quinta-feira, 10 de maio de 2012

Juiz de Santa Rita do Sapucaí desenvolve projeto social

 
Conte-nos sobre o seu projeto

Pela experiência que eu tenho na atividade como juiz percebi que, no processo penal, a vítima é esqueci-da. Você pune ou não a pessoa, mas o prejuízo continuará existindo. Na maioria dos casos, tantos os bens materiais quantos as perdas imateriais não são revertidas. Por este motivo, procuramos criar uma forma de fazer com que o preso se reconcilie com sua vítima. Além de pagar para a sociedade, através da pena cumprida, ele também terá a oportunidade de pagar pelos danos que causou. Por outro lado, vale ressaltar que existe o sofrimento proporcionado também à família do detento. Muitas vezes, é ele a pessoa que coloca o leite dentro de sua casa. Quando ele deixa de promover o sustento, pode fazer com que seu filho saia da escola para trabalhar, sua filha se prostitua e sua esposa seja obrigada a fazer tripla jornada para alimentar a família. Foi então que eu conversei com dois empresários e sugeri a eles que pagassem 1 salário mínimo para cada preso, de forma que eles prestassem serviços à comunidade. Neste processo, todos os prédios seriam públicos. Metade do salário pago seria destinado à família do preso e a outra metade à vítima dele. No final desse projeto, uma audiência seria marcada e, se a vítima quisesse, receberia o dinheiro atualizado, das mãos de quem o subtraiu. Foi aí que nós criamos este projeto.

Como a família do preso é beneficiada?

A primeira etapa foi um assistente social fazer uma visita às casas dos presos para sabermos o que, realmente, seria preciso doar. A ideia não é repassarmos o dinheiro, mas fornecermos aquilo que a família realmente precisa. Enquanto isso, a cada três dias trabalhados, 1 dia é reduzido na pena dele. No caso do preso ser um traficante, como já aconteceu, metade do seu salário vai para a Fazenda Esperança, cujo objetivo é recuperar dependentes químicos. Com isso, nós conseguiremos manter a história local, através da manutenção de todos os prédios públicos e realizar um bom trabalho social. Na minha opinião, esta é uma alternativa onde todos ganham e onde temos a oportunidade de realizar a justiça reparativa.

Como funciona a escolha dos detentos?

Nós procuramos escolher pessoas que estejam em seu último ano de reclusão, que já tenham passado pela parte mais dolorida da pena e que estão começando a se aprontar para retornar ao convívio da sociedade. O interessante é que, nesse processo, eles acabam aprendendo uma profissão, como a de pintor, e se sentem, verdadeiramente, importantes para a sociedade. Um deles, até conseguiu emprego por conta da profissão que aprendeu. Nesse período, eles permanecem sob nossa vigi-lância, já começam a trabalhar e a-penas dormem na cadeia. Vale dizer que todos eles estão cientes de que têm uma única chance. Já houve um caso em que a família do preso quis entrar aqui para trazer um refrigerante para ele e eu pedi para que ele fosse desligado do projeto. Essa atitude doeu em mim, mas é necessária para que não vire bagunça.
Os presos dão sinais
de mudança?

Um fato que eu achei muito interessante foi que um dos detentos que participava desse projeto, vindo da Paraíba, ganhou saída temporária para ir ver sua família e, ainda assim, veio aqui para trabalhar. Ele disse que não queria perder o dia e recebeu normalmente pelo dia trabalhado. Achei essa atitude muito legal. Isso demonstra que ele não voltará a cometer o mesmo erro.

Como podemos colaborar?

Na minha opinião este é um projeto muito enriquecedor, fácil, simples e prático. É sempre bom ter um pouco de cuidado, mas vale a pena. Quem quiser participar, pode colaborar com materiais, com dinheiro ou da forma como preferir. Neste projeto de pintura do fórum, por exemplo, a Maçonaria nos forneceu grande parte da tinta. Quando nós formos para a delegacia, precisaremos de uma nova campanha e os empresários que estão colaborando, fecharam conosco por seis meses. Por isso, quem quiser pagar pelo serviço de um preso, será muito bem vindo. Atualmente, estamos realizando também um trabalho na beira do rio e toda ajuda é bem-vinda.

Oferecimento:

3 comentários:

  1. cezar romero de souza10 de maio de 2012 às 12:07

    Espetacular! Formidável! O fato de tudo estar na Lei, não tira o mérito na iniciativa do Magistrado. Nosso país tem Lei de mais e iniciativas boas de menos. Parabens!

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  2. Parabens Excelentisso Juiz. Que esta atitude se propague por todo o Brasil, sao atitudes assim que vao mudar o nosso pais

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  3. Formidavel, gostaria de parabenizar o Vssa. Excelencia. Sao atitudes assim que mudaram o Brasil. Espero que se propague por todo o Pais. Acabei de ver a entrevista no fantastico e fiquei impressionado

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