terça-feira, 1 de novembro de 2011

A bondade e a simpatia do saudoso Sebastião Felipe

Quem passou a infância entre as décadas de 60 a 80 em Santa Rita do Sapucaí, com certeza, tem boas lembranças de quando o querido Sebastião Felipe estacionava seu ornamentado carrinho para vender amendoim às crianças que brincavam na praça da Matriz.

Conhecido a vida inteira como Pica, o rapaz magro e esguio que viveu os primeiros anos de sua vida nas redondezas do Asilo, casou-se cedo com Maria Eva e passou a trabalhar como servente de pedreiro junto com o senhor Antônio Galdino. Ao longo de sua vida simples, conquistou muitos amigos como João Bento, Zé Pequeno, Benedito Humberto, Paulo Gabriel e Sebastião Justino. O ponto de encontro acontecia nos tradicionais bailes da Associação José do Patrocínio onde sua especialidade era tocar instrumentos como cabaça, bongô, pandeiro e chocalho.

Música sempre foi a grande paixão de Sebastião Felipe. Com seu jeito alegre e sempre de bem com a vida, era dele a cuíca mais bonita das redondezas, tocada sempre que a “Sambistas do Morro” – primeira escola de samba da cidade – participava das 4 noites de carnaval. De seus nove filhos, dois deles se tornaram grandes nomes da música local: Tonico, um dos maiores saxonistas da região e José Luiz, grande baterista da cidade.
Pouco tempo depois de se aposentar, 40 anos depois de atuar no setor de construção civil, Pica resolveu levar um pouco de amendoim para torrar em casa  e agradar esposa e filhos. Ao perceber que a família inteira havia gostado, sua esposa incentivou-o  a tentar vender alguns pacotinhos, depois da missa. A cestinha foi cheia e voltou vazia. A criançada havia adorado e nosso querido amigo descobriu uma maneira de agradar as pessoas, faturando alguns trocados.

À medida em que as vendas de amendoim começaram a melhorar, Sebastião Felipe decidiu comprar uma bicicleta e adaptá-la para trabalhar. Em uma bicicletaria, conseguiu substituir a roda dianteira por duas roda que dariam sustentação ao veículo. Já no marceneiro, deu um jeito de construir um local para depositar o produto que, ao ser envidraçado, funcionaria como painel. Como sua invenção estava ficando original e muito atrativa, nada mais natural do que colocar direção de carro no lugar do guidão, instalar um freio acionado pelos pés e finalizar com uma cobertura que o ajudaria nos dias de toró. O carrinho ficou um show!

Mal estacionou seu veículo repleto de penduricalhos em frente à igreja - para aguardar o final da missa – e a criançada se aglomerou para admirar a novidade. Aquele carrinho era super interessante e ainda tinha radinho de pilha, buzina, brinquedos por toda parte e deliciosos amendoins. Aquela receita genial fazia a alegria dos moleques e trazia uma grande satisfação ao querido Sebastião que sempre se emocionava com as demonstrações de carinho.
Muito além da diversão que aquele querido senhor de roupas coloridas promovia entre as crianças, o que fazia de Sebastião uma pessoa especial era sua inocência, sua bondade e seu jeito jovial de agradar a todos. Por mais de 40 anos, os santarritenses se acostumaram a vê-lo estacionado com seu carrinho na praça. De lá, ninguém saía sem seu pacotinho. E quando a criança não tinha dinheiro, ganhava amendoim do mesmo jeito e se divertia como todas as outras.

Tonico conta que as maiores emoções do pai aconteceram no nascimento da primeira neta – quando ele foi às lágrimas de tamanha alegria – e em sua comemo-ração de Bodas de Ouro. Ao completar 50 anos de casado, Pica ficou todo embaraçado quando o Padre José pediu que ele beijasse a noiva em frente ao altar. O filho diz que ele ficou morrendo de vergonha, mas realizou o pedido de nosso estimado Monsenhor.

Sem parar de trabalhar desde que se conhecia por gente, faleceu aos 82 anos de idade, enquanto torrava o amendoim que havia acabado de trazer de Piranguinho. Após mais de 4 décadas encantando crianças e adultos com sua alegria incrível e sua bondade imensa, Santa Rita do Sapucaí se despedia de uma das criaturas mais especiais que nasceram por aqui.

Hoje, seu lendário carrinho ainda pode ser admirado por muitos conterrâneos e visitantes. O veículo faz parte do acervo permanente de nosso museu municipal e fecha com chave de ouro o passeio por nossa história. Revê-lo significa retornar a um tempo de pureza de nossa cidade. É como voltar a uma época em que Sebastião Felipe e seu ajudante “Índio” ainda compunham o cenário de nossa praça e faziam a alegria de muitas ge-rações. Ô saudade...

Carlos Romero Carneiro

Esta matéria é um oferecimento de:

Um comentário:

  1. tenho 37 anos e me lembro quando eu ia a missa com minha mae eu tinha uma idade de 10 anos eu falava pra minha mae que eu so ia na missa se ela me comprasse amendoin do seu pica para mim que tempinho bom

    ResponderExcluir