quarta-feira, 18 de abril de 2012

Uma crônica do amigo Waldir de Luna Carneiro

Prezado Carlos Romero,

Estou lendo e me deliciando com o “Empório de Notícias”. A história do cinema me trouxe um montão de recordações. Me vejo assistindo “Anjos do Inferno”, filme de aviação que nos ele-trizava, “Rafles”, com Donald Colman, “Sem novidades no front” e “Topaze”, com John Barrymore. A crônica que envio está no livro “Pequenos milagres e outras histórias”, página 38, edição da PUC MG e do “Grupo Galpão”, Belo Horizonte, em 2007. A cidade mencionada é Santa Rita do Sapucaí.


Mãe coragem

Não se trata aqui da famosa peça de Bertold Bretch, mas de uma corajosa mãe mineira, vendedora de frangos. 

Vitoriosa a revolução de 1930, prometeu Getúlio Vargas rápida normali-zação do regime constitucional, porém, não o fez, resultando um movimento armado de São Paulo, em 1932, que mobilizou forças de quase todo o país para contê-lo. Tropas paulistas chegaram a ocupar algumas cidades do sul de Minas onde, em uma delas, deu-se o seguinte:

Dona Ritinha, saindo de sua fazenda, vendia frangos todos os domingos na cidade, mas, naquele lúgubre agosto, muito apavorada, fugiu da soldadesca paulista. A senhorinha, teimosa, insistiu em vender seus frangos. Os filhos, sobrinho e netos bem que tentaram, por todos os meios, dissuadi-la, argumentando que a tropa revolucionária estaria assaltando, depredando e violentando, conforme acontece em todas as guerras. No entanto, a velhinha forte e rija, não se intimidou. Na sua idade ninguém a cobiçaria como mulher. E lá se foi, descendo para a cidade ocupada, carregando sua vara de frangos. Numa das ruas, quase toda a companhia se enfileirara, aguardando revista. Vozes de comando soavam, calcanhares se chocavam, armas eram apresentadas. Foi nesse exato momento que a velhinha fazendeira cumprimentou soldado por soldado: “Boa tarde! Boa tarde! Boa tarde!” Ela inclinava a cabeça e, com um simpático sorriso, os saudava como se todos aqueles jovens recrutas paulistas fossem seus netos. 

Pela tardinha, os parentes, aflitos e assustados, receberam Ritinha na porteira da fazenda, certos de que a haviam molestado e roubado seus frangos. Ela, dando boas risadas, explicou: “Me compraram tudo e pagaram dez vezes mais o valor de cada frango. Eta guerrinha boa!”

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