terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ruy Brandão, o nosso patriarca do radialismo

Era uma hora da manhã quando a Valsa Clube XV fez com que reverberassem dos rádios notas musicais luminosas diretamente dos 1550 kilohertz. Dia inesquecível aquele 07 de novembro de 1946, quando Ruy Brandão realizou o sonho de criar a sua rádio. Enfim era oficial, não haveria mais problemas com a fiscalização. O prefixo era o ZYJ9 com 100 Watts de potência.

Em caráter experimental, a “Rádio do Ruy”, como então era chamada, operou até 12 de março de 1947, quando então efetivamente começou a funcionar.  Naquele dia então, o Patriarca dos radialistas, lembrou-se das revistas argentinas e das galenas que fabricou.

Chovia muito num certo dia gelado de meados de uma determinada época e as botas de verniz de Ruy Brandão ficaram enlameadas quando o padre da paróquia de Volta Grande veio cumprimentá-lo. Ele havia solicitado os serviços do Patriarca dos Radialistas para a instalação de um sistema de som em sua igreja. Ele sorriu ao ver os megafones no alto da capela e transbordou sua satisfação num “muito obrigado”. Volta Grande virou Careaçu e Ruy Brandão o pai dos comunicadores de Santa Rita do Sapucaí.

Muito antes da “Rádio do Ruy” existir, o Patriarca dos Radialistas já fabricava em sua oficina os chamados galenas, pequenos rádios feitos artesanalmente. Rádios que aprendeu a fazer através de revistas argentinas especializadas em eletrônica. Sua oficina ficava à rua Antônio Moreira e às vezes lembrava-se, debruçado no balcão, dos tempos da “exportação”. Entrevista concedida por Ruy Brandão ao Jornal Minas do Sul, de 16 de marco de 2002:


Qual foi o período mais difícil?

Sem dúvida nenhuma foi no início. As dificuldades eram imensas, não só na autorização como também no dia-a-dia de uma estação de rádio que funcionava em uma cidade muito pequena como era Santa Rita do Sapucaí de então, com poucos recursos.
Como o senhor pagava as despesas e a manutenção da rádio ?

Eu tinha um programa  chamado “Parabéns a você”. As pessoas ofereciam músicas aos aniversariantes, seus amigos e parentes, e pagavam uma pequena taxa. Todos gostavam muito do programa e por isto ele tinha muita audiência.

O senhor recebia críticas?

Sim, algumas. Mas isto é normal. O que me magoava eram as críticas ofensivas e maliciosas. Mas isto é da vida. Eu me lembro que quando eu instalei a rádio na chácara de meu pai, aqui na rua que leva o seu nome, as pessoas diziam que a rádio era muito longe da cidade. Veja você, hoje, a rádio está no centro da cidade...
As pessoas reclamavam que tocava muitas vezes a mesma música. Mas acontece que a rádio tinha poucas músicas. Tinha que repetir mesmo.  Lembro de uma que tocava muito, era “Cavalo Preto”. Lembro-me muito bem dela.

Na década de 60 tinha um programa sertanejo. Como  era?

É verdade. Era levado ao ar aos domingos, à tarde e se chamava “Concurso de violeiros”, e tinha a participação de duplas da cidade e de outras de fora. Lembro-me que uma vez a dupla Tonico e Tinoco estava se apresentando em um circo na cidade. Então nós os convidamos para participar do programa. Eles vieram em um imenso Dodge Dart, novinho em folha. Quando o carro chegou aqui na esquina (Rua Sancho Vilela com  Rua  Cônego Adolfo) , ele encravou no barro. Tivemos que chamar os vizinhos para empurrar. No programa que eles tinham na Rádio Bandeirantes de São Paulo, eles falaram: Oh, prefeito de Santa Rita do Sapucaí, mande calçar as ruas da cidade.

Quando  eu trabalhava na casa Nagib Elias, na Rua da Ponte, eu construí um sistema de intercomunicação entre a loja e o depósito, que ficava nos fundos do terreno. Nunca em Santa Rita alguém havia ouvido falar  nisto. Foi um sucesso total!   

Reportagem realizada e gentilmente cedida pelo estimado amigo Evandro Carvalho

Esta matéria é um oferecimento de:

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