quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Lafaiete Paduan e sua paixão pelo cobiçado Ford T

A grande paixão de Lafaiete Paduan veio da infância. Tudo começou na matinê do Cine Santa Rita. Em um dos episódios de “O gordo e o Magro” aparecia um Fordinho 1922 que acabou se tornando seu objeto de admiração. Naquele dia, ele jurou que ainda teria um modelo igual e, desde então, passou a frequentar as oficinas mecânicas da cidade, enquanto seus amigos jogavam bola no campinho.
Fixação pelo Ford T

Na juventude, Lafaiete montou diversos carros. Seu hobby era restaurar modelos clássicos com peças originais e vendê-los para colecionadores da região. Apesar de sentir grande satisfação pelo que fazia, o rapaz tinha plena certeza de que seu verdadeiro sonho era mesmo montar o cultuado Ford T. Para isso, percorria as oficinas da região em busca de peças e encontrou, em Brazópolis, na oficina do Senhor Orlando, não só alguns paralamas e chassis de que tanto precisava quanto uma informação ainda mais valiosa. Naquele local havia um freguês que ouviu toda a sua conversa e contou a ele que seu tio tinha um carro à venda.
A realização de um sonho

Assim que soube que havia um modelo à venda, Lafaiete tratou de correr à casa do vendedor. De fato, havia mesmo um Ford T no local. O carro estava há muitos anos guardado sobre cavaletes e a entrada da garagem nem existia mais. O rapaz até tremeu ao ver que o carro cobiçado desde a infância estava ali, quase que lacrado à sua espera. Depois de muito pechinchar, pagou 6 mil cruzeiros e voltou a Santa Rita para fretar um caminhão e trazer o veículo. O funcionário da Companhia Sul Mineira de Eletricidade conta que naquela noite não conseguiu dormir de tanta ansiedade. Ficava imaginando como faria para restaurar o veículo e deixá-lo novinho em folha. No dia seguinte, a grande dificuldade foi tirar o Ford de cima dos cavaletes. Tiveram que quebrar uma das paredes e cortar algumas goiabeiras que haviam crescido em torno da antiga garagem.
Será que funciona?

Ao chegar em Santa Rita, Lafaiete procurou o amigo Benedito Marques, dono de um desmanche de carros, que se dispôs a ajudá-lo a fazer o carro funcionar. No dia combinado, uma multidão se aglomerou para ver aquele Ford que estava parado há mais de 30 anos. Ao dar na partida, o susto foi tamanho que a molecada toda correu e a poeira que levantou na oficina cuidou de espantar os outros curiosos. O desafio seguinte foi aprender a dirigir aquele carro que não tinha avalavanca de câmbio. Era preciso entender como movimentar o veículo com três pedais e um acelerador manual.

Róssio eterniza o momento

Quando tomou coragem de passear com o carro pela primeira vez, uma criançada subiu junto no veículo e aquela cena chamou a atenção da cidade. Quando passaram em frente à casa do senhor Róssio De Marchi, o famoso fotógrafo pediu para imortalizar aquela inusitada cena. (Imagem acima)
As peças que faltavam

Nos meses seguintes, Lafaiete vasculhou as oficinas mecânicas da região e fez grandes amigos. Um deles, Gabrielzinho Morais, foi quem cantou a pedra: em Itajubá havia um antigo agente da Ford, dono de um barracão abarrotado de peças sem uso. Adriano Piazarolli era um homem muito reservado e não deixava ninguém adentrar seu barracão, mas se encantou com a admiração do santarritense com o modelo T e o presenteou com um manual do veículo e se dispôs a vender as peças que faltavam. A partir daquele dia, o Fordinho ganhou peças originais e se tornou uma verdadeira relíquia.
Passando nos cobres...

Como tudo que é bom dura pouco, ao terminar a restauração do veículo, Lafaiete devia até as calças. Era dívida que não acabava mais e só havia uma saída: vender o tão sonhado carrinho. Para isso, pediu a um conhecido que procurasse algum comprador em São Paulo em troca de 10% do valor que conseguissem. Uma semana depois de seu amigo rumar à pauliceia com algumas fotografias (rodapé), retornou com a notícia de que havia encontrado um entusiasmado comprador.

Viagem a São Paulo

A viagem para São Paulo foi inesquecível. Mal entraram na Dutra, gente de tudo que era canto começou a buzinar, abanar as mãos e chamar a atenção de Lafaiete. Todo mundo ficava admirado em ver um carro tão antigo na rodovia. Ao chegar na Avenida Rio Branco, repleta de carros importados, ninguém acreditava no que via. Os donos das concessionárias corriam para fora ao ver aquele Ford tão raro. Um deles não se conteve: pulou na frente do veículo e perguntou quanto o rapaz queria.
Chute por baixo...

Durante a negociação, Lafaiete ficou meio perdido. Depois de dois anos e meio restaurando o veículo, ele não tinha nem noção de quanto aquela joia valia. Chutou por alto: 150 mil cruzeiros. O homem pagou em di-nheiro. Sua decepção veio logo depois quando descobriu que havia um outro comprador que ofereceu 500 mil, enquanto saía da loja.

Paixão que não acaba

Nos anos seguintes, Lafaiete Paduan montou diversos carros, mas nenhum deles foi tão querido quanto seu primeiro Fordinho. Até hoje, o hobbista ainda recorda com emoção de um tempo em que a oficina era sua segunda casa e mata saudade das grandes amizades que construiu em nome de uma paixão inusitada. Mas, se algum dia, entre veículos modernosos e motocicletas, você notar um calhambeque brilhante, como se tivesse acabado de sair da fábrica, pode ser nosso amigo, com uma nova história para contar.

(Carlos Magno Romero Carneiro)
Oferecimento:

Um comentário:

  1. Toda paixão é válida. Principalmente quando ajuda a preservar a história...Parabéns, e não se esqueçam...dia 4 de março, domingo, teremos encontro de carros antigos em Pouso Alegre, e está previsto alguns Fordinhos...venha, na entrada da cidade, Av. Tuany Toledo....

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