Como surgiu seu primeiro impulso para trabalhar com tecnologia?
Quando era criança, eu gostava de ouvir som mais alto, como todo mundo na minha idade. O que tinha em casa era um rádio velho em que me deixavam mexer e eu montava barriquinhas para colocar altofalante. Levava aquilo de um lado para o outro da cidade e muita gente falava: “Como ele gosta de eletrônica! Esse vai estudar na ETE!” Essas coisas, com certeza, vão induzindo a gente a achar que tem jeito pra isso mesmo.
Você estudava eletricidade na infância?
Antes de fazer eletrônica, eu fiz um curso de reparador de eletrodomésticos. Naquela época, você ia lá nos Vicentinos e eles o ensinavam a consertar liquidificador e outros aparelhos. Quando terminei o curso, uma professora que eu tinha, Dona Zininha, ficou sabendo da história e me deu um liquidificador para consertar. O problema era que a gente tinha aprendido a mexer na parte elétrica do aparelho e no caso dela era defeito no copo, que vazava. Quando eu mandei de volta o aparelho, ela ficou completamente frustrada porque eu disse que teria de trocar o copo! (Risos)
Como foi sua entrada na ETE?
Depois dessas experiências, veio a vontade de estudar eletrônica. Embora eu tenha sido péssimo jogador, adorava jogar futebol. Na infância, eu passava muito tempo no campinho, mas estudava muito pouco. Quando eu entrei na ETE, logo no segundo mês, eu descobri que, se não estudasse muito, estaria ferrado. O curso era muito pu-xado e tive que aprender a estudar pra valer. Lá eu aprendi a levar meu estudo muito a sério.
No ínício dos estudos na ETE, em 1968, ela estava acabando de ser construída. Naquela época, as quadras e a piscina estavam em plena construção e o nosso professor de educação física, o Rocha, nos dava como exercício ficar socando o piso para terminar a qua-dra! (Risos) A gente pegava soquetes e ficava batendo!
E após a sua formatura?
Quando me formei em eletrônica, fiz estágio no INPE e voltei para estudar no Inatel. No período de faculdade, trabalhei na ETE. Depois, fui para São Paulo e fiquei 8 anos fora. Na empresa em que trabalhava, fui responsável pela filial em Florianópolis, por dois anos. Por um período, como o meu pai e meu irmão tinham supermercado, o meu projeto era montar um igual em Itajubá. Eu até cheguei a estudar para fazer isso. Ao retornar a São Paulo, o Dílson (atual sócio), que havia feito ETE e Inatel comigo, tinha aberto uma sociedade por lá. Em uma de nossas conversas, veio a ideia de voltar para Santa Rita. Foi aí que surgiu a Leucotron.
Como foi no início?
Em sua primeira empresa o Dílson produzia produtos para oftalmologia e a nossa opção foi fabricar produtos de laboratório (Leucotron é o nome do primeiro produto – um contador de leucócitos). Logo no início, nós combinamos que o Dilson seria responsável pela parte técnica e eu cuidaria do setor de vendas, contabilidade e dos assuntos mais administrativos. Essa foi uma das coisas mais acertadas que nós fizemos em nossa sociedade porque o grande problema que acontece quando dois ou três amigos decidem abrir uma empresa é que todos são técnicos e ninguém quer tocar as outras áreas.
Quem foram os primeiros funcionários?
Logo no início, nós contratamos três pessoas. Uma delas é a Ângela, que até hoje trabalha conosco. Hoje ela é responsável pela área financeira. No início, era secretária e montadora. O Rogerinho Cabeleireiro e o Toninho Tibães foram os outros dois que trabalharam por muitos anos conosco. Com esses três colaboradores nós começamos a Leucotron.
Vocês passaram dificuldades no início?
Bem no início da empresa, fomos participar de um congresso lá em Brasília e tivemos que comprar um estande. O Dílson então ligou para um amigo dele e perguntou se ele não cederia a metade do espaço dele para nós montarmos o nosso. Ficamos com um estande de 1 metro de frente e 3 de lado. Como não dava para ficar o Dílson e eu dentro do cubículo, enquanto ele demonstrava o equipamento, eu ficava lá fora cercando quem passava. A gente parava todo mundo e apresentava o produto. No final das contas, os médicos presentes ficavam até com pena da gente, por conta de nossa estrutura precária. Apesar dos tempos serem difíceis, no primeiro dia nós vendemos alguns equipamentos e, no segundo, o pessoal passava por lá e perguntava como estávamos indo. Quando percebemos que aquilo estava gerando interesse, compramos uma cartolina e fizemos um placar de vendas. Aquilo chamou a atenção de muita gente e nós vendemos bastante. No último dia, todo mundo já tinha ido embora e só sobramos nós dois.
Como foi a visita do Ministro Rezeck à Leucotron?
Num sábado, o Marcelo, gerente do Banco do Brasil, chegou de manhã na Leucotron, quando ainda era um fundinho de quintal, acompanhado do Ministro Rezeck. No decorrer da apresentação, o Marcelo virou para o Dílson e falou:
-Tem que caprichar mais! Não é todo dia que vocês recebem a visita de um ministro!
E o Dílson disse:
- Mas quem é Ministro?
Então contamos para ele de quem se tratava o visitante e o Dílson falou:
- Vamos começar tudo de novo! Ministro, por favor, me acompanhe!
O Dílson o levou lá fora, fechou a porta, pediu para ele bater de novo e, quando atendeu, gritou:
- Ministro Rezeck! Que honra ter o senhor por aqui! Seja bem-vindo!
E a história do Okbarfest?
Em 1991, eu fui festeiro na Festa de Santa Rita e o Rogério teve a ideia de montar um bar para levantar dinheiro. Como estava na moda a Oktoberfest, o nosso barzinho chamou “Okbarfest”. No primeiro dia, o movimento foi impressionante. Lá pelas tantas, soubemos que dois estudantes do Inatel estavam dizendo que tinham perdido a comanda e queriam dar o cano. Eu fui lá conversar com eles, disse que teriam que pagar um valor estipulado no caso da perda das comandas e eles disseram que não tinham dinheiro. Então eu pedi que deixassem um documento e que voltassem no outro dia para pagar. Eles perguntaram:
- E se a gente não quiser pagar?
E eu respondi:
- Vai ficar desagradável porque está todo mundo comentando que são dois alunos do Inatel que estão dando problema. Isso deprecia o próprio Inatel...
Daí um deles retrucou:
- E por que você está tão preocupado se vamos depreciar o Inatel ou não?
E eu falei;
- Porque eu estudei lá!
Aí um deles falou:
- Mas você não se formou, né?
Quando eu respondi que era formado lá o outro virou pra gente e falou:
- Acho melhor a gente pagar. Coitado! Se esse cara formou no Inatel e até hoje está trabalhando de balconista de bar é porque a coisa está feia mesmo!
No início, era complicado manter uma empresa na cidade?
No começo era muito difícil. Tudo o que você precisava fazer tinha que trazer de São Paulo. Tivemos até que criar uma área de mecânica dentro da Leucotron para montar as caixas. Mais tarde, quando veio a abertura de mercado e as importações achamos mais viável tirar a mecânica daqui e prestar serviços para outras empresas. Foi nessa época que soubemos que o Custódio era sócio de uma empresa de Itajubá e estava saindo de lá. Nós então tivemos a ideia de chamá-lo para ser nosso sócio. Ele teria uma determinada participação na empresa e sua parte poderia ser paga à medida em que a firma lucrasse. Foi aí que surgiu a Prodmec. Depois de alguns anos, nós percebemos que a empresa tomou vida própria, havíamos nos tornado apenas sócios capitalistas e decidimos vender nossa parte. Nós então combinamos uma forma que desse para eles pagarem em 6 ou 7 anos e, felizmente, a Prodmec continuou crescendo e está super bem.
A Enterplak também surgiu da Leucotron?
Com a Enterplak foi a mesma coisa. O José Carlos era nosso gerente de produção. Ele já tinha vontade de ter seu próprio negócio e o que nós fizemos foi transferir para ele nossa estrutura de produção. Toda a parte de solda, bancada e equipamentos nós passamos para ele e isso tudo foi pago depois com serviços.
A Leucotron presta serviços às entidades de Santa Rita?
Lá no começo, a prefeitura nos doou este terreno. Desde então, nós decidimos que retribuiríamos à sociedade santarritense colocando nossos produtos a serviço das entidades. Passamos a instalar nossos equipamentos em diversos locais como prefeitura, hospital, Asilo, APAE, delegacia e escolas. Quando os equipamentos ficam velhos, são trocados e nós prestamos assistência, como forma de desempe-nhar um papel social.
Por que em Santa Rita existem duas associações?
Tenho uma história que quase ninguém sabe. Nós começamos a Leucotron em 1983. Naquela época, só havia a Linear, depois chegaram a Intraco, a Fini, além da Real e da Estamparia Santarritense. O Carlos Bruno era um dos administradores da Real e convidou todo mundo para se reunir, uma vez por mês, para almoçar. Nesses encontros, participavam umas oito empresas e ali surgiu a ideia de se criar uma associação. A primeira coisa que fizemos foi procurar a associação comercial e industrial, que já existia, mas que andava meio inativa. Nós procuramos o presidente para criar um departamento de indústria. O que ele disse foi que a associação já estava estruturada para atender ao comércio e que eles poderiam mudar o estatuto para que não recebessem indústrias. Desde então, surgiram duas associações, o que é muito raro de acontecer. Muita gente pensa que isso foi iniciativa das empresas, mas não.
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