terça-feira, 17 de abril de 2012

Mocidade: La belle époque (por Haidée Cabral)

Um domingo, eu estava deitada na cama de pernas para o ar e Jura, indignada com a minha vida de solteira, falou: “Você já está formada, precisa sossegar e arrumar um rapaz firme e se casar.” E eu lhe respondi: “Ah... um tem dentes bonitos, mas não tem cabelos. Outro tem cabelos mas não tem dentes. Outro é inteligente mas é feio... Eu não consigo me decidir!”
Na minha época de moça, a moda era fazer o “footing” na praça da cidade, nos fins de semana. Os moços rodavam para um lado e as moças para o outro. Só se podia flertar, mas era bom, pois podíamos paquerar . vários rapazes sem que eles percebessem. Enquanto construíam o Clube Santarritense, fizeram um tablado na Praça Rui Barbosa para a realização das chamadas brincadeiras dançantes, organizadas com o intuito de angariar fundos para a construção. Havia sempre um pequeno conjunto para animar a festa e dançávamos muito. Ali, a paquera era ainda mais quente!
Ao término da construção da Sede do Clube, os bailes passaram a ser realizados domingo à tarde. Além das horas dançantes, havia bailes nas casas particulares, em geral em casas onde havia moças que tocavam piano. O pároco da época tinha um irmão que se apaixonou por mim. Eu e minhas amigas o chamávamos de “Grude” porque ele estava sempre por perto. Ele morava em Brazópolis, mas não saía de Santa Rita. Toda vez que vinha, ia até minha casa, pois era amigo do meu tio Vavá.

Apesar de sua insistência e de ser um rapaz educado e agradável, eu não tinha interesse pois ele tinha um grande nariz de tucano e eu não o achava bonito. Ele chegava tarde aos bailes, sempre me encontrava a dançar com outro, ficava de lado e aguardava que eu terminasse a dança para que pudesse dançar com ele ou acabava por ir embora “pisando duro” de tanta raiva. Sua insistência era tão grande que minha madrinha Luisinha falou:

- O irmão do padre gosta tanto da Haidée que a qualquer repique do sino ele já está aqui!
Eu namorava muito, dançava demais e aproveitava bastante a vida. Costumávamos ir a chácaras de amigas aos finais de semana e fazíamos passeios à pedreira e ao Cruzeiro. Uma vez, a Jurandy estava de férias com algumas amigas e inventaram de fazer um piquenique em Cachoeira de Minas. Estávamos com o ônibus lotado quando um rapaz muito bonito apareceu e pediu lugar para se acomodar. Como já não havia assentos, peguei a almofada do chofer, joguei no chão e o convidei a se sentar nos meus pés. Fomos conversando durante a viagem toda. Ao chegar ao local escolhido, minha irmã e suas amigas estenderam a toalha à beira do rio e arrumaram as guloseimas. Os rapazes apressaram-se para jogar futebol e fui assisti-los. O bonitão, no afã de me impressionar, deu um passe na bola e ela voou em cima da vasilha de macarrão! Ele não sabia o que fazer de tanta vergonha. Rimos bastante do acontecido e quebramos ainda mais o gelo entre nós. Depois do piquenique, fomos visitar a cidade, ele sempre ao meu lado. Entramos na igreja e nos deparamos com uma santa de cabelos verdadeiros. Ele, muito assustado, comentou:

- Nunca vi uma santa assim!

Achei estranho o seu comentário, mas não me importei. Só depois foi que eu descobri que o moço não era católico e sim protestante. Minha mãe não gostou da ideia do namoro, já que ela era muito católica, mas eu insisti porque ele era bonito. Seu pai era sócio de uma fábrica de latas na cidade, negócio muito próspero na época. A mãe, uma italiana de origem simples, queria sempre saber quem estava de namoro com seus filhos. Um dia, após uma partida de vôlei que fizemos na casa dele, meu pretendente foi lavar as mãos e me pediu que segurasse o cigarro.A mãe dele chegou na hora e me perguntou:

- Você fuma?
- Não! Estou apenas segurando o cigarro dele.
- Mas quem é você? E seus pais? Eu a conheço?
Como tal situação me aborreceu! Desde esse dia, tivemos a oposição das duas famílias, mas eu ainda insisti no namoro por algum tempo. Como boa moça de família que era, um dia eu me decepcionei com os modos avançados do rapaz e decidi dar fim à relação. Foi aí que descobri que ele estava de flerte com a mi-nha irmã, Cora, antes de me namorar.

Quando meu irmão mais velho, José Cabral, formou-se e veio de Belo Horizonte, as moças da sociedade organizaram um passeio a cavalo para o qual ninguém mais da família fora convidado. A moça mais bonita, pela qual meu irmão se interessou, foi a irmã do tal moço. Foi assim que, pela segunda vez, nossas famílias ficaram próximas. O flerte dos dois, no entanto, durou menos que o meu. Logo ele voltou a Belo Horizonte e nunca mais a viu.

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