Em 1923, Valentino Volpato foi chamado para abrir o cofre de um banco de Santa Rita. O Italiano conseguiu destravar a fechadura e passou o preço: Duzentos mil Réis.
“Mas isso é um absurdo!” – Disse o gerente do Banco.
“Tudo bem” – Disse Volpato. E trancou o cofre novamente.
Ao repensar o caso, o gerente pediu a Valentino que realizasse o serviço novamente e ouviu a seguinte frase:
“São quatrocentos mil Réis.” – exclamou Valentino.
“Por que o valor dobrou?” – Duzentos pelo primeiro serviço e mais duzentos pelo segundo.
Senhor Valentino Volpato. |
Tal história é bem difundida pelos mais antigos. Muitos santa-ritenses ainda gostam de enfeitar o “causo” e até chegam a comparar que um funcionário da Rede Mineira de Viação ganhava 30 mil Réis para trabalhar o mês inteiro. Ao confrontar a história com o filho do italiano, Dante Volpato, soubemos que aconteceu de forma um pouco diferente.
“Meu pai cobrou 50 mil Réis para fazer o serviço. A verdade é que, quando o dono do banco soube do preço cobrado pelo italiano, falou.
- Você pediu para que ele fizesse o serviço?
- Pedi.
- Então pague o homem!
Certo é que a habilidade de descobrir segredos de cofres e realizar os mais diversos serviços de mecânica foi transmitida de pai para filho e Dante cansou de fazer este tipo de trabalho. “Existe um cofre na ETE que teve a alavanca quebrada no momento de abrir e foi refeita aqui na minha oficina.”
Memória Invejável
Dante possui uma memória invejável. Guarda as histórias de sua família com a mesma facilidade que decorava os segredos dos cofres de seus fregueses. “Quando eles esqueciam, traziam o cofre para eu abrir e eu já sabia de cor. Mais engraçado foi quando um deles emperrou, eu cheguei na casa da freguesa e o segredo estava colado na porta.” A inteligência do italiano também foi herdada pelos seus progenitores: “Meu pai era muito inteligente. Certa vez, um capitalista foi a Aparecida e comprou dois relógios idênticos. Quando um deles quebrou, trouxe para o meu pai consertar. Ao realizar o serviço, ele fez uma marquinha dentro do aparelho e entregou ao freguês. Alguns meses depois, o homem retornou à oficina dizendo que o relógio enguiçou de novo. Meu pai falou: ‘Esse não foi o que eu consertei. Você tem outro relógio igual’. E cobrou 2 mil Réis pelo reparo.”
A chegada de Valentino
Valentino chegou ao Brasil aos nove anos, em 1893, a bordo do vapor Indiano, mas retornou com seus pais, três anos antes da virada do Século. Por não se acostumar com as terras brasileiras, os italianos retornaram a Crosara, localizada na província de Vicenza. Enquanto permaneceu na Europa, viajou por 3 vezes à Suíça, onde aprendeu a consertar relógios e aprimorou seus conhecimentos em mecânica.
Regresso ao Brasil
Em 1912, aos 27 anos, Valentino resolveu regressar sozinho ao Brasil decidido a construir uma carreira em Santa Rita. Com o tempo as coisas se ajeitaram e o rapaz conseguiu realizar seus primeiros trabalhos. Bem no início da Rua da Pedra, então conhecida como “estradão”, havia a quitanda de um italiano chamado Ângelo Testi, instalada no piso térreo de um casarão. Ali era o ponto preferido do relojoeiro que tomou conhecimento de que mais de 100 litros de vinhos tinham sido importados, diretamente de sua terra natal. Entre uma conversa e outra, conheceu Religonda Testi que havia chegado ao Brasil no ano em que ele partiu, a bordo do vapor “Batistão”. A moça, natural de Verona, conquistou a simpatia do rapaz e o casamento aconteceu em 1914. O casal teve oito filhos, dentre eles, Dante Volpato que, assim como seus outros irmãos, absorveu do pai os conhecimentos em mecânica e relojoaria, aprendeu a consertar automóveis, além de realizar serviços de torno e solda.
Perseguição na II Guerra
Com o início da Segunda Guerra Mundial, a situação dos Italianos foi um tanto complicada em terras brasileiras. Caso precisassem realizar uma simples viagem a Itajubá, os italianos precisavam comprovar que chegaram ao Brasil antes de 1935, fazer um descritivo de todos os seus filhos e obter um salvo conduto na delegacia da cidade. Em diversos documentos guardados pelos familiares de Valentino é possível constatar como aqueles tempos foram difíceis para os imigrantes.
Senhor Dante Volpato. |
Em busca do pé de meia
Aos vinte anos, Dante tomou conhecimento de uma oferta para torneiro mecânico em Três Pontas e animou-se ao saber que o salário era muito bom. Somente quando chegou à oficina soube que a oferta não era tão tentadora e permaneceu na cidade por 7 meses. Nesse período, conheceu sua futura esposa, Nilza Marques Caxambu.
Quando o filho de Valentino retornou a Santa Rita, continuou a se corresponder com a moça de Três Pontas e decidiu que precisava fazer um pé de meia para que pudessem casar. “Trocamos muitas cartas e sempre enviava fotografias da cidade para ela querer vir morar comigo.” Ao tomar conhecimento de que os irmãos iriam abrir uma oficina em Elói Mendes, Dante foi com eles e lá ficou por dois anos.
Florestina, D.Lívia, D.Lupércia,Sr. Dante De Marchi, Duze Adami, Valentina, Nilza, Dante Volpato. Crianças: Laurentina e Dantina. |
A situação era complicada. Apesar de ter juntado dinheiro para comprar um carro, Dante não tinha condições de viajar e precisava contentar-se com as cartas, até 1955, quando conseguiu se casar. Naquele mesmo ano, conseguiu comprar um terreno onde havia sido o campo do Flamur e morou no antigo vestiário da Agremiação até 1961. Em uma fotografia captada por Róssio De Marchi, em 1957, é possível ver o local no período em que Santa Rita foi submetida a uma de suas enchentes.
Antigo vestiário do Flamur serviu de moradia ao senhor Dante e família. (Enchente de 1957) |
Com os anos, Dante conquistou uma grande freguesia, fez muitos amigos e orgulha-se da reputação que construiu: “Minha satisfação sempre foi produzir peças que durassem uma vida inteira.” As ferramentas de sua oficina permanecem nos fundos de sua residência - que mais se assemelha a um museu a céu aberto. Caminhões, carcaças de ônibus, um torno gigantesco para confecção de ladrilhos e que pertenceu à Firma Granado e Garrido, antigos extintores, ferramentas, além de uma forja que herdou de Valentino são as evidências da rica história da família Volpato. Enquanto contava a trajetória dos italianos que vieram desbravar o sul de Minas, Laurentina e Florestina acompanhavam tudo com atenção e complementavam com fotografias as histórias contadas pelo pai. A placa da oficina ainda está lá. As ferramentas permanecem intocadas e auxiliam na construção do passado de lutas da família Volpato e dos imigrantes italianos que ajudaram nossa cidade a progredir, ao deixar o velho mundo em busca de oportunidades.
Caminhão que pertenceu ao senhor Dante Volpato. |
(Carlos Romero Carneiro)
Relíquias da família Volpato:
Antigo caminhão do senhor Dante Volpato. |
Carcaça de um antigo ônibus encontra-se nesse museu a céu aberto. |
O Historiador Ivon não consegue esconder satisfação ao ver uma prensa de ladrilhos que pertenceu à firma Granado e Garrido Ltda. |
Forja que pertenceu ao senhor Valentino Volpato ainda funciona. |
Outro caminhão que pertenceu ao senhor Dante Volpato. |
Antiga placa da oficina.
Oferecimento:
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Eu estava pesquisando sobre minha família na internet e, coincidentemente, achei essa publicação. Não sei se é a mesma família, mas meu avô se chamava Venuto Volpato e sua mãe era Religonda, e ele nasceu em Santa Rita do Sapucaí, e também era Torneiro Mecânico. Tem uma foto ai que ele aparece, creio que ele seja irmão do Dante Volpato. Adorei saber um pouco mais sobre a minha família :)
ResponderExcluirvictoria! conversando com minha avó esses dias ela comentou que um namorado dela que ela amava muito se chamava Venuto Volpato, também de Santa Rita. deve ser o mesmo, não?
Excluirvictoria! conversando com minha avó esses dias ela comentou que o primeiro namorado dela se chamava Venuto Volpato, e ele era de Santa Rita do Sapucaí, e que gostaria de ter notícias dele. podemos conversar??
ExcluirTive o privilégio de conhecer o Dante, Nilza, Valentina, Florestina, Laurentina e Dantina e me apaixonado pela habilidade em toda sua complexa oficina, por volta de 1969, quando fui estudante na ETE, e hoje revendo pelas fotos esse passado me sinto um felizardo por casualmente ter trilhado tal caminho a ponto de me considerar amigo dessa radiante e formidável Família;
ResponderExcluirÉ precisou minha sobrinha Vitória e Filha Luiza Volpato pesquisar sobre a família com o objetivo de conhecer um pouco mais sobre a chegada da família da Itália, para eu mãe e tia ver esta publicação, tão emocionante de conhecer, afinal é a procedência da minha família vinda da Itália. Percebp qie possuem hábitos tão semelhantes aos meus no dia a dia, quanto me vem a cabeça meus avós de Santa Rita Sapucai, SP, quando ia passear nas minhas férias com meu pai Venuto Volpato, já falecido por câncer e mãe Maria de Lourdes Gama Lobo Volpato, na casa de uma família Italiana tão respeitada pela sua coragem de escolher o Brasilia para viver...
ResponderExcluirOlá alguma pessoa conhece-os Volpato eu queria muito saber o senhor Thierry Volpato e Olívia mulher dele estão vivo eles e lá do Paraná perto de Cianorte a cidade chama Vidigal meu pai trabalhou muito deles
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