quarta-feira, 5 de junho de 2013

A inesquecível Festa de Santa Rita de 1957

Todos conhecem Dona Sinhá Moreira como a criadora da primeira escola de eletrônica da América Latina. Todos conhecem as inúmeras obras empreendidas pelo Monsenhor José Carneiro Pinto, que vão de iniciativas voltadas à educação a ações comunitárias que fizeram dele um dos homens mais notáveis da região. Poucos conhecem, entretanto, como o enorme potencial destas personalidades foi direcionado a empreender um dos mais ambiciosos projetos festivos de que se tem notícia. Você verá, a seguir, a história da Festa de Santa Rita de 1957. Um evento considerado por muitos, como um dos maiores acontecimentos de nossa cidade, em todos os tempos.
No quinto centenário de morte de Santa Rita de Cássia, uma série de ações foram promovidas pela paróquia, apoiada pelas famílias santa-ritenses. Algumas obras resistem ao passar dos anos e mostram que aquele evento tem influenciado o cotidiano local, até os dias de hoje. 

Bem no alto do morro incrustado no centro da cidade, uma grande cruz era construída através de ação popular e dava o tom de que naquele ano a cidade veria algo inédito. Enquanto isso, Padre José viajava para Cássia para trazer uma relíquia de Santa Rita (retirada do osso de seu pé), cujo corpo permanece incorrupto até hoje. Também na terra natal da padroeira foi encomendado a um escultor que fizesse uma réplica da santa sepultada, em tamanho natural, que seria depois vestida com um hábito que havia tocado os seus restos mortais. Ao retornar a Santa Rita do Sapucaí, o senhor Joaninho foi encarregado de construir uma urna de vidro para receber a escultura, enquanto o senhor Teteu começou a erigir uma cópia exata da instalação onde a santa estava exposta em Cássia. 

Algumas semanas depois, os Festeiros Nazareno Carvalho Rennó e Dona Sinhá Moreira, juntamente com o Padre José, foram avisados de que a escultura havia chegado, dentro de uma caixa, em um dos vagões da Rede Mineira de Viação. A obra, então, foi levada à casa da festeira, onde foi devidamente montada e vestida com o hábito. A população fez uma enorme fila em frente à casa de Dona Sinhá e, um a um, todos os santa-ritenses adentraram o quarto da futura mentora do Vale da Eletrônica, para admirar a obra.

Pelas ruas da cidade, diversas famílias organizaram comissões para a instalação de escudos com nomes de famílias santa-ritenses. Nas janelas das residências, flâmulas foram dependuradas e diversas tochas foram instaladas no centro da cidade. Ao todo, 17 ruas foram ornamentadas, o que envolveu o trabalho de 216 pessoas. A execução dos escudos ficou a cargo do Sr. Aristeu Pereira e do artista Vitório Constanti. 

Ao cair a noite, Santa Rita do Sapucaí ficou mais linda do que nunca e uma multidão caminhou até a praça da Matriz para assistir às apresentações das colônias. A cada dia, as famílias dos estrangeiros que ajudaram a construir o município realizaram inúmeros espetáculos musicais, recitaram poesias e mostraram um pouco da cultura de seus antepassados. O evento teve início com a Noite Americana e passou pelas noites Húngara, Italiana, Holandesa, Espanhola, Portuguesa e Libanesa, para finalizar com uma grandiosa festa Brasileira. No final de cada noite, eram soltados fogos de artifício com as cores predominantes de cada colônia e a população retornava maravilhada às suas respectivas residências.
Nas redondezas da praça, os trabalhos estavam a cargo de uma multidão de voluntários. Havia comércios intitulados “Bazar da Recordação” ou “Bazar da Simpatia”; os quiosques da “Alegria” e “Amizade” e uma barraca de alimentos chamada “Gostosura”. O mais interessante foi que todo o movimento gerado em torno da festa foi gerido por santa-ritenses e as tendas e quiosques, doadas pela prefeitura.

Diariamente, o altar era ornamentado por uma comissão diferente e recebia nomes de santos. Ao terminar as missas e coroações, a Lira São José estava encarregada de animar a festa, o que trazia uma atmosfera acolhedora e nostálgica ao evento.
Ao chegarem os bispos visitantes, uma comissão foi formada por alguns dos homens mais respeitáveis da cidade para recepcioná-los. Os senhores, Dr. Arlete Teles, Delfim Moreira Júnior, Elpídio Costa, Dr. José Alcides, Dr. Edgar Moreira, José Elísio Rennó Mendes, Joaquim Araújo Porto, Nazareno Rennó, Saul Dias Coelho e Vítor de Souza Pinto, foram os encarregados da missão. Nas pro-cissões, 34 pessoas foram encarregadas de formar a guarda de honra de Santa Rita. Ao todo, 220 crianças foram caracterizadas para participar das festividades, dentre elas, 66 pajens, 70 aspirantes e 84 servas. Para a construção de dois grandes arcos ornamentais (Centenário e Jubileu), instalados ao lado da praça, 18 pessoas foram convocadas. Já a ornamentação do andor, envolveu 6 famílias. 
No dia 22 de maio, as festividades tiveram início às 5 horas da manhã, com uma alvorada promovida pela Lira São José. Das 6 às 10, foram realizadas 4 diferentes missas, o que deixou a praça cada vez mais repleta de pessoas. Ao meio dia, Dona Sinhá montou um verdadeiro banquete onde todos os santa-ritenses, em especial aqueles que não tinham recursos para consumir alimentos das barracas, tiveram acesso a uma farta alimentação. Até hoje, quem presenciou aquele banquete, conta que nunca viu tamanho exemplo de solidariedade e integração entre as famílias locais. Enquanto isso, um leilão de gado, com cerca de 600 bezerros, era organizado nas redondezas. Às 16 horas, uma linda decoração foi disposta em frente à igreja para o cerimonial das Ritas. Dezenas de garotinhas, vestidas com hábitos iguais ao da padroeira, fizeram uma linda apresentação e emocionaram a todos. 

Após a tradicional procissão, foi realizada a bênção da pedra fundamental da nova matriz, que passaria por uma série de reformas chefiadas pelo Pároco Pe. José Carneiro Pinto. Como recordação das festividades, um lindo escudo da Ordem Agostiniana veio diretamente do Rio de Janeiro e foi apresentado à população. Em seguida, o Arcebispo-Bispo de Marília, Dom Hugo Bressani realizou uma missa e as festividades continuaram pela noite adentro. Daquele dia em diante, nossa cidade nunca mais seria a a mesma. Através da solidariedade entre as famílias, Santa Rita do Sapucaí teria seus habitantes mais unidos do que nunca e orgulhosos pelo seu enorme potencial para construir coisas belas.

Para aqueles que não tiveram a oportunidade de viver esse evento ainda existem alguns registros fotográficos produzidos por Róssio de Marchi e um filme captado pelo cinegrafista Del Picchia. Apesar de muito danificado pelo tempo, algumas cenas foram editadas em DVD e mostram detalhes daquele evento inesquecível a todos os santa-ritenses. 

(Por Carlos Romero Carneiro)

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