A família do Hélio Gracie morava no Pará. Lá ele conheceu um japonês chamado Conde Koma que lhe passou todos os conhecimentos do puro Jiu-Jitsu do Japão. O professor Jorge Gracie, irmão do Hélio, foi quem mais absorveu os conhecimentos. Juntos, eles vieram para o Rio onde montaram uma Academia na Avenida Rio Branco.
Hélio começou por acaso. Ele era o mais fraquinho da família, sofria de asma, e só deu sua primeira aula para substituir o irmão. Desde então, nunca mais parou. Hoje em dia, tudo o que existe em Jiu-Jitsu no Brasil surgiu com ele. Vem da mesma ramificação.
Conte-nos sobre o Brazilian Jiu-Jitsu
No Japão existia o Jiu-Jitsu. Após a segunda guerra, a modalidade foi divi-dida para reduzir suas forças, onde nasceram as mais diversas vertentes como Karatê, Taekwondo, Aikido. Quando o Jiu-Jitsu chegou aqui, a família Grace o aprimorou e o tornou ainda mais completo. Desde então, todas as academias que ensinam a modalidade no mundo, têm como referência o Brazilian Jiu-Jitsu.
Como você conheceu Hélio Gracie?
Em 1972, eu estava no Rio e lá decidi começar a praticar algum tipo de esporte, optando pelo Jiu-Jitsu. Na época, esta modalidade era tida como violentíssima. Este tipo de luta, a princípio, era muito pouco praticado. Junto comigo, começaram grandes incentivadores do esporte no Brasil. Nós formávamos uma boa equipe e sempre competíamos Vale-tudo no ginásio do América Futebol Clube. Na época, nós ganhávamos apenas dinheiro para o lanche. Nesses eventos, reuníamos o pessoal da capoeira, o grupo de Karatê e outras modalidades. A verdade é que nós treinávamos demais. Alguns treinamentos duravam entre 4 e 5 horas. A verdade é que a convivência que eu tive com esse pessoal foi muito boa. Graças a Deus eu tive o privilégio de tê-los conhecido. (Se emociona muito e faz uma pausa na entrevista)
Você teve contato com os filhos de Hélio Gracie?
Eu tinha muita amizade com o Carlson e com o Robson. Já essa turma mais nova, o Rorion, o Royce e o Rickson era criança nessa época. Desde molequinhos eles já viviam de kimono. Eu lembro que, por qualquer coisinha, o Hélio já colocava a criançada em cima da mesa para lutar. (Risos)
Seu instrutor foi quem implantou os desafios entre modalidades?
Ele desafiava a tudo e a todos. Sempre queria descobrir se o Jiu-Jitsu tinha falhas e, para isso, convidava os professores de outras modalidades para um combate. Em 1962, chegaram dois mestres de Karatê na cidade - Tanaka e Uriu - e seus alunos foram desafiados por nossa academia. A condição que eles impuseram foi de que a luta deveria ser fechada e nós ganhamos todas as lutas em questão de segundos.
Como foi sua trajetória como lutador?
Tive aulas muitos anos com o Hélio Grace e depois fui para a Academia do Chiquinho Mansur, na Praça Saens Peña. Em 1973 eu me tornei faixa preta em primeiro Dan. Antigamente, você se graduava em combate. Nesse período eu fui campeão carioca uma vez, fui campeão fluminense duas ve-es e vice campeão brasileiro.
Você manteve contato com Hélio Gracie?
Sim. Uma vez eu estava na rua da Assembleia e encontrei o Hélio Grace. Eu perguntei a ele: “O senhor ainda está treinando?” E ele respondeu: “Tenho que treinar para não apanhar na rua.” E veio pra cima de mim! Queria me pegar... (Risos)
Os treinamentos continuaram ao retornar a Santa Rita?
Quando eu voltei para Santa Rita, comecei a treinar e nós difundimos o Jiu-Jitsu na região. Mais tarde, meu filho, Toninho, também se tornou professor. Hoje nós temos antigos alunos dando aula em Pouso Alegre, Santa Rita e Itajubá. Na Academia Action, temos o Marcelo que foi nosso aluno; na Academia do Arthur temos o Josicássio que é um professor muito técnico; em Pouso Alegre temos ótimos professores (um deles foi campeão mundial) e, em Itajubá, temos um campeão brasileiro... todos eles foram alunos meus. Isso me deixa muito sa-tisfeito de saber que todos se sobressaíram.
Conte-nos sobre uma de suas participações no Vale Tudo
Teve um Vale-tudo que eu participei na Polícia Militar. O meu oponente era dublê da Globo. Pouco antes da luta, ele veio até mim e falou: “Vamos maneirar, porque eu vou ter que fazer um trabalho e não posso machucar...” E eu aceitei. Só que, no momento da luta, estávamos em um tablado alto e ele me jogou lá de cima. Eu caí pra fora do tablado e quebrei a clavícula. O Chiquinho pegou um esparadrapo, me imobilizou e eu subi de novo. Ele veio com tudo pra cima, mas nessa época em estava em ótima condição física. Ele sofreu, viu... (Risos)
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