terça-feira, 5 de outubro de 2010

Cartas de Glorinha: Santa Rita, 3/11/1929.

Quinzote,

São 6 horas da tarde. Só agora é que pude escrever-lhe. Hoje é o seu dia e quanto eu sinto não poder estar a seu lado. Já lhe escrevi há dias para que chegasse hoje aí e creio que a estas horas já recebeu, assim o espero; mesmo assim, como hoje é que é o glorioso dia, envio-lhe os meus sinceros parabéns e os meus votos de felicidades. Passei hoje um dia agitadíssimo e estou muito cansada agora. Sendo o primeiro domingo do mês e como a casa do titio Zico está em consertos, todos os primos e tios que moram na roça ficaram aqui em casa e eu não tive um minutinho de sossego e não me foi possível escrever-lhe cedo. Entretanto não me esqueci de você e neste dia, 3 de novembro, fui à missa, rezando-a inteirinha pela sua saúde e felicidade. Agora à tarde os tios receberam a triste nova de que o Sr. Portugal estava passando mal em Cachoeiras e retiraram-se todos para a vizinha vila. Mozart e Surica vieram hoje aqui em casa ouvir vitrola, porém só pude tocar um pouquinho porque quando soubemos da doença do Sr. Portugal fomos obrigados a parar. O Mozart me disse que você chegará aqui no dia 17 à tarde; eu me admirei muito porque não foi no dia 17 e sim no dia 15 que você me disse chegar aqui. Será que já está adiando? Não faça isso, venha mesmo no dia 15. Maria Carneiro me convidou para examinar o curso primário e eu já estava fazendo os meus castelos de ficarmos juntos no ginásio o dia todo, mas se você demorar, não nos encontraremos mais lá, porque os exames dos cursos primários são antes dos outros. Ontem, Dia de Finados, foi um dia lindíssimo aqui, nem uma nuvem no céu. Fui ao cemitério com o firme propósito de não chorar, mas lá chegando me lembrei do meu papaizinho, não me contive mais, coitadinho era tão bom. Ah, meu Deus, seria tão feliz se ele vivesse; já sou muito feliz e não posso me queixar da minha sorte, porém seria mais ainda. Não sei, talvez seja porque não tenho pai, quando recebo carinho de um homem e mesmo de uma mulher fico tão contente. Você, Quinzote, é tão bonzinho que sempre me dá este prazer; talvez, creio eu, seja o único homem que me dispensa muita afeição, nem sei como agradecer-lhe, mais tarde você verá, saberei recompensá-lo. Saudades de mamãe e muitos abraços de parabéns de sua noiva muito sincera.
Glorinha.

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