quinta-feira, 5 de abril de 2012

Capitão João Antônio Dias, o Tropeiro de Santa Rita (Por Ivon Luiz Pinto)

Tio João Correia era grande tropeiro em Delfim Moreira. Alto, forte e bugre. Eram chamados de bugre os mestiços de índio. Tropeiro é a designação dada aos condutores de tropas, assim chamadas as comitivas de muares e cavalos.

O tropeiro é um personagem muito importante na história de Minas Gerais (e do Brasil). Um dos reflexos da sua importância na história do Estado está na culinária: o Café e o feijão tropeiro. O  prato que se tornou uma das especialidades na cozinha mineira já era carregado por esse viajante montado das estradas de terra que ligavam Minas Gerais ao Rio de Janeiro. Há também o estilo de viola tropeira, batizada pelo modo peculiar de tocar o instrumento que esses cavaleiros tinham.

A topografia eriçada e hostil de Minas Gerais não permitia estradas que comportassem o uso das carretas, como nos pampas de Castela. Impunha-se aqui a solução que o Inca encontrara para vencer com o lhama os socavões da Cordilheira e, por isso, foi utilizada a tropa de muares.
 
Inicialmente, a  função das tropas era levar para o litoral o ouro e as pedras preciosas das Gerais e voltar trazendo o sal, a carne e os mantimentos, pois aqui a preocupação era a extração do ouro e das pedras e não se cultivava a terra.
 
Os tropeiros de Minas que iam ao Rio preferiam entregar e receber suas cargas no porto de Estrela, à margem do rio Inhomerim, a tocar diretamente à Capital. Ainda hoje, o local onde se desembarcava na Corte, vindo do porto de Estrela, se chama “Cais dos Mineiros”.
 
Capitão João Antônio de Souza Dias era oficial de carreira do exército português e veio assentar residência nas terras do vale do Sapucaí. Sendo um dos primeiros povoadores de nossa cidade, casou-se com  Mariana Ribeiro Dias, moça da família dos Ribeiros de Soledade de Itajubá, atual Delfim Moreira.
 
Desse casamento nasceram 10 filhos, sendo 5 mulheres e 5 homens:
 
Francisca, Maria José, Ana Cândida, Inácia, Placedina, Custódio, José Pedro, Francisco, Antônio e Teotônio.

Atento aos negócios da região, o Capitão fazia  comércio levando no lombo de sua tropa de mais de cem burros castanhos, produtos da terra para o vale do Paraíba e, daí, seguindo para Parati, através de Guaratinguetá e Cunha. Muitas vezes, alargava a caminhada e chegava até o Rio de Janeiro. Seu filho, Antônio Paulino, era companheiro constante nas viagens e, quando o pai já estava cansado, empreendia a responsabilidade total da viagem.

Para facilitar o transporte de sua carga ele construiu, com madeira de sua propriedade, uma ponte sobre o rio Sapucaí, quase no mesmo local onde está hoje uma ponte de cimento perto do Clube Santarritense. O roteiro comum das tropas era por Boa Vista de Itajubá, Registro de Itajubá - atual  Piquete - Lorena e, pela estrada de Guaypacaré, chegava-se a Guará e daí por Cunha descia até Paraty. Em algumas viagens ele e seus filhos chegaram até São Paulo e Rio de Janeiro.
 
À frente da tropa ia a mula madrinha, com o peitoral cheio de cincerros que batiam um som metálico compassado, acompanhado pelo bater dos cascos dos outros animais. Junto à madrinha, na frente, ia o tocador e, lá atrás, iam o arreador, o ferrador e o cozinheiro, levando mulas com o material necessário para o seu ofício. “Malotagem” eram os apetrechos e arreios necessários de cada animal e acondicionamento da carga e “broaca” os bolsões de couro que eram colocados sobre a cangalha e serviam para  guardar mercadoria. A alimentação na viagem era constituída por toucinho, feijão preto, farinha, pimenta-do-reino, café e fubá

O Arquivo Público Mineiro – APM – traz o seguinte registro de 1834:


Relação dos habitantes do Distrito de Santa Rita, da Freguesia de São Sebastião da Capituba, Termo da Vila de Campanha, Comarca do Rio Sapucaí:

Juiz de Paz - João Antônio Dias
Segundo Quarteirão
- m Capitão João Antônio Dias
(branco 48 casado lavrador sabe ler)
- f  Mariana Ribeira de Jesus (branca 40)
- m Custódio (branco filho 18)
- m José (branco filho 14)
- m Francisco (branco filho 11)
- m Antônio branco filho 9)
- m Teotônio (branco filho 5)
- f Maria (branca filha 16)
- f Ana (branca filha 8)
- f Inácia (branca filha 7)
- 17 escravos cativos

Oferecimento:

Nenhum comentário:

Postar um comentário