segunda-feira, 12 de agosto de 2013

De Valentino a Dante Volpato: aventuras de uma família italiana em terras brasileiras

Em 1923, Valentino Volpato foi chamado para abrir o cofre de um banco de Santa Rita. O Italiano conseguiu destravar a fechadura e passou o preço: Duzentos mil Réis. 

“Mas isso é um absurdo!” – Disse o gerente do Banco.

“Tudo bem” – Disse Volpato. E trancou o cofre novamente.

Ao repensar o caso, o gerente pediu a Valentino que realizasse o serviço novamente e ouviu a seguinte frase:

“São quatrocentos mil Réis.” – exclamou Valentino.

“Por que o valor dobrou?” – Duzentos pelo primeiro serviço e mais duzentos pelo segundo.
Senhor Valentino Volpato.
Tal história é bem difundida pelos mais antigos. Muitos santa-ritenses ainda gostam de enfeitar o “causo” e até chegam a comparar que um funcionário da Rede Mineira de Viação ganhava 30 mil Réis para trabalhar o mês inteiro. Ao confrontar a história com o filho do italiano, Dante Volpato, soubemos que aconteceu de forma um pouco diferente.

“Meu pai cobrou 50 mil Réis para fazer o serviço. A verdade é que, quando o dono do banco soube do preço cobrado pelo italiano, falou.

- Você pediu para que ele fizesse o serviço?
- Pedi.
- Então pague o homem!

Certo é que a habilidade de descobrir segredos de cofres e realizar os mais diversos serviços de mecânica foi transmitida de pai para filho e Dante cansou de fazer este tipo de trabalho. “Existe um cofre na ETE que teve a alavanca quebrada no momento de abrir e foi refeita aqui na minha oficina.”

Memória Invejável

Dante possui uma memória invejável. Guarda as histórias de sua família com a mesma facilidade que decorava os segredos dos cofres de seus fregueses. “Quando eles esqueciam, traziam o cofre para eu abrir e eu já sabia de cor. Mais engraçado foi quando um deles emperrou, eu cheguei na casa da freguesa e o segredo estava colado na porta.” A inteligência do italiano também foi herdada pelos seus progenitores: “Meu pai era muito inteligente. Certa vez, um capitalista foi a Aparecida e comprou dois relógios idênticos. Quando um deles quebrou, trouxe para o meu pai consertar. Ao realizar o serviço, ele fez uma marquinha dentro do aparelho e entregou ao freguês. Alguns meses depois, o homem retornou à oficina dizendo que o relógio enguiçou de novo. Meu pai falou: ‘Esse não foi o que eu consertei. Você tem outro relógio igual’. E cobrou 2 mil Réis pelo reparo.”

A chegada de Valentino

Valentino chegou ao Brasil aos nove anos, em 1893, a bordo do vapor Indiano, mas retornou com seus pais, três anos antes da virada do Século. Por não se acostumar com as terras brasileiras, os italianos retornaram a Crosara, localizada na província de Vicenza. Enquanto permaneceu na Europa, viajou por 3 vezes à Suíça, onde aprendeu a consertar relógios e aprimorou seus conhecimentos em mecânica.

Regresso ao Brasil

Em 1912, aos 27 anos, Valentino resolveu regressar sozinho ao Brasil decidido a construir uma carreira em Santa Rita. Com o tempo as coisas se ajeitaram e o rapaz conseguiu realizar seus primeiros trabalhos. Bem no início da Rua da Pedra, então conhecida como “estradão”, havia a quitanda de um italiano chamado Ângelo Testi, instalada no piso térreo de um casarão. Ali era o ponto preferido do relojoeiro que tomou conhecimento de que mais de 100 litros de vinhos tinham sido importados, diretamente de sua terra natal. Entre uma conversa e outra, conheceu Religonda Testi que havia chegado ao Brasil no ano em que ele partiu, a bordo do vapor “Batistão”. A moça, natural de Verona, conquistou a simpatia do rapaz e o casamento aconteceu em 1914. O casal teve oito filhos, dentre eles, Dante Volpato que, assim como seus outros irmãos, absorveu do pai os conhecimentos em mecânica e relojoaria, aprendeu a consertar automóveis, além de realizar serviços de torno e solda. 

Perseguição na II Guerra

Com o início da Segunda Guerra Mundial, a situação dos Italianos foi um tanto complicada em terras brasileiras. Caso precisassem realizar uma simples viagem a Itajubá, os italianos precisavam comprovar que chegaram ao Brasil antes de 1935, fazer um descritivo de todos os seus filhos e obter um salvo conduto na delegacia da cidade. Em diversos documentos guardados pelos familiares de Valentino é possível constatar como aqueles tempos foram difíceis para os imigrantes.
Senhor Dante Volpato.
Em busca do pé de meia

Aos vinte anos, Dante tomou conhecimento de uma oferta para torneiro mecânico em Três Pontas e animou-se ao saber que o salário era muito bom. Somente quando chegou à oficina soube que a oferta não era tão tentadora e permaneceu na cidade por 7 meses. Nesse período, conheceu sua futura esposa, Nilza Marques Caxambu.

Quando o filho de Valentino retornou a Santa Rita, continuou a se corresponder com a moça de Três Pontas e decidiu que precisava fazer um pé de meia para que pudessem casar. “Trocamos muitas cartas e sempre enviava fotografias da cidade para ela querer vir morar comigo.” Ao tomar conhecimento de que os irmãos iriam abrir uma oficina em Elói Mendes, Dante foi com eles e lá ficou por dois anos. 
Florestina, D.Lívia, D.Lupércia,Sr. Dante De Marchi, Duze Adami, Valentina,
Nilza, Dante Volpato. Crianças: Laurentina e Dantina.
A situação era complicada. Apesar de ter juntado dinheiro para comprar um carro, Dante não tinha condições de viajar e precisava contentar-se com as cartas, até 1955, quando conseguiu se casar. Naquele mesmo ano, conseguiu comprar um terreno onde havia sido o campo do Flamur e morou no antigo vestiário da Agremiação até 1961. Em uma fotografia captada por Róssio De Marchi, em 1957, é possível ver o local no período em que Santa Rita foi submetida a uma de suas enchentes. 
Antigo vestiário do Flamur serviu de moradia ao senhor Dante e família.  (Enchente de 1957)
Com os anos, Dante conquistou uma grande freguesia, fez muitos amigos e orgulha-se da reputação que construiu: “Minha satisfação sempre foi produzir peças que durassem uma vida inteira.” As ferramentas de sua oficina permanecem nos fundos de sua residência - que mais se assemelha a um museu a céu aberto. Caminhões, carcaças de ônibus, um torno gigantesco para confecção de ladrilhos e que pertenceu à Firma Granado e Garrido, antigos extintores, ferramentas, além de uma forja que herdou de Valentino são as evidências da rica história da família Volpato. Enquanto contava a trajetória dos italianos que vieram desbravar o sul de Minas, Laurentina e Florestina acompanhavam tudo com atenção e complementavam com fotografias as histórias contadas pelo pai. A placa da oficina ainda está lá. As ferramentas permanecem intocadas e auxiliam na construção do passado de lutas da família Volpato e dos imigrantes italianos que ajudaram nossa cidade a progredir, ao deixar o velho mundo em busca de oportunidades.
Caminhão que pertenceu ao senhor Dante Volpato.
(Carlos Romero Carneiro)

Relíquias da família Volpato:
Antigo caminhão do senhor Dante Volpato.
Carcaça de um antigo ônibus encontra-se nesse museu a céu aberto.
O Historiador Ivon não consegue esconder satisfação ao ver uma prensa de ladrilhos que pertenceu à firma Granado e Garrido Ltda.
Forja que pertenceu ao senhor Valentino Volpato ainda funciona.
Outro caminhão que pertenceu ao senhor Dante Volpato.
Antiga placa da oficina.

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6 comentários:

  1. Eu estava pesquisando sobre minha família na internet e, coincidentemente, achei essa publicação. Não sei se é a mesma família, mas meu avô se chamava Venuto Volpato e sua mãe era Religonda, e ele nasceu em Santa Rita do Sapucaí, e também era Torneiro Mecânico. Tem uma foto ai que ele aparece, creio que ele seja irmão do Dante Volpato. Adorei saber um pouco mais sobre a minha família :)

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    1. victoria! conversando com minha avó esses dias ela comentou que um namorado dela que ela amava muito se chamava Venuto Volpato, também de Santa Rita. deve ser o mesmo, não?

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    2. victoria! conversando com minha avó esses dias ela comentou que o primeiro namorado dela se chamava Venuto Volpato, e ele era de Santa Rita do Sapucaí, e que gostaria de ter notícias dele. podemos conversar??

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  2. Tive o privilégio de conhecer o Dante, Nilza, Valentina, Florestina, Laurentina e Dantina e me apaixonado pela habilidade em toda sua complexa oficina, por volta de 1969, quando fui estudante na ETE, e hoje revendo pelas fotos esse passado me sinto um felizardo por casualmente ter trilhado tal caminho a ponto de me considerar amigo dessa radiante e formidável Família;

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  3. É precisou minha sobrinha Vitória e Filha Luiza Volpato pesquisar sobre a família com o objetivo de conhecer um pouco mais sobre a chegada da família da Itália, para eu mãe e tia ver esta publicação, tão emocionante de conhecer, afinal é a procedência da minha família vinda da Itália. Percebp qie possuem hábitos tão semelhantes aos meus no dia a dia, quanto me vem a cabeça meus avós de Santa Rita Sapucai, SP, quando ia passear nas minhas férias com meu pai Venuto Volpato, já falecido por câncer e mãe Maria de Lourdes Gama Lobo Volpato, na casa de uma família Italiana tão respeitada pela sua coragem de escolher o Brasilia para viver...

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  4. Olá alguma pessoa conhece-os Volpato eu queria muito saber o senhor Thierry Volpato e Olívia mulher dele estão vivo eles e lá do Paraná perto de Cianorte a cidade chama Vidigal meu pai trabalhou muito deles

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