quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O inesquecível Bar do Didi

Nivaldo Rafael de Souza trabalha como comerciante desde os quinze anos de idade. Começou em 1943, quando servia os numerosos fregueses do Bar Bueno, nas proximidades do Centro Operário. Três anos depois, Didi - como sempre foi conhecido -  passou a trabalhar como balconista do não menos afamado Bar do Júlio (Praça Santa Rita) e só deixou o local quando decidiu que queria abrir seu próprio negócio.

O surgimento do famoso bar

Didi nunca gostou de ser empregado. Como não tinha dinheiro para abrir o seu estabelecimento, teve que pedir abono ao amigo Horácio Capistrano e ao tio Antônio.  O empréstimo foi pago em quatro anos. Enquanto isso, sua companheira - Severiana - aguardava que a dívida fosse quitada para que os dois pudessem casar e o ajudava na cozinha com sua incrível habilidade em preparar deliciosos tira-gostos.
Como o segredo de todo grande bar está no preparo da comida e no atendimento aos clientes, Didi encontrou em sua esposa a parceira ideal para vencer a empreitada. O cardápio era variado. Cada dia era preparada uma especialidade. O sucesso foi tanto que em quatro meses o casal já havia colocado a casa em ordem e comprado uma sorveteria à prestação.
A sorveteria

Com o surgimento da sorveteria, o Bar do Didi ganhou um novo atrativo. Os deliciosos sorvetes eram preparados com frutas naturais, dentro do próprio estabelecimento. Para agradar os fregueses o comerciante mandou confeccionar um carimbo com os dizeres “Bar do Didi – Vale um picolé”, que aplicava nos palitos. A estratégia deu tão certo que logo o ponto comercial localizado na esquina da rua Joaquim Inácio com a Francisco Palma passaria a ser frequentado pela cidade inteira.
Devido à grande proximidade do estabelecimento com a Associação José do Patrocínio, Didi aproveitava a realização dos Bailes do dia 13 de Maio para faturar ainda mais alto. Entre um freguês e outro, o comerciante aproveitava para conferir a movimentação da rua e se encantava com a elegância dos convidados.
Nos finais de semana, os jogos de futebol nos campinhos de várzea movimentavam a cidade. Didi não perdia tempo. Vendia, em média, 600 picolés em cada jogo. Como na época ainda não existiam caixas de isopor, para que a mercadoria chegasse sem derreter, Didi precisava cobrir os picolés com gelo e pó de serragem.

Grandes amigos

Dentre todas as iniciativas adotadas pelo comerciante para atrair seus fregueses, a maior delas sempre foi a cortesia. Didi ainda se emociona ao lembrar os amigos que fizeram parte de sua vida e das lendas que marcaram a trajetória de seu bar.

Baracat e a Vodka com laranjada

Um dos fregueses mais cativos do bar era o querido Baracat. Certa vez, o eterno vice-prefeito entrou no estabelecimento, meio de fogo, e pediu uma de suas bebidas favoritas: Laranjada com Vodka. Vendo que o freguês já estava meio alterado, Didi resolveu entregar a ele laranjada pura. Quando terminou a quinta dose de suco, sem perceber que estava sendo enganado, Baracat virou para o comerciante e soltou a pérola: “Vodka sem vergonha! Eu tomei pra ficar tonto e sarei!”

A Tempestade

Em uma noite de tempestade, já era madrugada e nada dos fregueses irem embora. Quando deram umas quatro da manhã, morto de sono e inconformado por ter que trabalhar até tarde, Didi pulou do balcão com um facão, riscou a lâmina no chão e gritou: “Já tô de saco cheio! Se Deus existe mesmo quero que caia um raio nesse facão!” Nesse exato momento, um raio iluminou o ambiente, acompanhado do estrondo de um trovão, quase ao mesmo tempo. O barulho foi tão grande que os fregueses saíram correndo e deixaram o estabelecimento debaixo de chuva. Na corrida, o famoso Ieié, que também tratou de dar no pé com o susto que tomou, não viu que a tampa do bueiro em frente ao bar estava aberta e precisou ser retirado com a ajuda de três amigos.  Depois do susto, o fogo passou, os fregueses voltaram para suas casas  e Didi pôde tirar um merecido cochilo.
A profecia

Certa vez, o grupo de amigos, sem ter o que fazer, resolveu tirar uma fotografia se posicionando na ordem em que achavam que iriam morrer. O mais impressionante foi que a “profecia” deles começou a se concretizar e três dos amigos  já tinham vestido o paletó de madeira na ordem em que tinham posado para a foto. Não tiveram outra alternativa: rasgaram a fotografia danada e trataram de esquecer do assunto.

Compras em São Paulo

Numa outra ocasião, de trás do balcão, Didi viu seus fregueses combinarem realizar um dia de compras em São Paulo. A viagem se concretizou e lá se foram os santarritenses desbravar a paulicéia.  Depois de um dia de consumismo, ao chegarem à rua Florêncio de Abreu, os amigos constataram que todos eles estavam com as mãos cheias de sacolas, menos o Toninho do Beni. Para dar um jeito naquela situação, um deles comprou uma pesada picareta e deu para o coitado carregar. Toninho passeou com aquela coisa pela cidade inteira e voltou para casa com o braço mole. Coincidência ou não, no outro dia o jornal Notícias Populares estampava em sua primeira página: “Maníaco da picareta à solta na capital”.

A aposentaria (?)

Com muitas histórias e muito trabalho, Didi criou quatro filhos e fez muitos amigos. Em 1991, o comerciante decidiu que era hora de se aposentar e acabou fechando o estabe-lecimento.
Acostumado com a circulação diária de amigos, não demorou muito para que ele sentisse falta da velha rotina. Tomado por uma grande saudade, para trazer os companheiros para perto novamente, algum tempo depois foi criado nos fundos de sua residência, o “Clube do Didi”. Um espaço reservado onde os ve-hos amigos ainda se encontram e colocam a conversa em ordem, depois de um dia de trabalho duro.
Mesmo não obtendo lucro com as reuniões que promove em casa, durante esses encontros diários, o estimado comerciante relembra sua feliz história e pode fazer o que mais sabe: servir com carinho os amigos e estar sempre na presença de quem o faz feliz.

(Carlos Magno Romero Carneiro)

A seguir, um vídeo inédito do Bar do Didi e também de outros bares e santarritenses lendários:

Um comentário:

  1. otimo bar que tomei altas cervejas na juventude todo final de semana tava eu ai enchia a cara depois ia na discoteca no salão jose do patrocinio,tempo bom não volta mais.

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