segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Opinião: Jocéu Capilo e a cultura do "Vai assim mêmo..." (Por Carlos Romero Carneiro)

O último final de semana produziu um imenso choque e, ao mesmo tempo, uma forte decepção aos habitantes de Santa Rita do Sapucaí. Há muito tempo nós temos sofrido com os assaltos e a violência cometidos na cidade mas, desta vez, a vítima foi um jovem que veio da distante Angola para encontrar a morte de uma maneira absolutamente estúpida e cruel. 
É difícil mensurar os efeitos que um crime assim pode produzir sobre a nossa cidade, além da barbárie em si. Primeiro, porque envolve a parceria entre dois países e isso gera repercussão, não somente local, como também internacional. Segundo, porque pode influenciar na decisão de novos alunos virem estudar no Vale da Eletrônica. Por fim, porque temos a noção do desamparo e não suportamos mais tantos casos de violência. Ninguém tem se sentido seguro em uma cidade onde crimes acontecem aos montes, sem uma solução efetiva para conter este mal. O fato é que todo mundo sabe que as coisas andam complicadas e que a violência têm sido uma realidade que não pode ser ignorada, mas não vemos nada acontecer. Talvez tenha chegado a hora das instituições, comerciantes, empresários, líderes comunitários e população em geral cobrarem soluções por parte das nossas autoridades.

Na mesma semana em que a morte de Jocéu Wando Capilo deixa Santa Rita de luto, um outro assunto movimentou as redes sociais. Trata-se da doação de lotes para a ampliação da região formada por diversos bairros, que ficou conhecida como "Nova Cidade." Pode parecer que estes assuntos não têm ligação mas, se pararmos para pensar que a violência tem aumentado em função da incapacidade de nosso efetivo policial em dar cobertura ao município como um todo, já que são escassos os recursos disponíveis pelos militares, o que acontece toda vez que criamos um novo bairro? A insegurança tende a aumentar! 

Cada vez que um novo bairro é criado, aumenta-se a responsabilidade da polícia, aumenta-se a abrangência dos serviços como fornecimento de água, luz, calçamento, saneamento básico, recolhimento de lixo, saúde, educação e muitas outras necessidades de nossos habitantes. Antes de ampliarmos a cidade, é preciso resolver os problemas graves que já existem no restante dela. 

E por falar em problema, nosso hospital - há um bom tempo - anda mal das pernas e isso não é segredo para ninguém. Até então, ninguém havia colocado as despesas na ponta do lápis, da maneira como deve ser feito, e descobriu-se um déficit na casa dos 200 mil Reais por mês que transforma qualquer rifa ou movimento pelo saneamento das dívidas em um saco sem fundo. O repasse do SUS é irrisório. Já o repasse da prefeitura, não tem sido capaz de suprir as necessidades da Fundação. Diante desta realidade, o que fazer? Fechar as portas? Trabalhar meio expediente? Reduzir o quadro de funcionários? Ao que parece, existe uma série de problemas graves e essenciais que deveriam, mas que não estão sendo encarados com a seriedade com que necessitam.

Sempre é bom lembrar que temos uma dívida com o BPS que, há 4 anos, ultrapassava a casa dos 30 milhões de Reais e que tem tudo para levar Santa Rita do Sapucaí para o buraco se não for quitada o mais rápido possível. Entra prefeito, sai prefeito... não vejo ninguém com boa vontade para encarar este rojão. Por falta de planejamento e de sequência administrativa, cada uma das 40 casas desapropriadas nos anos 80 já custa aos cofres públicos, cerca de 750 mil Reais. Até quando vai isso?
Em 1992, uma reportagem da Revista Veja apresentava uma estatística interessante sobre a cidade que acabava de completar 100 anos: tínhamos 27 mil habitantes e um índice de 1 homicídio a cada 2 anos. Nos 20 anos seguintes, a população local teve um aumento de 13 mil habitantes (32,5%) e o índice de homicídios cresceu assustadoramente. Daí eu pergunto: existiu um planejamento para que este crescimento não produzisse impactos no restante da cidade? Por que o Plano Diretor foi ignorado por tanto tempo? Essas casas que vemos ser construídas em terrenos alagadiços e de várzea não deveriam ser submetidas a um controle maior para evitar um desastre no futuro? Vejam como uma coisa puxa outra e, no final da história, quem paga as contas somos todos nós!

O que acaba com a cidade e com o país é a política do "Vai assim mêmo..." A cidade não está dando conta de suprir as necessidades e por isso não pode crescer mais? "Vai assim mêmo..." A cidade está violenta e não tem efetivo policial para fazer cobertura? "Vai assim mêmo..." Temos uma dívida de mais de 30 milhões e precisamos pagar o quanto antes porque virou uma bola de neve? "Vai assim mêmo..." O hospital corre o risco de fechar por falta de recursos? "Vai assim mêmo..." Depois vão vir aqui reclamar que a prefeitura não deu suporte para esta mesmas áreas. Depois reclamam do Pronto-atendimento, que não tem escolas nos bairros, que o caminhão de lixo não passou, que a Polícia não apareceu, que não tem luz, calçamento, esgoto... tudo por culpa do "Vai assim mêmo."


Para finalizar uma observação importante: 


Esta é uma crítica à gestão atual?

Não!

Esta é uma crítica à cultura política de Santa Rita do Sapucaí como um todo!

É uma crítica à forma como as coisas são feitas! É a minha opinião sobre o que vem acontecendo por aqui nas últimas duas décadas e que, ao meu ver, precisa ser mudado para o desenvolvimento do município!

(Por Carlos Romero Carneiro,  que não é e nem nunca será candidato a nada, que não tem conexão nenhuma com partidos, mas que quer uma cidade melhor - só isso.)

8 comentários:

  1. uma duvida, qual a taxa atual de homicidios?

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  2. Perfeito e é isso mesmo que que esta acontecendo há anos !!

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  3. Não é apenas essa dívida, mas a cidade está se "transformando numa bola de neve". Mas, "Vai asiim memo" néé... :(

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  4. Carlos, morei em Santa Rita de 1976 até 1989. Nestes anos, que eu me recorde, tivemos dois assassinatos na cidade. Um passional e outro em briga de familia. Não sei quantos foram somente este ano, mas li varias noticias sobre assassinatos (acompanho por ainda ter muito amigos aí). Em 76, a cidade tinha 18 mil habitantes. Hoje tem uns 40. Ou seja, pouco mais que o dobro. Mas os homicidos explodiram. Para termos uma noção do caos, hoje, Santa Rita proporcionalmente tem mais homicidios que São Paulo !!! Isso mesmo!!! No mapa da violencia, Santa Rita ganha de São Paulo. É um absurdo total.Eu não consigo ver tanta dificuldade em combater a violencia em uma cidade deste porte.Uma pena uma cidade na qual tive tanta tranquilidade para viver uma parte da minha vida chegar à esse ponto. Lamento de verdade.

    Abs. Mamão

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  5. e-mail para sugestão de reportagem?

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  6. Vejo de duas formas:

    1 - Não há candidatos, gente de bem disposta a entrar nesse mundo imundo que é a politica brasileira;

    2 - Consequentemente não há quem eleger, e aí sempre os mesmos bandidos incompetentes viram autoridades.

    Conclusão: o problema somos nós, povo desunido e cada vez mais ignorante com o apoio do governo. Em vez de Matematica, fisica, quimica, portugues, estamos estudando sexualidade. Minha geração e a dos meus filhos só vai ver violencia, roubalheira e injustiça.

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  7. Não sei como foi feito a distribuição de lotes em SRita. Mas tem que haver critérios pra distribuir esses lotes. Distribuir pra gente de fora da cidade, na minha opinião, só atrai gente desconhecida e serve pra aumentar o número de criminalidade. Depois, os prefeitos não conseguem dar conta da violência no município. O DÉFICIT HABITACIONAL EM SRITA É ALTO? Então, que cada prefeito trate de sanar o déficit de sua cidade e não a de outras cidades.

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  8. Você citou entre outros agravantes o Plano Diretor de Urbanização e sobre os bairros mal planejados que estão ocupando varzeas, e que sabemos algum dia, bem breve, o Sapucahy vai lá ocupar seu lugar e aí enchentes, perdas materiais e talvez até de vidas ( mas vai assim mêmo..) Mas vejamos: um "novo" loteamento está começando atrás da FAI no bairro Jardim Santo Antônio e então convido a todos para conhecerem o futuro ' piscinão" de Santa Rita e só os incautos nâo vêem o problemão que vem pela frente. Provavelmente é um loteamento aprovado, tipo classe "A" mas o Sapucahy irá tomar o que é seu, da sua natureza: a varzea que hoje está sendo loteada.
    No quero ser profeta do acontecido e assim em nov/2015 registro o veremos nos próximos anos. Fica o alerta e a pergunta: as autoridades municipais nâo conseguem enxergar o que simples mortais conseguem antever? É mas......vai assim mêmo.....

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