terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Eu quero é botar meu bloco na rua... (e não na avenida) - Por Carlos Romero

Os blocos carnavalescos de Santa Rita são o nosso maior patrimônio cultural. Não temos notícia de outra cidade que mantenha viva a tradição dos carnavais da década de 30, de maneira tão próxima de sua essência, como acontece por aqui. O que tornou possível que tais agremiações, Ride Palhaço e Democráticos, se mantivessem fieis ao passado, foi a manutenção de um ritual que se estendeu por décadas, passando de pai para filho. A rivalidade, as histórias que sobreviveram a gerações, a paixão; tudo isso contribuiu para que este tesouro chegasse até nós. Será que irá acabar em nós?
Quando o carnaval foi transportado para a avenida, um erro absurdo foi cometido, uma vez que o referido ritual foi interrompido e todas as histórias que permearam a rua Cel. Antônio Moreira da Costa e a praça Santa Rita não vieram junto. O grande erro cometido por nossa geração foi ter permitido que fosse mudado o local do evento, enxertando os tradicionais blocos em um espaço sem a menor identificação com seus entusiastas. Essa atitude não só transformou os blocos em algo completamente diferente do que eram, como dissolveu boa parte daquela paixão que motivava a todos. 

Quando dizem que a mudança aconteceu por entenderem que na avenida cabe mais gente, afirmo que não estão com a razão. No roteiro original, havia um grande número de pessoas que acompanhavam o bloco puxando os cordões. A Antônio Moreira e a Praça comportam um número muito maior de pessoas e, não raramente, os dois blocos desfilavam, cada um de um lado da Praça. Quem esteve nos desfiles da avenida, sabe que depois que os blocos são montados em frente à E.E. Sinhá Moreira, só podem desfilar mais duas ruas até o destino final. Nos tempos da praça, as agremiações até podiam dar duas voltas em torno da Praça, antes de retornar.
Em nome do conforto, os voluntários que trabalhavam nos dois Blocos talvez não sintam a mesma emoção de antes e de nada vale uma arquibancada sem desfiles. Alguns podem dizer que é sinal dos tempos e até concordo em parte. Seria bom se os carros alegóricos fossem menores, mais simples e baratos como antes, mas coubessem no velho morro do José da Silva. Seria mais empolgante criar um projeto que possibilitasse aos avós poderem se divertir com os filhos e netos. Queria ver a volta das bandinhas, das marchinhas, dos postinhos, e sei que muitos santa-ritenses sentem o mesmo.

Com uma diretoria mais coesa, o Ride Palhaço deverá desfilar, em 2014, em comemoração aos seus oitenta anos. Oitenta anos! Uma grande oportunidade de seus líderes solicitarem uma reunião com os nossos governantes para pedir que o desfile aconteça, como antes, em torno da praça da Matriz, com postinhos e bandeiras dependuradas nas janelas! Esta é uma data especial. Em dez anos muita coisa acontece e pode ser que não haja outra oportunidade para reparar um terrível engano. Sinceramente, não consigo ver o Bloco dos Democráticos desfilar outra vez na avenida. Estava tudo lindo, com uma organização impecável, parecia muito com o meu bloco do coração, mas – para mim - não era ele. Esse aniversário, ao meu ver, poderia ser uma oportunidade do bloco mais antigo da cidade fazer com que tudo voltasse a ser como antes. Não queremos, com isso, que a tradição das Escolas de Samba seja quebrada. Mas é preciso entender que são coisas diferentes. A história não é a mesma. As motivações são distintas. Se não for assim, não consigo ver de outra forma. 

O lendário morro está aqui e nem nos importamos que o Ride realize seu grande sonho :) Se for preciso até podemos colaborar para que a festa aconteça. O objetivo agora é comum: “Botar o bloco na rua” (como diz a música) e não na avenida. Como diz o sambista, “A hora é essa.”

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