segunda-feira, 25 de julho de 2011

Polo de eletrônica faz 25 anos e aprende a driblar o poder chinês

Criado no sul de Minas Gerais, centro cresce 30% ao ano e se aproxima dos R$ 2 bi em receita
Agnaldo Brito (Enviado Especial a Santa Rita do Sapucaí)

Santa Rita do Sapucaí, cidade da região sul de Minas Gerais -também conhecida como o Vale da Eletrônica-, encontrou uma maneira de encarar o poder dos chineses no mercado de produtos eletroeletrônicos.

Ao chegar aos 25 anos -boda comemorada na sexta-, a pacata cidade de 40 mil habitantes contabiliza o feito. Construiu um parque industrial com 142 empresas que, juntas, vão faturar R$ 1,9 bilhão neste ano, 27% além da receita auferida em 2010. Ano, aliás, em que o Vale cresceu 30%.

Santa Rita detém hoje 70% do mercado brasileiro de equipamentos para radiodifusão. Um em cada quatro habitantes trabalha em alguma parte da indústria local, um polo que emprega a terceira geração criada sob a influência do mundo da eletrônica.

Com metade de um século dedicado a isso, Santa Rita já entendeu o que deve fazer para não só encarar o poder dos asiáticos no mercado dos eletroeletrônicos mas enfrentar a concorrência internacional beneficiada pelo câmbio.

Estratégia

A primeira providência tem sido a de promover investimento maciço em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), tanto no ambiente acadêmico quanto no industrial. Cresce, entre as empresas da cidade, o uso de recursos subvencionados de instituições federais, como a Finep.

Números do Sindvel (Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica) mostram que a indústria do Vale da Eletrônica investe a cada ano entre 8% e 10% do faturamento em P&D.

O setor privado brasileiro, apenas como comparação, investe menos de 1% ao ano.
A segunda iniciativa do Vale está no esforço de desenvolver produtos que não são classificados como "commodity eletrônica".

"Não temos escala, tampouco força para entrar nesse campo. Então, a ordem aqui é investir em coisas específicas. Produzir eletrônicos sob encomenda", diz Roberto de Souza Pinto, presidente do Sindvel. Foi a partir disso que se criaram produtos de todo tipo. De uma simples coleira que evita o latido de um cão ao dispositivo que destrói agulhas contaminadas usadas em hospitais.

Mas nada parece superar um negócio que deve gerar bilhões de dólares para o país nos próximos anos: o sistema brasileiro de transmissão de TV digital. Foi do Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações), instituição local controlada e financiada com recursos privados, que saiu o padrão brasileiro da TV digital. Ancorado no padrão japonês, o modelo foi ajustado ao Brasil e, apesar de recente, já foi adotado por outros 11 países.

Prata da Casa

Nascida em Santa Rita, a Linear, agora uma múlti brasileira, com fábricas na Argentina e na Venezuela, produz metade dos transmissores vendidos no Brasil. Esse é um negócio que vai crescer nos próximos anos, no país e no exterior. No Brasil, a estimativa é que 28 mil transmissores sejam instalados pelas cinco principais redes (Globo, Record, Band, SBT e RedeTV!). Há prazo para isso. No dia 1º de julho de 2016, todos os transmissores analógicos serão desligados. Com expansão de 20% a 30% ao ano, o polo quer agora novas metas, como exportar e tentar viabilizar a indústria de semicondutores.

Matéria publicada no caderno Mercado da edição de 24/07/2011 da Folha de São Paulo

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