terça-feira, 8 de julho de 2014

A devoção de um cãozinho santa-ritense por seu melhor amigo

 “Sempre ao seu lado” é a versão americana de um filme japonês (Hachikô monogatari) que narra a história de amizade entre um cãozinho da raça Akita com o seu dono, Hidesaburo Ueno. A história conta que, diariamente, Hachiko acompanhava o professor universitário à estação e aguardava até o final da tarde, quando retornavam juntos para casa. Com o falecimento do dono, o cãozinho continuou o ritual de ida e vinda à estação, até a sua morte, sete anos depois. Os habitantes de Shibuya ficaram tão comovidos com aquele gesto que uma estátua de Hachiko foi erigida na estação e, até hoje, é realizada uma cerimônia anual em homenagem a ele. 
Em Santa Rita do Sapucaí, casos semelhantes foram testemunhados e demonstram o quanto pode ser profundo o amor de um cão por seu dono. O primeiro fato de que se tem notícia data do falecimento do Sr. Armando Domingues, responsável pela construção das grutas da Vista Alegre e da pracinha do antigo mercado. Durante o velório do construtor, algumas pessoas notaram que seu cãozinho não saía de baixo do caixão e tentaram, sem sucesso, retirá-lo da sala. Na subida da ladeira que dá acesso ao cemitério, construída pelo próprio Armando, o animal acompanhou o cortejo e manteve-se próximo, até o sepultamento. No dia seguinte, Dona Benedita deu falta no cãozinho, mas não conseguia encontrá-lo. Depois de correr a vizinhança, resolveu retornar ao cemitério e emocionou-se ao vê-lo, já sem vida, ao lado do jazigo de seu marido.

Jamil, coveiro do cemitério, afirma que, até pouco tempo, havia um cão que, com a morte do dono, também passou a frequentar o local. Toda vez que os sinos da igreja anunciavam a morte de alguém, o animal ladeava o carro funerário e o acompanhava até os portões.

No ponto mais alto do cemitério, bem em frente ao mausoléu da família do Coronel Gabriel Capistrano, encontramos um vira-lata negro, com as patas já tingidas por pelos esbranquiçados, muito sujo e com as costelas salientes. Seus movimentos eram lentos e ele não respondia ao chamado. Os funcionários do cemitério deram a ele o nome de Negão e contam que, há tempos, ele perambula por ali.

Há alguns anos, era bem diferente a vida daquele bichinho. Com pelagem negra muito brilhante, era sempre visto, junto com outros cães, ao lado de seu dono. Chico Dorico tornou-se muito conhecido em Santa Rita por puxar uma carrocinha carregada de material reciclável, sempre com passos curtos, vestimentas desgastadas, chapéu de palha e as costas arqueadas pelos anos de trabalho árduo. 
Chico Dorico e seu cãozinho.
Com a morte de Dorico, o cãozinho passou a esperar pela abertura dos portões do cemitério e permanece no recinto até que o último funcionário vá embora. Debilitado, o bichinho começou a se alimentar com as carnes que ganha de um açougue do mercado e, desde então, perambula por entre os túmulos.

Há quem diga que não resta muito tempo para o cachorrinho. Algumas pessoas calculam que já tenha cerca de 15 anos e que sua falta de reação seja reflexo da idade avançada. Outros dizem que ele nunca mais foi o mesmo desde que  perdeu o melhor amigo. Não há quem duvide, entretanto, da devoção do animal por Joaquim Dorico e do sentimento de amor que os une até hoje. Exemplos como estes demonstram que o título de “melhor amigo do homem” cabe muito bem a estes leais bichinhos.

(Fomos informados que o "Negão" faleceu um dia após a produção desta reportagem)

(Carlos Romero Carneiro)

Um comentário:

  1. Os animais somos nós, humanos... Que na grande maioria é incapaz se amar o próximo assim como estes cães.

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