segunda-feira, 24 de junho de 2013

Uma homenagem ao amigo Márcio Vilela: a trajetória da lendária banda Luxúria

Tudo começou como uma brincadeira de adolescentes em uma área ainda não construída da casa do Heryk (filho do Paulo Henrique e Rosângela), hoje pizzaria La Fornalha. Lá, o próprio Heryk, Luciano Adami (filho do Freddy e Nelma Adami) e eu, Marquinhos (filho do Professor José Maria e Terezinha), começamos a tirar algumas músicas dos Titãs e Legião Urbana. O ano era 1991 e nós éramos embalados pela grande década que passara. Nessa mesma época, havíamos acabado de montar uma rádio pirata com transmissão do alto do morro do INATEL, batizada de “Liberdade Vigiada”. No nosso programa “As 3 mais”, eu, o Juninho Gabina (Negão - filho da Nega) e Gustavo Santos (filho da Leilinha e Irineu Santos) escolhíamos os melhores rocks de todos os tempos e tentávamos aumentar a popularidade do estilo musical em uma cidade que era dominada pelo dance music e sertanejo. O Luciano havia disponibilizado um transmissor de FM na faixa dos 89.1MHz (como a antiga 89 – A Rádio Rock de São Paulo) e, de lá, a gente extravasava a vontade de ouvir rock. Fizemos um grande sucesso na época. Todo mundo sintonizava e era uma grande euforia na praça de Santa Rita. Recebíamos mensagens para serem repassadas e tinha até a famosíssima “Hora da Sapa”, programa onde selecionávamos uma grande banda de rock para contar sua trajetória. 

Nossa primeira banda acabou batizada com o mesmo nome da Rádio, como uma espécie de homenagem. No início, foi muita brincadeira e até chegamos a filmar uma apresentação. Estávamos no segundo ano da ETE e, aos poucos, íamos ficando mais entusiasmados. Desde então, passamos a ensaiar na casa do baixista Juninho Negão, praça Vista Alegre, onde havia espaço de sobra quando o restaurante da Nega não estava em funcionamento. Ainda assim, faltava alguma coisa: o vocalista! Em um dos bate-papos, durante os treinos de vôlei do glorioso Juventude (time juvenil do Country Club), convencemos o Marcelinho Cardoso (Filho do Sr. Cardoso da Autopeças) a fazer parte do time e se aventurar com o grupo.
Até ali, nem tínhamos ideia de como começaríamos a tocar de verdade. Nós não tínhamos nenhum compromisso com shows, nem mesmo apresentações. Tocávamos somente para amigos, mas já estávamos decididos a montar uma banda.

Em 1992, o Márcio Vilela, ex-jogador profissional de vôlei, resolveu retornar a Santa Rita e montar uma academia. Ele acabou se tornando nosso técnico no Juventude e foi convidado para se juntar ao grupo. Quando o Márcio nos mostrou sua guitarra e equipamentos e demonstrou interesse em tocar conosco, notamos que a coisa seria mais séria. Desde então, passamos a tê-lo como guitarrista e a banda sofreu uma reformulação. O Heryk deixou o grupo para se dedicar aos estudos na ETE, o Luciano assumiu o baixo e o Juninho pendurou as chuteiras para trabalhar no backstage.

Surgia a primeira oportunidade para tocar em um evento. Fomos convidados a participar do Festival da Canção da ETE (FECETE) em 1992 e nos preparamos, pela primeira vez, com um repertório nada convencional para as bandas de Santa Rita. Foi um sucesso.
Um novo convite. O Cassinho do Kplinha estava organizando a quinta versão de seu lendário Rally de Regularidades e aquele ano prometia ser ainda melhor do que os anteriores. Um grande palco foi montado em frente ao estádio Erasmo Cabral e faríamos um show ao lado de uma banda muito conhecida pelos alunos do INATEL chamada “Quem Não Cola Não Sai Da Escola”. Ainda com o nome de “Liberdade Vigiada”, fizemos um show eclético e, desta vez, tínhamos a companhia de um músico precoce, Ticiano Abreu (filho do Prof. João de Abreu), que introduziu teclados em nossa banda. Depois disso, muitas coisas começaram a acontecer. Passamos a ensaiar frequentemente e incluímos músicas mais sofisticadas. Os ensaios passaram a ser realizados na sede da fazenda do saudoso pai do Márcio onde não precisávamos nos preocupar com o barulho. Lá, podíamos tocar até altas horas sem incomodar ninguém. Era o paraíso para qualquer jovem roqueiro dos anos 90.

Em 1993, quando ingressei no INATEL, Ticiano decidiu seguir seu próprio caminho e deixar a banda. Ali, estávamos a procura não só de um tecladista mas também de um nome de impacto para o grupo. Certo dia, estávamos sentados eu, Luciano, Márcio e Marcelinho em uma barraca da festa de Santa Rita e pensando em um nome que pudesse traduzir o som que tirávamos. Depois de algumas cervejas e muitas risadas, o nome Luxúria foi colocado à mesa pelo Márcio. Na mesma hora todos abriram um sorriso e fizemos um brinde em nome da ideia. Só faltava achar um tecladista para manter o alto nível de músicas em nosso set list. Com o nome definitivo, tivemos a primeira experiência tocando para um público universitário. Fomos convidados para tocar na “Noite do Bixo” e, a partir dali, passamos a ser sócios de carteirinha do D.A. Inatel.

Em 1995, tivemos uma grande surpresa: o Carlão Vilela (filho do Marcos Vilela) apareceu com uma guitarra e um talento impressionante e acabou convidado para ingressar no Luxúria. Era a peça que faltava. Márcio começou a tocar guitarra solo e o Carlão segurava a base. Nessa mesma época, conhecemos o Eduardo (Ed de Volta Redonda), recém chegado ao INATEL e que tocava o mais fino do teclado. Luxúria se tornou um sexteto!

Dali em diante, passamos a tocar não só no D.A., como em grandes eventos fora de Santa Rita. Um dos shows mais marcantes foi na festa de Santa Rita de 1996, quando tocamos para um público inflamado. Naquele ano, foi montado um palco onde hoje é o ginásio Alcidão, contornado por diversas barraquinhas universitárias.  O público era especial: todos queriam nos ver porque não tocávamos “mais do mesmo”. Um grande amigo, Kiko Ribeiro chegou a dizer que as pessoas perguntavam por que a gente ria tanto e fazia tanta bagunça. E ele apenas respondia: “Eles fazem o que gostam e a galera responde”. Me lembro de tocar Offspring e Steppenwolf e, tudo o que via, era a poeira subindo e o povo pulando e cantando os refrões. A sensação  era indescritível. Naquele momento tínhamos absoluta certeza de que estávamos fazendo algo que mudaria nossas vidas para sempre.

Quando chegamos ao auge, veio também o cansaço dos últimos meses de faculdade. Pouco tempo depois, o Marcelinho se formou e foi morar em São Paulo. Eu ja estava fazendo estágio em Campinas e passamos a ter menos oportunidades para ensaiar. Nessa mesma época, perdemos o Ed, que passou a se dedicar não só ao trabalho, mas a outro projeto musical paralelo e percebemos que estava na hora de diminuir o ritmo. 
Me formei em 1998 e fui morar fora de Santa Rita. Em 2000, foi a vez do Luciano ir para Campinas/Indaiatuba. Já o Carlão, foi estudar em Belo Horizonte e, dali em diante, passamos a tocar esporadicamente.

Depois daquela grande fase, conseguíamos nos reunir apenas algumas vezes no ano, mas ainda fazíamos excelentes shows. Hoje, somos casados, pais de família e nos espalhamos por diversos cantos do país e até mesmo do exterior. O Heryk casou-se com a Flávia, tem uma filha (Júlia) e mora em Uberlândia. O Luciano é casado com a Ana Paula e mora em Indaiatuba. Marcelinho se casou com a Élida com quem teve o filho Pedro, indo morar no Rio. O Carlão virou um cidadão do mundo, mudou para BH e planeja seguir carreira no exterior. O Ed é casado e mora em Campinas. O Juninho casou com a Elaine e tem uma filha, a Helena. O Márcio continua solteirão por opção. Já eu, sou casado com a Bianca e temos uma filha chamada Clara. Nós moramos no Canadá.

A turma ainda se reúne uma vez por ano para recordar os velhos tempos e matar saudades de uma época em que fazíamos muito barulho, conquistamos muitos fãs e acabamos influenciando  algumas bandas locais como General Java, Naja e outras. Essa é a nossa história. Essa foi e sempre será a Luxúria: uma banda com tanta história que até merecia um livro.

Enviado por Marquinhos Souza

6 comentários:

  1. Deixara saudades, meu velho! Que perda inesperada. Nossos sinceros pesames a toda familia e amigos.
    Marquinhos

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  2. Um amigo que se vai muito jovem....

    Jogamos muito volei juntos, obviamente eu jogava muito mais que ele......

    Agora, vai jogar com o Markão, com o Tatau, dona Marilia e cia....

    Mamão

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  3. Triste demais. Ficará gravado em minha memória o convívio quase diário na academia, os jogos e treinos de vôlei e o seu jeito sempre brincalhão.
    Toda paz a você e à família.
    M.fernando.

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  4. Uma supresa mesmo... que pena!
    ...e alguns mais velhos irão se recordar de um bando de adolescentes que reeditou no velho Country Club de Santa Rita partidas de vôlei do “Atlântica Bela Vista” (Bela Vista mesmo...)! E ele era o cara...
    Rogerio Canestraro

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  5. Tive a sorte de conviver diariamente com o Marcio desde de o pre-primario ate formarmos na ETE...tudo que fazia era com muita dedicacao...viveu a vida que quis e vai fazer muita falta...consegui dar o ultimo adeus para ele, infelizmente...deixara saudades este grande amigo....Andre Augusto Telles Moreira.

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  6. Por acaso ao realizar pesquisas sobre ex-atletas de voleibol, encontrei algumas fontes sobre a carreira do Márcio e a pouco publiquei (com o material que tinha) artigo para wikipédia sobre ele.

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