os faróis, para depois passar pela praça e dizer que havia visto disco voador. Ele era louco de tudo.”

Os mais chegados contam que, inversamente proporcional ao bom humor do japonês, era sua vontade de estudar. Sem querer nada com a dureza, era muito comum a molecada ligar uma sirene parecida com a da Estamparia, dentro do seu quarto, na tentativa de colocá-lo de pé. 

Cinco anos depois de sua vinda, Sumita foi surpreendido com a chegada de um luxuoso Impala à sua porta. Eram seus pais que chegaram para sua formatura, sem saber que ela aconteceria somente uma década após sua matrícula. Ansiosos para assistir à Colação de Grau do “novo engenheiro”, eles não conseguiram entrar no sobrado já que o rapaz mentiu que havia perdido a chave. Luiz Carlos, amigo e vizinho de Sumita, conta como foi que terminou esse episódio: “Quando eu soube que ele estava mentindo, pulei a janela e abri a porta por dentro. Ele ficou uma fera, mas teve que contar a verdade.”
Caixinha de música esquecida por Jorge Sumita.
Faltando alguns anos para terminar o curso, o japonês se mudou para uma casa próxima ao Inatel e a sua rua era a única que ainda não tinha nome nas redondezas. Como Sumita precisava se corresponder com a família, mas não sabia qual endereço colocar, decidiu produzir uma placa com o título “Rua Cel. Jorge Sumita” e afixou em um poste. Reza a lenda que, depois de muitos anos de se mudar dali, aquela rua ainda estava com o seu nome, até que alguém descobriu a brincadeira e trocou por uma placa oficial.

Ao se formar, Jorge Sumita continuou a vir para Santa Rita, junto com seus amigos Minguinho (Domingos), Jayro e Evaristo. No decorrer da semana, eles trabalhavam em São Paulo e moravam no edifício Copan. Às sexta-feiras, pegavam o rumo de Minas Gerais e vinham aprontando até chegarem à serrinha. Conta-se que um de seus passatempos favoritos era colocar uma iluminação policial no teto do carro e estacionar em locais onde havia muitas ultrapassagem para dar uma dura nos motoristas. 

Segundo lembrou sua amiga, Marines Shimitz, Sumita casou-se com uma japonesa, teve duas lindas filhas (que hoje moram em Londrina) e se mudou para o Japão. Mesmo sem dar notícias aos Santarritenses, uma moradora da cidade jura tê-lo visto em Santa Rita, há muito anos, com os cabelos pintados de louro e encaracolados. Através do contato de seu grande amigo Jayro Franco Longuinho, morador de Belo Horizonte, conseguimos uma fotografia e o email de Sumita, mas não obtivemos retorno de nosso contato. Em Santa Rita, todos aqueles que o conheceram ainda guardam suas histórias com carinho e esperam reencontrá-lo para matar saudade. A este estudante tão admirado, um abraço e o convite para que retorne em breve.

Oferecimento: Restaurante Hora Extra

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