quinta-feira, 5 de julho de 2012

O dia em que Santa Rita do Sapucaí saiu do breu

Até o século 19, todas as pessoas do mundo viviam sem eletricidade. Como não a conheciam, não lhes fazia falta. Ora, não havia computador, televisão, cinema, máquinas de lavar roupa, automóveis, iluminação pública nem residencial. As indústrias tinham motores que funcionavam com máquinas a vapor, assim como as ferrovias.

A primeira usina elétrica brasileira foi instalada em 1883, na cidade de Campos (RJ). Era uma usina termoelétrica e a  primeira usina hidrelétrica brasileira foi construída pouco depois no município de Diamantina , aproveitando-se as águas do Ribeirão do Inferno, afluente do Jequitinhonha. Mas a primeira hidrelétrica do Brasil para serviços de utilidade pública foi a do rio Paraibuna que produzia energia para a cidade de Juiz de Fora. Minas é pioneira no progresso brasileiro.
No breu

Houve uma época em que Santa Rita do Sapucaí também não possuía iluminação urbana. Poucos se aventuravam a sair à noite pois as ruas ficavam em completa escuridão e havia mil perigos espreitando o transeunte: atoleiros, buracos, animais soltos, como cabras,vacas, cavalos  e porcos. Além disso, havia o perigo de ser assaltado.Sair à noite só em emergência de vida, buscando os recursos de um médico, farmacêutico ou parteira; e de morte, na busca de um padre para a assistência final. 

No entanto, quando as famílias saíam à noite, levavam um moleque com uma lanterna, o qual ia na frente iluminando o trajeto e caminhavam fazendo barulho para espantar animais e pessoas. 

Nas Igrejas e casarões dos coronéis eram utilizados lustres com vários pontos de luz de velas que eram acesas por meio de uma vara com um cone oco de latão e um pavio na ponta. Com o pavio acendiam-se as velas e com o cone elas eram  abafadas e se apagavam. Contudo, o mais comum nas residências era o uso de castiçais, de prata ou cobre, colocados sobre consoles, mesas ou aparadores. Também foi difundido o uso de lampiões de querosene com quebra luz de opalina branca.

Segundo um manual da Renascença, escrito por Nicola Sabbattini, intitulado “Practica”, falando sobre as casas de espetáculos dizia que  “as velas devem ser acesas de modo prático e seguro para não causar desordens e acidentes além de atrasos no espetáculo”.

Somente com a chegada do gás é que as ruas foram iluminadas, recebendo altos postes com lampiões dependurados e que eram acesos ao entardecer e apagados por volta das 22 horas. Criou-se então o ofício de acendedor de lampiões. 

Mais tarde, por volta de 1912, chegou a eletricidade, trazida pelo esforço e audácia do senhor Antonio Moreira da Costa Júnior.

Era filho de Antonio Moreira da Costa e dona Maria Cândida Ribeiro, nascido em 1 de julho de 1867, na fazenda da Pedra,  município de Cristina. Veio para Santa Rita com os pais e aqui se casou, em 1885, com sua prima Virgilina Carneiro Moreira, natural de Pedra Branca, atual Pedralva. Nascida em 24 de setembro de 1871, filha de Joaquim Carneiro de Paiva e de Lídia Carneiro de Abreu.

Homem dinâmico e próspero fazendeiro, de olhar antecipado para o progresso notou que Santa Rita se ressentia da falta de luz elétrica e não obtendo apoio nas empresas fornecedoras de energia, que na época eram poucas e de baixa capacidade, resolveu, por conta própria, colocar luz na cidade. Procurou pela região até que encontrou um local ideal para o empreendimento no município de Natércia junto à queda dágua São Miguel.

Reuniu a família e anunciou que iria para a Alemanha comprar o maquinário necessário para montar uma hidroelétrica. Disseram que ele era visionário, sonhador e que não ia conseguir.
Como fazer  lá no estrangeiro se ele não sabia falar alemão? Ao que ele respondia batendo nos bolsos e fazendo gestos com a mão de que enquanto tivesse dinheiro e soubesse indicar que queria comida não passaria fome.

O equipamento foi despachado por navio até o porto do Rio de Janeiro e daí por estrada de ferro até Cruzeiro. De Cruzeiro para Santa Rita e, posteriormente, Natércia, o transporte foi feito em carros de boi. Viagem longa, cansativa e cheia de perigos, avançando por serras e atoleiros, na cadência monótona dos bois.

O prefeito da Santa Rita, sabendo que o comboio ia passar pelo meio da cidade e com medo de esburacar ainda mais as suas ruas proibiu seu trânsito. Tonico Moreira então o desafiou a embargar a passagem.

A montagem no local estava sendo feita por um engenheiro sob o olhar critico do proprietário que o corrigiu dizendo que estava fazendo as coisas erradas.

- Eu sou o engenheiro e sei o que estou fazendo, respondeu .

A usina não funcionou, o maquinário foi montado com erros e o engenheiro teve que fugir do local. Corrigido, cuidadosamente, veio a funcionar perfeitamente e a rede de fios levada até Santa Rita. Mais tarde, a rede elétrica  seria estendida a Cristina, Heliodora e a própria Natercia. Algum tempo depois começou um roubo de lâmpadas dos postes da cidade, principalmente da Praça, o que incomodou muito o proprietário da Cia. de Eletricidade, nome que o Sr.Tonico deu para sua empresa. Ele resolveu ficar de espreita nas noites santarritenses para pegar o larápio. Numa noite, ele surpreendeu um moleque trepado no poste roubando uma lâmpada e se colocou em baixo, de espingarda na mão, gritando para o ladrão:

- Se você descer daí, você morre.

O tempo foi passando, o moleque se cansando e o Sr.Tonico não arredava o pé. O rapaz, com muito medo, estava numa grande dificuldade, pois não aguentaria ficar grudado no poste. A qualquer momento iria despencar e isso significava a morte. Houve um ajuntamento de pessoas, umas por curiosidade, outras amigas e  aconselharam o Tonico a perdoar o moleque, a ter dó e deixá-lo ir embora. Demorou um pouco, mas o pedido foi atendido. Quando a turma saiu com o Tonico, ouviu-se um baque surdo... era o moleque que tinha caído do poste.

(Por Ivon Luiz Pinto)


Oferecimento: Moleca Sapeca Boutique

2 comentários:

  1. Muito bom esse trabalho... Engrandece a terra historiada e consequentemente o historiador...muita gente boa já foi para o andar de cima, sem conhecer essas pérolas...

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  2. Esta é uma estória, Lídia Carneiro de Abreu nao era casada com Joaquim Carneiro de Paiva e sim com o Coronel Joaquim Neto.Deves pesquisar direito para não alterar a história. Lídia era filha de Joaquim Machado de Abreu, fundador de Pedralva.

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