quarta-feira, 4 de julho de 2012

O domingo mais trágico da história de Santa Rita

Um domingo qualquer

No dia 27 de setembro de 1981, Jefferson Gonçalves Mendes aproveitou a tarde de domingo para consertar uma das máquinas da pedreira que mantinha na entrada da cidade. Sua ideia era deixar tudo pronto para que, na segunda, seu empreendimento pudesse funcionar normalmente. Logo depois do almoço, a falta de uma das ferramentas obrigou o então vereador a retornar ao centro da cidade e procurar Benedito Caputo para pedi-la emprestado. No caminho, em cima da velha ponte metálica, o rapaz logo percebeu que haveria umas das cerimônias mais tradicionais daquela época. Como acontecia todos os anos, naquela tarde de domingo, uma pequena multidão se aglomerava para ver os membros da Igreja Assembleia de Deus se posicionarem às margens do Rio Sapucaí para um tradicional batizado, após terem atravessado a cidade toda em trajes brancos. A verdade é que Jeffinho nunca perdia aquela cerimônia mas, naquele ano, tinha um assunto muito sério a resolver.

De passagem

Na volta para a pedreira, o futuro prefeito notou que havia entre 400 e 500 pessoas em torno do evento. Um grande número de fiéis e curiosos ocupavam a prainha do rio, toda a extensão da ponte interditada, além do terreno existente debaixo da estrutura metálica. Apressado, Jeffinho cumprimentou os amigos e partiu. No entanto, ao chegar à Praça Delfim Moreira um de seus amigos perguntou se ele havia visto Abílio. O rapaz então se ofereceu para chamá-lo e voltou à velha ponte onde o encontrou conversando com outro grande amigo: Vitinho Jorge. Nisso, Abílio partiu em direção à praça e Jeffinho ficou conversando com Vitinho. O rapaz ainda se lembra das pessoas que o cercavam sobre a velha estrutura metálica, enquanto o amigo tentava convencê-lo a deixar o trabalho e sair com ele para jogar baralho. Uma moça distribuía folhetos, senhor Joaquim (da famosa Casa de Couros) passeava com sua bicicleta, e um grande número de pessoas batia papo ou assistia ao esperado acontecimento.
Coisas do destino

Jeffinho conta que o barulho de metal partindo ainda não saiu de sua cabeça. “Não houve tempo pra nada. Foi só o gemido da ponte e, no mesmo instante, estava todo mundo na água”. A última imagem que viu foi o sorriso de Vitinho usando todos os argumentos para tentar levá-lo para a diversão. Rita de Cássia, esposa de Jeffinho, estava em casa – o tradicional prédio da Maklouf, às margens do rio – quando escutou o gemido seco da ponte e se lembrou imediatamente do marido. Mal sabia que, naquele exato momento, o rapaz estava debaixo d´água, com o tornozelo preso nas ferragens, tentando se desvencilhar. “Fiquei com a canela em carne viva para me soltar”, conta.

Ao voltar à superfície, Jeffinho percebeu que dezenas de pessoas haviam caído no rio. Apesar do nível estar baixo, muitos eram levados pela correnteza. Outros se levantavam com a água na altura do peito e tentavam chegar à margem do rio. Naquele momento, era impossível saber a noção daquela tragédia, em meio a tantos gritos e uma multidão de feridos. Naquele cenário que o rapaz parecia não acreditar no que via e ouvia, sons de tiros chamaram a sua atenção. Vinham da margem do rio, onde os policiais militares tentavam cortar as correntes que prendiam as canoas para iniciar o salvamento das vítimas.

Cidade em pânico

Até o anoitecer, apesar do hospital ter ficado abarrotado de feridos, não havia notícia de morte. O pânico tomava conta de pais e mães aflitos quando os filhos demoravam a chegar em casa, acreditando que eles poderiam estar entre as vítimas. Até o dia seguinte, muito familiares correriam ao hospital em busca de notícias.

Jeffinho conta que, naquela noite, esteve por volta de 10 horas na casa de Vitinho Jorge. Lá, recebeu a notícia de que o amigo ainda não havia retornado e que seu caminhão estava pronto para uma viagem que aconteceria na manhã seguinte. O rapaz então contou que o amigo estava presente na tragédia.
Vítimas da fatalidade

Na segunda feira, a população estarrecida soube do pior quando um guindaste levantou a velha estrutura do rio. Junto com os escombros, diversos corpos começaram a ser encontrados. Dentre os mortos, Jeffinho sentiu muita dor ao ver Vitinho ser retirado com a moça de Itajubá que distribuía folhetos, agarrada em sua cintura. Naquela semana, os trabalhos de salvamento foram intensos.

O último batismo

Ao todo, seis vítimas foram encontradas. Depois daquele domingo fatídico jamais aconteceria um novo batismo da Assembleia de Deus naquele local. Ainda hoje, inúmeros santarritenses ainda sofrem as consequências da queda. Muito emocionado, Jeffinho diz que até hoje, quando passa sobre a ponte nova ainda recorda das pessoas que estavam no local, no momento em que tudo aconteceu e não consegue esquecer o gemido seco da estrutura metálica, instantes antes de sua queda.

(Carlos Romero Carneiro)

Oferecimento: CAFÉ COM ARTE.
CAFÉ COM ARTE

Um comentário:

  1. Lembro muito bem desta tragedia. Estavamos na casa da Tia Mariquita, em frente a prefeitura quando aconteceu.

    A ponte estava interditada para o trafego e o povo não percebeu que o peso daquela multidão era maior do que de qualquer veiculo que por lá passava.

    Varios amigos meus estavam por lá, mas conseguiram escapar.

    Muito triste....

    Mamão

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