quarta-feira, 25 de abril de 2012

O bom combate de Clemenceau Miranda

Como foi o início da sua vida?

Meu pai casou muito tarde. Ele tinha 48 anos e minha mãe 18. Tiveram 11 filhos. Ele tinha uma fazenda de 250 Alqueires e tentou construir uma estrada que cortava suas terras para não precisar pagar pedágio. Por causa disso, quebrou. Eu trabalhava com minha família na roça, em Ubá. Ele tinha comprado um sítio. Vendeu uma fazenda de 2500 alqueires e comprou um sítio, depois, de 80 alqueires. Nesse sítio eu o ajudei a plantar laranja, cebola e fumo. Eu tinha entre quatro e cinco anos.

Mais tarde nós fomos para Coimbra (Minas). Nessa época meu pai pediu para que eu aprendesse um ofício, para que não passasse dificuldades. Eu cheguei em uma alfaiataria e pedi para aprender. Eu fiquei 8 meses trabalhando com eles mas fui obrigado a sair para poder ajudar a minha mãe. Eu não ganhava nada. Minha mãe fazia doces pra vender e eu ajudava. Alguns anos depois, comecei a trabalhar com um senhor que era Sírio.

Lembro que gostava muito de futebol. Nessa época, eu formei um timezinho de jogávamos em um campo de terra nas horas vagas. Estávamos até bem no compeonato. Certo dia, conheci um amigo no campinho que me convidou para ir para Belo Horizonte. Eu tinha trabalhado 3 anos com o sírio e ganhado 10 mil cruzeiros. Com o novo emprego em uma casa de sinuca eu ganharia 480 mil cruzeiros. Fiquei muito contente porque poderia ajudar a minha mãe.
E como foi que o senhor começou nas Pernambucanas?

Todo mês de dezembro, as Casas Pernambucanas empregavam um pessoal apenas para essa época. Então eu vi em um jornal de Belo Horizonte que estavam precisando de gente e me candidatei. Eu fui escolhido para trabalhar e, naquele mês de dezembro, vendi mais do que os nove balconistas juntos.
 
Como foi sua vinda para Santa Rita  do Sapucaí?

Era para eu ficar aqui um ano só. Eu tinha vindo apenas para a abertura da loja. Ficava na Silvestre Ferraz, naquela esquina que cruza com a Comendador Custódio Ribeiro.

Em uma época, quando eu já estava em Santa Rita, cheguei a morar dentro da loja com a minha família. Eu fiz o pedido para o dono das Pernambucanas para que pudesse morar dentro da loja, para não pagar o aluguel. A minha senhora já tinha tido o terceiro filho. Com eles, morei lá por muito tempo. Minha senhora trabalhou também comigo 6 anos lá.

Foi aí que o senhor ficou amigo da dona Sinhá Moreira?


Dona Sinhá sempre fazia compras na loja para realizar suas obras. Certa vez, foi falar comigo sobre as compras a prazo. Estava sem jeito. E eu falei a ela: “Dona Sinhá, o talões são provisórios. A senhora não está comprando fiado.” E ela aceitou. Eu fiz o que foi possível para atendê-la bem.

Sinhá Moreira tinha dois irmãos. Com a fortuna que herdou, a primeira coisa que fez foi comprar, perto do Inatel, um pasto e construir 80 casas para famílias sem condições. Os moradores escolhiam a casa que queriam. Escolhiam a planta que quisessem. 

Por gestos como esse foi que o senhor começou a gostar da cidade?

Com esses gestos, eu que tinha vindo para Santa Rita para ficar só um ano, esqueci de voltar. Eu percebi que gostava muito desta cidade. Fiquei. Não tinha ilusão e nem intenção de ficar rico. Eu tinha a intenção apenas de ajudar quem eu pudesse. Eu comprei um lote e construí minha casa, depois de 30 anos de trabalho. Fui servente de pedreiro da minha própria obra.

O senhor também ajudou na construção do nosso campo de futebol, não é?


Surgiu um amigo aqui que trabalhava na coletoria e que gostava de futebol. Naquele tempo, o campo de futebol não era como hoje. Ele era atravessado, ficava na horizontal. Nós então começamos a tocar os times de futebol para fazer renda para construir o estádio. A prefeitura, na época, oferecia pra gente um pedreiro e dois serventes. O resto a gente tinha que comprar. Então eu e o João Costa trabalhamos oito anos para construir o campo, do jeito que é hoje. Naquela época, tinha um buraco naquele local de oito metros de profundidade e Dona Sinhá Moreira ajudou, com os caminhões dela, a aterrar o terreno. Lembro que ela colaborou em tudo o que foi possível para construir aquele campo de futebol.

Qual era a sua contribuição nesse projeto?

Naquela época, nós tínhamos uma renda com o futebol muito grande. Nós fizemos um campeonato para a cidade e, com isso, foram surgindo bons times. Minha função era apenas receber o dinheiro, separar a renda dos times e comprar todo o material do campo para o pedreiro construir. Eu fazia esse serviço e voltava para o meu trabalho nas Lojas Pernambucanas. Eu gostava de futebol mas não podia deixar meus afazeres. Com isso, eu fui criando amizades e minha história se enriqueceu. Fiz muitos amigos, tanto através do futebol, como também do meu trabalho como vendedor.
Foi nessa época que surgiu o seu cinema?

Eu tinha um amigo na maçonaria que me convidou para fazer parte de uma sociedade no cinema. Eu tive uma série de problemas nessa época. O aparelho era muito ruim e dava um trabalho danado. Foi quando fiquei sabendo que tinha fechado o Cine Glória em Pouso Alegre e que estavam vendendo os aparelhos. Eu fui lá com um amigo que conhecia essas coisas. Ele viu o equipamento e falou: “Pode comprar que  é alemão, uma maravilha.” Eles tinham umas cadeiras pra vender também. Eu comprei o aparelho e mais 100 cadeiras. Dei um jeito de pagar à prestação. Isso era por volta de 1954. Eu montei o cinema no mesmo ponto onde antes era a Pernambucanas. Com isso, tocamos o negócio. O nome “Cine Vitória” foi idéia minha. Era o que a gente queria:  alcançar a “vitória”, não é?

Porque o senhor decidiu fechar o cinema?


Porque o cinema aqui da praça tinha bons filmes e o meu não. O povo de Santa Rita não gostava muito do meus filmes porque eram sobras.

E a Casa Miranda? Como surgiu?

A Casa Miranda surgiu quando eu terminei a sociedade que tinha.  Nós dividimos o estoque. Foi então que eu abri a Casa Miranda e negociei, durante anos. Eu aluguei o prédio da antiga Casa Andare (Praça Santa Rita) e morei 13 anos lá. Hoje meus filhos tomam conta.
A que o senhor atribui o sucesso da sua loja?

Como eu trabalhei muito tempo nas Pernambucanas, usava o estilo de trabalhar dela para a minha loja também. Por isso, ela ia muito bem.

O senhor acha que a política, antes, era melhor do que é hoje?

Não. Política sempre foi política. É muito difícil. Eu nunca aceitei política. Nunca quis nada que viesse dela.

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2 comentários:

  1. O sr. Miranda é uma pessoa maravilhosa, assim como toda a sua familia.

    Apoiou muito minha mãe em momentos dificeis que passamos.
    Uma das melhores pessoas que conheci em Santa Rita.

    Um grande abraço à ele e toda a familia.

    Mamão

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  2. UM HOMEM LIVRE E DE BONS COSTUMES QUE MERECE TODO O NOSSO RESPEITO E ADIMIRAÇÃO.
    TFA

    WALTER RENNÓ

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