terça-feira, 8 de julho de 2014

Jogo de várzea na Copa do Mundo

- Por quanto está vendendo o ingresso do jogo do Brasil?
- Dois ingressos por 35 mil Reais.
- Ok. Se eu conseguir vender meu rim, te dou um toque.
Foi assim o início da nossa procura por entradas da Copa do Mundo, dias antes dos jogos. Com muita paciência, conseguimos 3 ingressos para o jogo de uma das favoritas, a Inglatera, contra um time desco-nhecido da América Central: a Costa Rica. O que não contávamos é que, na terceira rodada, boa parte das seleções consagradas seriam despachadas pelos países vizinhos e que mudaríamos a perspectiva da partida. Naquela altura, os britânicos já estavam desclassificados e a pequena Costa Rica, ao vencer os dois primeiros jogos, transformava-se na sensação (ou zebra) da Copa. De um lado, teríamos a campeã de 1966 tentando lavar a honra. Do outro, um time desconhecido tentando fazer história. 

Depois de 5 horas de viagem e vinte minutos de caminhada, chegamos ao Mineirão, palco da cancha. Confesso que nunca tinha visto um jogo em estádio, com exceção das peladas que meu pai me levava pelos campos da região.

O clima da Copa espalhava-se por todos os cantos e nos mostrava que aquilo não era apenas uma competição esportiva. Tratava-se de uma forma que o mundo encontrou de se confraternizar. Pessoas fantasiadas, cartazes, crianças, periguetes e atores... tinha de tudo.

Na fila de entrada, nos vimos entre uma multidão de ingleses, quase transparentes e de cabelos vermelhos. Se existisse televisão com cheiro, o telespectador poderia experimentar o que sentimos naquele momento: um fudum fortíssimo de álcool curtido, resultado de dias sob o efeito radioativo da cagibrina. A organização do evento estava impecável. Era preciso passar por diversos níveis de segurança até a entrada por um portão específico que nos levaria ao local exato de nossas cadeiras. Faltava pouco para ver o que só conhecíamos pela TV.

O isolamento acústico do estádio é impressionante. Até alcançar uma das portas que leva ao campo não é possível ouvir absolutamente nada. Ao entrar, entretanto, senti como se uma forte corrente elétrica percorresse meu corpo, resultado do impacto causado pelos gritos ensurdecedores da torcida. Incrível. Emoção mais próxima do que essa, somente quando o glorioso Bloco dos Democráticos acendia as suas luzes, no morro do “Zé da Sirva”, em terça de carnaval.

Nas arquibancadas, uma confusão de cores. Multidão. Barulho. Meu filho ficou maravilhado ao ver que tudo o que conhecia pela TV estava bem ali, à sua frente. Estar em um estádio é colocar-se em contato com uma grande quantidade de informações. O jogo é apenas um detalhe. Mil coisas acontecem ao mesmo tempo, a vibração é impressionante e você não sabe para onde olha.

A bola rolou e devo dizer que esperava mais da partida. Não vi muita diferença entre o corre-corre dos jogadores, bem mais franzinos do que a TV mostra e as pelejas que costumava assistir no campo da Liga. Como estávamos na primeira fila, vimos cada detalhe do que acontecia no surrado gramado e refiz, meio sem querer, algo que era comum enquanto meu pai estava vivo: fotografar os equipamentos de filmagem para que ele soubesse a quantas andava a tecnologia.

0 x 0. Os ingleses se exaltaram do outro lado do campo e entrou em cena a equipe de segurança para conter os ânimos. Na saída, um torcedor viu meu filho com a camisa do São Paulo e puxou conversa. Ele perguntou quando o Gabriel fazia aniversário e, ao descobrir que nasceram no mesmo dia, tirou uma bandeira do pescoço e o presenteou: “Esta é do Hexa.” – disse orgulhoso.

Ao deixarmos o estádio, a tropa de choque preparava-se para dar um “amansa leão” nos ingleses. Tiramos algumas fotos, demos mais uma conferida naquele fim de festa e caçamos o rumo do estacionamento.

Já em Santa Rita, 5 horas depois, as imagens daquele espetáculo permaneciam gravadas na minha retina. Podia fechar os olhos que as cenas não desapareciam. Chegava ao fim do dia em que experimentava uma das sensações mais incríveis da minha vida. Antes de dormir, prometi voltar mais vezes aos estádios e entendi porque o futebol é tão cultuado, seja no Brasil, na Capituva ou no ponto mais esquecido do planeta. 

(Por Carlos Romero Carneiro)

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