quarta-feira, 8 de julho de 2015

As curiosas histórias de João Wagner

É verdade que existe um tesouro enterrado na rua Silvestre Ferraz?

Meu avô contava que ali na rua Silvestre Ferraz, em uma casa que desmancharam para construir o estacionamento do Hotel, morava um italiano. O homem era folheiro. Ele fazia regadores, canecas, bacias e outros utensílios. Dizem que ele guardava a libra esterlina em uma panela, nos fundos de sua casa. Quando ele morreu de infarto, a mulher ficou pobre porque não conseguiu encontrar o dinheiro. 

Na época em que o Marcos foi demolir a casa do homem,  estavam mexendo debaixo do assoalho e acharam várias moedas cunhadas em cobre, de ouro preto, mas já estavam deterioradas. Acharam bastante e eu até ganhei uma, mas a libra esterlina nunca mais viram.

Isso me lembrou quando caiu um canto da casa, que era feita em pedra e, quando o Capitão Paulo viu a Alicinha junto com o Quita, trabalhando na construção, perguntou:  “Hey! Estão procurando tesouro aí?” A Alicinha só entendeu a brincadeira quando eu contei a história pra ela. Ele sabia, mas ela não.

E o italiano da fábrica de laticínios?

Aqui na estamparia havia uma máquina de arroz e um laticínio de um italiano. No local, havia um português que trabalhava com ele, o Saraiva, que era dono do cafezal logo acima. Quando o italiano (de família Dezinato) morreu, seu filho começou a viajar muito a São Paulo, onde vendia sua manteiga enlatada e gastava todo o dinheiro nas boates. Em pouco tempo, o rapaz quebrou e o Rennozinho comprou esse laticínio e o cafezal do Saraiva. O pagamento foi um carroção com quatro burros, carregado de feijão, em troca daquela propriedade. 

Conheceu o Dito Cutuba?

O Dito Cutuba era muito interessante. Sempre que chegava um circo, ele já entrava no meio e se enturmava com a ciganada. Uma vez, vieram duas lutadoras chamadas Olga Zumbano e Broto Cubano e ele as desafiou. No ringue não havia tapete. Era pura tábua. Ele tomou uma coça e eu brinquei: “Você apanhou, heim!?” E ele respondeu: “Pelo menos eu abracei ela!” 

Conhece a história da mula grã-fina?

Uma vez apareceu um circo por aqui e trouxe uma mula chamada Grã-fina. Ninguém parava nela. Eles diziam que, quem conseguisse, ganha-ria um prêmio. Nesse episódio, o Cutuba amarrou um pau na cabeça do arreio e saiu com ele nas costas, dizendo que iria montar no animal. Foi só montar e sair voando. O Joaquim Carlito contava que a mula pulava na altura da lâmpada da Companhia Sul-Mineira!

Dizem que, quando esse mesmo cirquinho foi a Três Pontas, um homem conseguiu o feito, mas não quiseram dar o prêmio. Ele arrancou um revólver e deu três tiros na mula.

Lembra mais histórias do Cutuba?

Uma vez, ele sumiu e disseram que ele tinha sido assassinado. Ele ficou uns dois ou três anos sem dar as caras até que parou um trem carregado de pranchas de madeira e ele desceu. 

Quando chegou no bar do Zezinho do Arnaldo, todo mundo começou a cumprimentá-lo. Ele veio com o cabelo cortado no estilo dos índios moicanos e dizia: “Sou índio jamaicano!”. 

No meio daquela festa, tinha um menino ao seu lado com uma inflamação na cabeça e que usava um chapéu pra tampar o ferimento. Naquele dia, seu pai o levaria para fazer uma consulta com o senhor Adelino e cortar aquilo. Empolgado, o Cutuba deu um tapa na cabeça do menino e o coitado caiu no chão. Quando viu aquele sangue todo, o Dito saiu correndo e tiveram que cercá-lo. O pai chegou pra ele e falou: “Eu ia pagar pro Seu Dilino fazer o serviço e você fez dado! Muito obrigado!”

Mas aqui não tinha só o Cutuba, não! O Zé Canjica via alguém com um chapéu novo, chegava por trás, trocava e saía correndo! Ele era um cara grande. Você chegava nele, perguntava “o que é que se come com leite” e ele dizia: “Can Can Can Canjica!” Quando era mais novo, o povo mexia e ele jogava pedra ou falava palavrões de alto escalão! Um dia, mexeram com ele e a pedra que ele tacou acertou na cabeça de uma criança. O Ditão viu aquilo e quase matou o Zé Canjica. Mas tem um monte de histórias dele. Lembro que ele deitava no chão, fingindo de tonto, só pra ver as pernas das mulheres. 

O Zé Canjica e o Zé Amarelo sempre iam presos. O Zé Canjica roubava pão nas casas e gritava “Pá Pá Pá Padeirooo!”. Também roubava roupas nos varais e o chapéu dos outros. Já o Zé Amarelo morreu na cadeia. Tinha um homem na rua do Queima que chamava Guiga e, quando a gente gritava “Guiga Cagui”, ele saía correndo atrás da gente e cada um corria pra um lado. Foi o Guiga quem matou o Zé Amarelo na cadeia. 

Por que o Guiga foi preso?

Eles o levaram pra zona, deixaram ele bolir com a mulherada e, quando voltou, começou a grudar o povo na rua. Ele ficou preso muitos anos.  Ficou mais de 20 anos internado. Quando faleceu, já não mexia mais com ninguém. Era um homem bravo e muito forte. Não podia brincar com ele. 

E as histórias do Joaquim Carlito?

Um dia, o Joaquim Carlito jogou no tigre e saiu do bar do Zezinho do Arnaldo em direção à sua casa. Bem ao lado da Escola Normal, tinha a casa da dona Adélia e, no muro da casa dela, ele viu um gato e ficou uma fera. Como tinha jogado em outro bicho, aquilo era um sinal de que não iria ganhar. Ao chegar perto, ele deu um tapa, mas era um ouriço! Por pouco não perdeu a mão! Aquilo inflamou tudo e  ele ficou um ano com a mão daquele jeito!
O Joaquim Carlito tirava leite onde hoje é o Claitão. Lá em cima do morro, em frente à rádio, tinha um curral e todo dia ele ia tirar leite. Um dia, ele fez o serviço todo e, quando chegou no comecinho da rua do Bepe, lembrou que tinha esquecido de desamarrar a vaca. Ele largou o balde no chão e subiu de novo. Quando voltou, um cachorro tinha bebido o leite todo!

Conte-nos a história do chouriço

Teve um tempo em que ele começou a buscar sangue no matador velho para fazer chouriço. Um dia, ele cobriu aquilo com um papel e, quando chegou no bar do Didi, largou a lata na entrada e foi ver a turma jogar sinuca. Nisso, passou o Pancho com uma carroça de lixo e jogou tudo dentro! O Carlito foi lá na prefeitura reclamar e o prefeito teve que pagar a mercadoria dele!

Conhece mais histórias dele?

O  Dito Cigano, ali na rua do asilo, alugou uma casa onde cobrava pra turma jogar. Então estava o Zacão, o Dito Zeferino, o Zé Luiz e mais um que esqueci o nome. Caía uma chuva danada, quando escutaram uma pancadaria na porta. Quando abriram a porta, entrou o Joaquim Carlito, molhadinho e o Zacão falou: “O rapaz! Você tá molhado?” E o Carlito gritou: “Cê não tá vendo que eu to molhado?” E o Zacão respondeu: “E pra que serve esse guarda-chuva pendurado no seu braço?” Ele já juntou o guarda-chuva e quebrou no joelho!

Como era a Pretete?

A Pretete andava aí pelas ruas e, no domingo, havia duas bandas de música que tocavam na praça. Uma ficava no coreto e, a outra, perto da casa do Chico Moreira. Quando uma parava de tocar, a outra começava e a Pretete ficava dançando. Isso era todo domingo. Havia um desafio entre essas duas bandas e, uma vez, os músicos chegaram a pegar no tapa! Numa cidade desse tamanho tinha quatro bandas! Quando morria alguém de posses, eles faziam a procissão e vinham na frente uma cruz com um lampião de cada lado, o padre e um coroinha queimando incenso atrás. Logo em seguida, vinha o defunto e, ao fundo, uma banda de música. Eles traziam até à igreja, faziam a missa de corpo presente e iam até a subida do cemitério. No pé do morro, o Zé Paquinha puxava uma música fúnebre e as famílias começavam a chorar! Uma coisa interessante é que esse músico sabia fazer a clarineta rir e chorar... foi o maior tocador que teve por aqui! Engraçado é que a cidade cresceu, hoje tem uma banda só e não toca tanto quanto naquela época.

E a moto que subiu a torre da igreja? 

Teve uma época que apareceram por aqui duas russas que se equilibravam em um pêndulo preso sob uma motocicleta. Eles amarraram um cabo de aço do coreto até a igreja e lá se foi a moto com uma mulher de cada lado. A ideia era que elas dançassem rock quando chegasse perto do relógio, mas o padre não deixou porque era quaresma. A motocicleta não caía porque as duas mulheres eram contrapeso. Tinha um ferro por baixo, como um trapézio, onde elas iam sentadas.

Aqui sempre aparecia um povo pra fazer essas coisas. Lembro de um cara que deitava em prego e de um homem que trouxe um lagarto ao antigo mercado para chamar a atenção do povo e vender remédio. O tal remédio curava tudo! 

Oferecimento: Smile Odontologia

Nenhum comentário:

Postar um comentário