quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A construção do nosso primeiro Mercado Municipal

Segundo nossas pesquisas, baseadas em depoimentos e fotografias da época, o Mercado Municipal foi construído em 1919 por ordem do então prefeito, Major Severiano Carneiro de Faria. O responsável pela planta, José Del Picchia, irmão do famoso poeta modernista, Menotti Del Picchia, era professor de diversas disciplinas no IMEE – Instituto Moderno de Educação de Ensino. Dentre outras matérias, ele lecionava desenho, no Internato, e era um exímio fotógrafo. Evidência disso é que, nas imagens do antigo mercado, não havia a assinatura de Viallet, o mais famoso retratista da época. Quem o fotografou foi o famoso mestre.
Antigo Mercado em construção. (Ao fundo - à esquerda - Igreja de NS Aparecida, demolida em 1928)
Na primeira imagem, podemos constatar que o mercado ainda não estava pronto. Ainda faltava a segunda parte do telhado, havia alguns cavaletes na lateral de cada uma das escadas e um buraco no lado direito, por onde passaria o sistema de esgoto. Se olharmos com atenção, notaremos que as plataformas da bancas, do lado esquerdo, já estavam prontas, mas não as do lado direito. A mureta de sustentação das grades também não havia sido instalada.

Ao analisarmos a planta do prédio, notamos que o formato interno da construção era quadrado, com as laterais levemente arrendondadas. Com o contorno de telhas foi que ganhou o formato octogonal, muito semelhante ao do pagode chinês. Tal característica pode ser notada em duas construções que vieram em seguida: no Matadouro (possivelmente uma cópia da planta do mercadão) e no Coreto. O segundo foi criado por Pingulu (Pergentino Dutra), artista plástico e pintor da época, responsável pela construção da primeira fonte da praça (Fonte do jacaré). Como existem documentos que comprovam que a dupla José Del Picchia e Pingulu criaram outras construções juntos, como a do Clube Santarritense, há evidências de tal parceria, também no Mercado Municipal.
Como, naquele tempo, ainda não havia refrigeradores ou algo do gênero, existia uma necessidade muito grande de que o espaço fosse amplo e arejado. Por este motivo, havia uma saída de ar no centro do Mercado, como forma de gerar uma corrente de ar, ao passo que também fornecia luz ao ambiente. Outra característica que demonstra uma preocupação operacional da construção, refere-se à sua altura. Como o local era alvo das cheias do Sapucaí, apesar de estar em um dos pontos mais afastados do rio, foi construído a uma altura considerável para evitar alagamento do recinto.

Segundo contam os mais antigos, no primeiro anel formado pelas telhas, havia uma bancada de fora a fora. Era ali que os produtores rurais faziam suas vendas de frutas, verduras e hortaliças. Alguns deles também se espalhavam pelas ruas. Em volta do mercado, ficavam amarrados muitos animais dos feirantes, charretes, carroças, e caminhões. O movimento de pessoas era realmente intenso. 
No interior do prédio, estavam dispostos os açougues e peixeiros. A necessidade de se manter o peixes sempre frescos fez com que José Del Picchia criasse um chafariz - mais parecido com um bebedouro composto por  bicas de água corrente, bem no centro do Mercado, onde permaneciam em fieiras, até o momento da venda. Naquele local, algumas pessoas lavavam os alimentos ou limpavam os peixes. Além das bancas fixas, também havia algumas desmontáveis, armadas sobre uma espécie de cavalete.

Cinco anos depois de sua inauguração, uma revista da época, datada de julho de 1926, com texto assinado por V.S., falava sobre a vida no Mercado e apontava algumas mazelas: 

“O nosso mercado é, não resta dúvidas, muito bom e bonitinho, mas, em compensação, é muito pequeno. Talvez, por isso, por mais cuidado que sobre ele tenha o seu zeloso fiscal, o sr. João Rodrigues Gomes, não podemos evitar certas irregularidades que observamos por ali em dias de feira. Cascas de frutas, folhas de verduras e terra acumuladas são encontradas pelo chão e tornam-se uma mistura escorregadia. Raro é o domingo em que não há escorregadelas por quem, por ali, vai calçado. Além disso, como já aconteceu a uma senhora, não tem roupa branca que por ali passe  que não saia pintadinha de caldo de frutas, as quais lá se comem pelos corredores, sem o cuidado de, ao menos as cascas serem jogadas fora. Há ainda ali, mendigos de verdade e de mentira a darem puxadinhas e puxões no casaco da gente. Há doentes de moléstias duvidosas que examinam passando a mão no feijão,no arroz e no toucinho. Atendendo ao crescimento extraordinário de nossa população, seria conveniente que na sede do município se construísse um grande prédio para o mercado para outros gêneros, destinando-se o atual apenas à venda de verduras, frutas e aves. Imposta a proibição determinante de se atirarem no chão, cascas ou quaisquer outras sujidades. Assim, aquele estabelecimento comercial tornaria-se digno de ser apreciado por qualquer forasteiro”
Agradecimentos especiais aos amigos internautas que colaboraram na criação desta reportagem e ao amigo Marco Antônio Barbosa Mattos. (Carlos Romero Carneiro)

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