Neste carnaval, saímos da cidade com nossa filha Letícia e Luís, seu esposo, e fomos procurar descanso e tranquilidade numa pequena cidade de 8 mil habitantes a meio caminho da subida para Campos do Jordão. Santo Antônio do Pinhal nos recebeu com alegria interiorana igual, antigamente, os fazendeiros acolhiam o viajante que passava por suas terras. A cidade está no roteiro de um antigo caminho que os mineiros abriram, em 1809, para encurtar o acesso para o Vale do Paraíba.
Após disputas e desavenças, os paulistas colocaram uma guarda no local onde hoje é a cidade, mas os mineiros, em 1814, retiraram a guarda e instalaram um Quartel no alto da Serra da Mantiqueira, no local onde, hoje, é a estação Eugênio Lefévrè. Por exigência da Câmara Municipal de Pindamonhangaba os mineiros se retiraram do Quartel deixando o local abandonado até ser queimado pelas autoridades de Pindamonhangaba. Em 29 de novembro, por despacho do Capitão Mor de Camanducaia, Minas Gerais confirma a queima do Rancho-Quartel. Esse documento está reproduzido numa pedra na Praça do Artesão.
Pinhal, em 20 de Janeiro de 1960, cem anos após, recebeu a emancipação como cidade. É essa cidade pequena e recente que escolhemos para o carnaval. Ficamos longe da beleza luxuosa do RIDE e não pudemos aplaudir o DEMO pelos seus 80 anos, mas foi uma estada gostosa, com muita aventura. A primeira escolha, feita pela Rita, foi subir ao Pico Agudo, a 1700m, por uma estrada que alternava asfalto e terra, mais terra do que asfalto. Lá do alto o Vale do Paraíba se apresentava numa vista deslumbrante. O vento frio que soprava o rosto e a chuvinha fina que molhava os cabelos, não nos impediram de apreciar o panorama. Ali de cima, com a cabeça nas nuvens, olhar deliciando a imensidão do Vale que era interrompido pelas muralhas da Serra do Mar, lá, no azulado longínquo, a gente percebe como o homem é pequeno e indefeso. Contudo, mesmo sendo pequeno ante a imensidão da Criação, temos força para elevar a alma de encontro ao Criador e fazer preces de gratidão e humildade. Ali de cima os corajosos rompem o espaço num voo livre e silencioso fazendo ondulações com paragliders e asas delta. Ficamos de voltar no outro dia com refrigerante Tubaína e pão com mortadela para fazer um piquenique típico de nossa infância.
A chuva foi embora, mas deixou uma névoa esbranquiçada por cima dos montes e um arco-íris fez ponte no céu umedecido. Curvo, cheio de cores ele é um símbolo na história da humanidade. Seu gradiente de matizes é interessante por comportar as tonalidades básicas, as ultra cores e as infra, ou seja, as cores que a gente vê e aquelas que nossos olhos não conseguem ver. Essa é uma das causas de sua atração, mas não a única. Esse fenômeno sempre chamou a atenção do homem que lhe colocou vários nomes. Para uma região e época foi chamado de Arco da Aliança, relembrando a aliança que Deus fez com Noé e sua descendência, após o dilúvio; para outros, é Arco da Chuva e também Arco Celeste. Na minha meninice, o conheci como Arco da Velha, talvez em lembrança da velha aliança de Deus, lá nos velhos tempos. Muitas vezes, contemplando sua curvatura, seus pés apoiados no pedestal da terra, o associei ao formato dos arcos e abóbadas das Igrejas e o imaginei como a entrada para o grande presbitério do céu.
Vou contar para você que nunca ouviu, mas, se você já ouviu, não importa, vou contar de novo porque é bonito e interessante. Muitas crendices e superstições acompanham-no por esse mundo afora. Dizem alguns que, no final de sua curvatura, lá onde ele toca a terra, está escondido um baita pote de ouro. Ouro puro, brilhante e valioso que traz a felicidade para seu possuidor. E esse ouro nunca mais acaba. Se você tira um punhado do caldeirão, outro bocado é reposto misteriosamente. Por isso, a tentação de encontrar esse fim que sempre está fugindo. Poetas cantaram sua sedução e músicos compuseram em sua homenagem. Há uma crença que diz que quem passar por baixo muda de sexo: a mulher vira homem e o homem vira mulher. Pronto! Tá explicado tantos sexos trocados. Mas não é só o sexo que muda. Tudo se modifica como se tivesse penetrado em outro mundo. É o mundo ao avesso, um mundo espelhado, que é acessado pelo portal do tempo. Esse portal é o Arco da Velha.
De volta, comentando a beleza do lugar e imponência da estrutura montada por Deus, a Rita sobressaltou-se como uma criança quando viu uma placa que anunciava “´Café no Pano”. Estava na hora de tomar um café bem quente para tirar o frio. Encontramos mais do que café. Era o ateliê Jardins de Barro da ceramista Cynthia Duarte. Fomos recebidos com atenção e a artista não se fez de rogada e nem teve temor em nos mostrar como se trabalha a argila para transformá-la em peças de valor, produzidas uma a uma, no torno ou simplesmente com as mãos e levadas à queima. Processo criativo, processo interativo, fogo, ar... arte. O objetivo, diz Cynthia, “é o encontro de formas diversas, equilibradas e harmoniosas, independente da utilização da peça. Relevos e recortes, aplicações ou ranhuras, cada detalhe, um simples corte, é o que faz a diferença de cada peça, única e especial.” O café foi servido com aula sobre cerâmica. Quando retornamos à cidade o pessoal nos contou que Cynthia dava aulas de cerâmica e aí entendemos a facilidade de comunicação e a abertura em nos mostrar equipamentos e peças feitas. A noite estava fria quando nos aconchegamos no Marcello´s para tomar algo e comer alguma coisa e a questão surgiu pela cabeça das mulheres: o que fazer no outro dia? Ir a Campos do Jordão ou à La Bodega e Cachoeira de Lageado? Mas isso é outra história.
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