quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O santarritense que casou Elis Regina

Doutor Cyro de Luna Dias foi um dos homens mais sábios e mais estimados que Santa Rita do Sapucaí já conheceu. Autor de grandes obras como “Crônica das Casas Demolidas”, “O Inquisidor e a Bruxa” e “Manuscritos do êxodo”, Cyro foi juiz por muitos anos e, no período em que viveu no Rio de Janeiro, realizou o casamento de  diversas celebridades, dentre elas, Elis Regina. Conheça agora uma de suas aventuras através de um texto retirado da obra “Furacão Elis” de Regina Echeverria.

Os noivos estavam bastante impacientes, porque nem o juiz nem alguns padrinhos chegavam. Já passava das quatro e meia. As mães dos noivos conversavam, sentadas num sofá de couro. Dona Ângela, mãe de Bôscoli, queixava-se de que a empregada havia estragado o vestido da recepção.

Elis e Bôscoli posam para os fotógrafos e cinegrafistas. Faltam cinco para as cinco. Um Ford verde, chapa 43741, chega à ladeira onde mora o casal. Um senhor de óculos desce, pelo lado direito, com uma capa preta na mão. Pela outra porta sai um homem forte, com uns livros debaixo do braço. “- É o juiz? - grita Elis. Os amigos já cantavam “tá chegando a hora, tá chegando a hora”. O juiz sobe os degraus da casa branca do casal, lá na avenida Niemeyer, e informa aos repórteres: “Cyro de Luna Dias, da 1.a zona do registro civil” e apresenta o escrivão, Antônio Carlos Faro, que, ao apertar a mão de Elis, afirma ser seu fã. “Bonito local. Gostei.” É o primeiro comentário do juiz, olhando para algumas peças da casa. Cerca de dois anos antes, o Dr. Cyro de Luna Dias casara Eva Tudor, e também a irmã de Bôscoli. Elis e Bôscoli estão impacientes. Os padrinhos não estavam todos lá. Paulo Garcez e Wanda Sá, os padrinhos de Bôscoli, já haviam chegado. Faltavam os casais Paulinho Machado de Carvalho e Marcos Lázaro, que chegariam depois. Elis chegou a pedir a Luiz Eça que se preparasse para substituir o “Dr. Paulinho”. Já iam dois minutos de ce-rimônia quando o escrivão Faro percebeu que não tinha vestido a capa preta. Veste-a depressa, nervoso, fazendo um olhar de desculpa ao juiz, que nada disse. O juiz diz algumas palavras. faz referência ao casamento da irmã de Bôscoli e deseja felicidades ao casal. - É com grande prazer que realizo este casamento. Sua figura, Dona Elis, traz juventude e alegria à casa da gente - conclui o juiz, antes de perguntar a Bôscoli se aceitava Elis como esposa. Quando os padrinhos começaram a assinar, Elis e Bôscoli brincaram: “Essa assinatura eu conheço”. “Eu dou os vales”, respondia Paulinho Machado. Alguns repórteres perguntaram ao juiz o número do casamento: “- 1241. Não é pra jogar no bicho, né? “- Enfim, sós - disse Bôscoli ao abraçar Paulinho.“ Uma taça de champanha é servida. Está terminada a cerimônia. “Faltava um minuto para as dezessete e vinte.” Na edição do dia seguinte, o Jornal da Tarde publica a descrição da ceia de casamento. Vale a pena a transcrição pela riqueza de detalhes e a perfeita reconstituição de época do repórter, anônimo nessa cobertura. “Na grande casa branca de três andares da Avenida Niemeyer havia cento e vinte convidados para a recepção. Foi uma festa em black-tie, onde só a ceia, servida por Mirtes Paranhos, custou oito milhões de cruzeiros antigos. Se não estivesse chovendo no Rio, a festa seria no solar, mas o tempo estava ruim, tiveram que transferi-la para o varandão, de onde se vê o mar. A luz era de velas, os candelabros arranjados com motivos de natal. As dificuldades de estacionamento de automóveis na avenida Niemeyer obrigaram alguns convidados a chegar antes das dez da noite para garantir um lugar para o carro. Três guardas, em traje de gala, deram serviço no local, para evitar congestionamentos. Mesmo assim, um táxi velho ficou retido várias horas em frente à casa, porque não podia fazer manobras para voltar. Os convidados foram chegando: Nelson Motta, Sílvio César, Roberto Menescal, Denner e a mulher, Marcos Lázaro, Paulinho Machado de Carvalho. Dorival Caymmi chegou por último. Tuca, a cantora, cumprimentou Denner com um abraço que assustou muita gente. Quase que ela derrubou o costureiro. Elis estava triste pela ausência de Pelé, Roberto Carlos, Chico Buarque, Vanderléia e Jair Rodrigues. Principalmente Jair Rodrigues. Logo ele, que era seu amigo de todas as horas.
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