segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Lamartine Babo e a música Ride Palhaço

Em janeiro de 1934, dia 28, estreava no Teatro Carlos Gomes a comédia carnavalesca de Marques Porto e Paulo Orlando, “Ri... de Palhaço”, com Sílvio Caldas cantando a marcha de Lamartine, que dá o título à peça, acompanhado pelo pianista Nonô, tio do cantor Ciro Monteiro. A 8 de novembro de 1933, Maria Reis havia gravado a marchinha que, lançada em janeiro de 1934, foi sucesso estrondoso no carnaval daquele ano.
Segundo relato do cantor Mário Reis, no momento em que ele e Lalá, a bordo do carro de Mário, passavam pela Casa da Moeda, próxima à praça da República, o compositor, contemplando as esculturas dos leões existentes defronte do prédio, cantarolou:

Eu sou o teu leão
trecho que foi substituído por
Eu sou
o teu pierrô
completando-se, em seguida, a letra e música da marchinha famosa.

Apesar da enorme repercussão popular da composição, no concurso realizado pela então Prefeitura do Distrito Federal, a música de Lamartine saiu derrotada pelo “Tipo7”, marcha de Nassara e Alberto Ribeiro, inspirada no mercado de café e, mais uma vez, de exaltação à mulher. Francisco Alves foi intérprete do “Tipo7”.

Os concursos de músicas carnavalescas eram sempre muito disputados e usavam-se inúmeras artimanhas para vencê-los. Mas, os compositores ambicionavam antes o prestígio popular do que o prêmio em si, insignificante e, na verdade, não tinham por objetivo prejudicar o colega e, sim, tornarem-se famosos. A “Briga” apresentava-se saudável e criativa. Nesse ambiente, decorreu o episódio de desclassificação da marcha “Maria Rosa “de Nassara, tida pelo juri como plágio de um trecho da opereta Rose Marie.

Imediatamente, Nassara, temeroso do prestígio popular crescente da música Ride Palhaço, tentou sua interdição junto aos jurados, sob a alegação de que a marcha era também um plágio. Atendido Nassara, saiu desclassificada a marcha de Lamartine Babo, tornando-se vitorioso o “Tipo 7”.

No momento em que os jurados proclamavam a vencedora, presente Chico Alves, o grande ídolo popular, com duas bandas tocando o “Tipo 7”, o povo que superlotava o campo do Vasco, em São Januário, entoava uma paródia de Ride Palhaço: “Um, dois, três, quatro, cinco, seis palhaços / mais um pierrô / uma colombina / e o Lamartine Babo / na esquina / agora, agora / outra vez!”Ato contínuo, carregando Lamartine nos braços, com lenços brancos nas mãos, a multidão cantava em delírio:

Ride Palhaço
(gargalhadas)
Eu sou
o teu pierrô
Colombina...
Colombina...
Reparte esse amor
metade pra mim
metade pra teu arlequim


A popularidade da marcha de Lalá era realmente tão grande que se podia ouvir pelas ruas da cidade o estri-brilho da música, cantado sob a forma de paródia gaiata, anunciando um analgésico muito conhecido na época: Untissal:

Ri... de palhaço
passa Untisal no braço
mas se a dor for profunda
passa Untisal na bunda

Durante muito tempo correra a notícia de que Lamartine estaria magoado com Nassara pelo que acontecera. Preocupado, tempos depois, Nassara fez o estribilho:

Cadência...
Nós cantamos com cadência
esta marcha triunfal!
Cadência dois a dois de braço dado
parecendo que é casal...
Eu não sei lá se é...
paz e harmonia!
Muita cadência, olé!!!
fazendo marcação com pé...


Ao terminar a letra, levou-a a Lamartine para que ele completasse a composição. Prontamente, Lalá botou a segunda parte:

Você vai na frente
de chapéu na mão
Eu fico por trás
aguentando o cordão!
Vão no meio os outros casais:
morenos e morenas divinais!


e fez a introdução, nascendo assim, “Cadência”, marcha lançada pela dupla, para o carnaval de 1936, gravada por Chico Alves. Como já acontecera antes com Linda Morena, a marcha Ride Palhaço foi sucesso até em Portugal, segundo notícia do Diário da Noite, de 3 de janeiro de 1935. Vinte e cinco anos depois de lançada a composição, em 1959, Lamartine, há muito tempo afastado da festa que tanto amou e engrandeceu, foi passar o carnaval na cidade mineira de Santa Rita do Sapucaí, onde recebeu grandes homenagens do Ride Clube, que mantinha o bloco carnavalesco Ride Palahaço, fundado em 1934, ano de lançamento da marcha. 

(Trecho da obra “Tra-la-lá” de Suetônio Soares Valença)

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