quinta-feira, 7 de maio de 2015

A vida de trabalho, amor e conquistas de nossa estimada Dona Nega

Aos 28 anos, Mariângela Constância se preparava para dar à luz o segundo filho. Às 15h10min, já no hospital, sua bolsa rompeu e um menino veio à vida. O coração de mãe se dividia entre a alegria da chegada do caçula e a saudade e aflição por estar longe do mais velho, de apenas um ano e sete meses. Algumas horas depois, não teve dúvidas, pegou suas coisas, o recém-nascido e correu para casa. 
Na tarde do dia seguinte, menos de 24 horas desde o momento do parto, já era possível ver Mariângela no quintal de sua casa, lavando as roupas que se acumulavam sem parar. Dr. Edmundo Prado Moreira, seu obstetra, quando viu a cena, apressou-se em tentar obrigá-la a retornar para o repouso do hospital, mas ela se negou decididamente. Ao Doutor não restou opção, senão oferecer um chapeuzinho: “O sol dessa hora é muito forte, menina! Vai lhe fazer mal.”. Esse episódio previa perfeitamente tudo que aconteceria nos anos seguintes: Mariângela teria uma vida dedicada a zelar pelos filhos. Como ela mesmo diz, não foi nenhum sacrifício: “Tudo aquilo que fazemos pelo bem de quem amamos, não exige sacrifício de nada. Só nos acrescenta”.

Foi através desse relato que tive o prazer de ter meu primeiro contato com a grande mãe e mulher, Mariângela, conhecida por todos como a talentosa Dona Nega. Afilhada de José Antônio Del Castilho, o “seu Dedé”, perdeu a mãe aos 12 anos, foi morar com os pais do padrinho – Espanha e Henrique Del Castilho, donos do Instituto Moderno de Educação e Ensino, onde hoje funciona o Inatel - e lá ganhou, carinhosamente, o apelido de Nega. O “Dona”, tal qual conhecemos, veio muitos anos mais tarde, quando começou o seu negócio próprio, a pensão no bairro Vista Alegre.

Dona Nega é famosa em toda a cidade devido às iguarias que prepara em seu restaurante e já marcou a vida de muitas famílias com seus cuidados que vão além dos gastronômicos. Ela abriu a pensão porque sabia que precisava garantir a alimentação dos filhos, ainda pequenos e, se cozinhasse para pessoas de fora, seus filhos também comeriam. Iniciou o primeiro mês com sete clientes, terminou com 20 e, desde então, sua freguesia nunca parou de crescer. Com uma clientela regular de estudantes, os mesmos passaram a fazer parte da rotina e da família dela. Quando alguém perdia uma refeição, lá ia D. Nega procurar o indivíduo para saber o que estava acontecendo. 

Certa vez, um moço chamado Ricardo, que adorava se gabar amistosamente entre os colegas por ter um mordomo que falava 12 idiomas, perdeu duas refeições na pensão. Nega perguntou para os rapazes, mas nenhum soube dizer o que se passava, então ela terminou de servir todos e saiu à procura dele. Encontrou-o em sua cama, na república onde morava, muito doente, ardendo em febre. Para animá-lo, perguntou em tom de brincadeira, “Me diz a-gora Ricardo, para que lhe serve um mordomo que fala tantas línguas?” E, rapidamente, providenciou a me-dicação e a alimentação adequadas para devolver a saúde ao menino que, em dois dias, já estava como novo, de volta à rotina da pensão.

Por episódios como esses que muitas mães vinham e entregavam os filhos diretamente aos cuidados de D. Nega, pois sabiam que, ali, havia uma senhora que podia ser a mãe de todos. Alguns anos depois, ela teve oportunidade de transferir o restaurante para o centro da cidade, e aproveitou para encerrar as atividades da pensão: “Meus filhos já estavam em outra fase, precisavam mais de mim e meu coração já não aguentava ter que me despedir dos estudantes. A cada fim de ano, a cada formatura, era como se eu perdesse um filho, tamanha era a saudade daqueles que voltavam para suas cidades”.

 Inspiração para as vizinhas, que viviam se perguntando como ela conseguia cozinhar em casa para mais de 100 pessoas, enquanto elas mesmas, às vezes, não tinham ânimo para cuidar da refeição de apenas uma família, hoje D. Nega vive mais tranquilamente. Com os filhos já criados e três netos bem encaminhados, ela diz que não tem nenhum sonho ou aspiração. “Fui abençoada até além do que eu poderia querer ou esperar”. Com um humor bem ‘coruja’, digno de quem dedicou a vida prazerosamente a ser mãe, ela acrescenta, ao final de nosso papo: “Eu só teria aspiração de ter algo a mais nessa vida, se meus filhos fossem filhos da casa vizinha”.

(Por Danlary Tomazini)

3 comentários:

  1. Comemos muitas vezes na pensão da Vista Alegre e pegamos muita marmita com a Dona Nega, que tornou-se amiga de minha mãe, Guaracy,
    Um mulher muito batalhadora e exemplo de vida para todos.
    Um grande beijo, Dona Nega.

    Rogério Mamão

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  2. Carlão, você conseguiu me emocionar, pois considero a Nega a minha segunda mãe.... só isso, e simples assim.... Valeu mesmo pela homenagem ... meu respeito e admiração...

    Beijos Nega, Juninho e Fabinho.

    Ricardo Galdiks Gardim

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  3. Parabéns pela matéria. Dona Mariangela Constancia é uma pessoa exemplar. Exemplo de mãe, sogra, patrôa, amiga, vizinha... Nota dez!

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