segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A inauguração do monumento ao presidente Delfim Moreira

O busto do presidente Delfim Moreira da Costa foi erigido em Santa Rita do Sapucaí, em frente à sua residência, através da colaboração de diversos moradores da cidade e de diversas câmaras municipais do país. Para isso, foi criada uma comissão executiva com o objetivo de arrecadar fundos, encomendar a obra e realizar o pagamento das parcelas. No dia 25 de fevereiro de 1923, foi concluída a execução da maquete que, após obter a avaliação do grupo, foi aprovada por unanimidade. Coube ao Deputado Federal Theodomiro Carneiro Santiago – delegado da comissão no Rio de Janeiro - autorizar que o escultor Antonino Mattos desse prosseguimento ao projeto.
Após a definição da data para a realização do evento, o presidente da comissão para execução da obra, Amphilóquio Campos do Amaral, determinou a distribuição dos convites às autoridades, prefeituras, câmaras municipais e colaboradores, além de solicitar ao governo de Minas Gerais um vagão especial para transporte gratuito das peças de bronze que fariam o trajeto da estação de Cruzeiro até a Afonso Penna (Santa Rita do Sapucaí.)
Todos os detalhes foram cuidadosamente arquitetados para que o evento fosse impecável. A cidade toda se mobilizou e os mais importantes nomes da época tomaram a dianteira do projeto para que a obra de Delfim Moreira fosse eternizada em praça pública. A atenção foi tamanha por parte de Theodomiro Santiago que, após a conclusão da escultura em gesso, o importante deputado fez questão de levá-la ao português Costa Motta Sobrinho, uma das maiores autoridades do país na execução de monumentos, para que fizesse uma avaliação dos resultados. Somente após o seu aval foi que a fundição em bronze teve início.
Faltando 5 dias para o tão esperado evento, a apreensão tomou conta da cidade como nunca havia acontecido antes. Todos queriam saber qual teria sido o resultado da aguardada escultura do homem mais importante que já passou por aqui. Para conter os nervos dos santarritenses, foi necessário que o escultor enviasse uma correspondência contando quais foram as motivações que o levaram à execução da obra. Assim falou Antonino de Mattos: “As proporções do local a que se destina o monumento por mim escolhido, por ser de todos o que mais qualidade encerra, não só históricas como também artísticas, não comportaria um trabalho de grandes dimensões. Sendo assim, procurei, ao reduzir suas dimensões de tamanho, aumentar a sua ideia representativa. Eu teria mais vantagens materiais se representasse a figura que queremos numa só estátua. Se tivesse maiores proporções, iria depor contra minha consciência de artista e sacrificar a verdade histórica dos fatos. Eis a razão pela qual escolhi uma representação mais vasta, porém em menores porporções. Maior será, no entanto, a síntese do pensamento de um estadista como foi Delfim Moreira. A obra terá em altura máxima, três metros e cinquenta centímetros. Já sua base, perfeitamente quadrada, dois metros e cinquenta centímetros. A linha geral do monumento terá forma piramidal. A figura principal, que representa o próprio presidente, acha-se em perfeito equilíbrio com o resto da composição, como se esta fosse o seu próprio pensamento. A sua posição calma e cheia de concentração é bem a do estadista que medita em todas as coisas que envolvem a pátria. A composição que circunda o pedestal é a homenagem a todas as coisas que são o pensamento de um estadista perfeito: a instrução; a pátria; a lavoura; as indústrias, a navegação e o trabalho; as artes. Nos diversos lados da base, acham-se executadas guirlandas de louros e carvalhos, símbolos eternos da glória. Infelizmente, não poderei aceitar o honroso convite de ser o orador na inauguração do evento por estar anteriormente marcado para o dia 8 (um dia depois) o casamento do meu filho.”
Várias autoridades foram convidadas para a comemoração que aconteceria no dia 7 de setembro de 1923. Talvez, justamente pela escolha da data, algumas delas não puderam comparecer, como foi o caso do Presidente Arthur Bernardes que enviou o seguinte telegrama: “Telegrafo nessa data pedindo ao senhor Francisco Moreira da Costa que  me represente na solenidade de inauguração, visto não ser possível comparecer a esta justa comemoração.”
Foto da Inauguração do monumento.
Mesmo com a ausência do presidente, alguns homens importantes da época, confirmaram presença com antecedência e deram o tom do que seria aquela festa. Dentre eles, estavam: o governador de Minas, Arthur Soares; Fernando de Melo Vianna, Secretário do Interior; Daniel de Carvalho, Secretário da Agricultura; Astolpho Azevedo, Presidente da Câmara dos Deputados e Flávio Fernandes, prefeito de Belo Horizonte. Todos os outros municípios mineiros enviariam representantes. A festa seria um sucesso.
No dia 7 de setembro, o evento foi um verdadeiro espetáculo. Até mesmo o escultor, que não viria por conta do casamento do filho, acabou aparecendo na cidade e manteve o monumento coberto até a inauguração. Nem bem despontou o sol no horizonte e a cidade dava sinais de que aquele dia seria atípico. Foi um corre-corre geral. Crianças de todas as escolas, jovens e moças das instituições de ensino e autoridades do mais variados campos do país ocuparam as ruas da pequena cidade. Todos caminhavam para a igreja, onde seria celebrada uma missa em intenção ao homenageado e realizada pelo Monsenhor Calazans – vigário da paróquia. Após a missa, a multidão caminhou em direção ao túmulo do ex-presidente - cerca de 700 alunos uniformizados, com diversas coroas de flores que seriam depositadas na cripta da família Moreira, localizada no ponto central e mais alto do cemitério. Quando lá chegaram, outra missa foi realizada, desta vez pelo cônego Macaio. Após a cerimônia, foi a vez do então deputado Eurico Dutra realizar um discurso, juntamente com outras autoridades, impressionando os visitantes que ali estavam.
No decorrer do dia, o ambiente manteve o tom festivo. Automóveis das mais diversas procedências emprestaram a Santa Rita um movimento nunca visto. Ao meio dia, debaixo de um sol de rachar, o pelotão do Instituto Moderno se uniu ao do Ginásio São José (de Pouso Alegre)  para marchar pelas principais ruas da cidade. Às treze horas, o grupo escolar Delfim Moreira realizou o hasteamento da bandeira nacional nas dependências da instituição construída pelo próprio homenageado. O momento da esperada inauguração aconteceu às cinco horas da tarde. Ninguém aguentava mais de curiosidade para saber o que tinha por baixo daquela bandeira nacional.
A emoção tomou conta de todos quando o busto foi revelado. Para espanto dos presentes, o trecho de um discurso proferido por Delfim Moreira, em 1913, aos alunos do Instituto Moderno de Educação, estava gravado na escultura: “Façamos sobre a terra o maior bem possível para que as gerações vindouras nos abençoem a memória.” A multidão que ocupava toda a extensão da praça e que chegava até mesmo à velha ponte metálica, trazida pelo homenageado durante seu governo estadual, se emocionou muito e foi às lágrimas embalada pela Lira Nova Aurora.
Muitos discursos foram proferidos até o final daquele dia, dentre eles o do Ex Presidente Wenceslau Braz – colega de faculdade e grande amigo de Delfim Moreira. Logo após o evento, o antigo Cine Theatro Santa Rita recebeu todas as crianças da cidade para uma apresentação infantil organizada pelo Grupão. À noite, o Club Recreativo promoveu o grande baile, oferecido às autoridades presentes na cerimônia. A festa se estendeu até a madrugada do dia 8, quando os santarritenses puderam, enfim, retornar às suas casas com a certeza de que jamais haviam visto um evento tão grandioso.
(Carlos Romero Carneiro)

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