terça-feira, 20 de setembro de 2011

Um grande construtor

Toda grande obra necessita de um construtor à sua altura. Na história da Escola Técnica de Comércio, esse papel coube ao professor João Cellet. Diretor da instituição entre fevereiro de 1962 e março de 1977, ele soube demons-trar que uma obra educacional não se resume em um conjunto de salas preenchidas com móveis e equipamentos. Além de conduzir com mãos firmes a construção do prédio próprio da ETC, preocupou-se diuturnamente com o ensino, a disciplina e a transparência, empregando sua credibilidade para a consolidação do estabelecimento de ensino.
O ex-diretor nunca deixou de lecionar nos 22 anos em que labutou na escola. Sua contratação se deu em 1955, a convite do professor Alan Kardec Nascimento, para as disciplinas de contabilidade (geral, comercial, industrial, pública e bancária). À época, João Cellet era cotista da ETC e um dos contadores mais respeitados da cidade. Havia concluído o curso técnico de contabilidade, em Varginha, e comprado o escritório de Homero de Mattos, em Santa Rita, juntamente com o sócio César Duarte.

Não foi fácil o início da gestão de João Cellet na diretoria da Escola de Comércio. Quando foi empossado, o curso técnico de contabilidade deixava de funcionar nas dependências da Escola Técnica de Eletrônica, que crescia a cada ano e solicitava aquele espaço para novas atividades. O único caminho que restou ao diretor foi negociar o retorno às salas do primeiro andar do Grupão, mediante pagamento de aluguel. Algumas turmas, principalmente do curso comercial básico, chegaram a ter aulas nas instalações do antigo IMEE.

Ainda sob o fantasma das limitações financeiras, a escola era mantida, basicamente, pelo pagamento das mensalidades de alunos. Uma parcela menor da receita procedia de taxas de matrícula, admissão e transferência, entre outras. Foi em momentos de dificuldade que a figura serena de João Cellet se sobressaiu pela dignidade e grandeza que sempre marcaram sua trajetória. Em silêncio, o diretor emprestava dinheiro do próprio bolso à ETC para evitar que as contas fechassem com números negativos. Os empréstimos somente eram quitados quando a escola obtinha saldo suficiente – e os juros não eram cobrados.
João Cellet administrou as finanças da escola com honestidade e parcimônia. Desperdício era inadmissível. Para economizar, o diretor mandava reformar carteiras e até apagadores. Ampliar o acervo da biblioteca foi um trabalho árduo que dependeu de doações e sacrifícios – exemplo disso foi a compra da primeira Enciclopédia Barsa que a-conteceu de forma parcelada, em 1971.

Nos 15 anos em que dirigiu a ETC, João Cellet empenhou-se com todas as forças na obtenção de uma sede própria. A primeira tentativa aconteceu no início dos anos 60, quando o Educandário Santarritense adquiriu o prédio e o terreno que haviam pertencido ao IMEE. Mas a Escola de Comércio não utilizou esse espaço por muito tempo, visto que, em 1965, a maioria dos membros do Educandário decidiu doar o patrimônio ao recém-criado Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel). O destino da ETC foi selado em uma nova reunião da entidade mantenedora, na qual o Inatel se comprometeu a auxiliá-la financeiramente na construção do prédio próprio à medida que recebesse verbas governamentais.

A solução do impasse evitou que mais de 500 alunos dos cursos básico e técnico ficassem sem salas para estudar. As turmas foram transferidas temporariamente para a Escola Nossa Senhora de Fátima, de propriedade da Paróquia de Santa Rita. Enquanto isso, João Cellet buscava donativos para erguer um prédio no local em que funcionou a Santa Casa da cidade, na primeira metade do século XX. O terreno pertencia à Fundação Dona Mindoca Rennó Moreira (mantenedora da ETE) e foi vendido ao Educandário Santarritense por um valor simbólico, graças à sensibilidade do padre José Carlos de Lima Vaz.
As obras foram iniciadas em janeiro de 1966, ano em que o incansável João Cellet conseguiu mais de 1 milhão de cruzeiros em doações, além de uma verba federal de 10 mil. Houve também um empréstimo do empresário José Palma Rennó (10 mil cruzeiros), quitado com o dinheiro recebido do Inatel. A Paróquia de Santa Rita colaborou com outro empréstimo de 16 mil unidades monetárias da época.

No dia 1º de março de 1967, foram inauguradas as 12 salas que compõem o primeiro bloco da escola, em formato de “L”. É com esta letra que se escreve liderança e laboriosidade – duas das muitas qualidades de João Cellet.
(Carlos Romero)
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