Como foi sua saída de Santa Rita e o início no jornalismo?
Formei-me na ETE em 1997 e entrei na faculdade de jornalismo, no Rio de Janeiro, no ano seguinte. No último ano de jornalismo, consegui um estágio em uma agência para participar de um festival de música. Só depois eu soube que era para trabalhar no Rock in Rio. Logo em seguida, entrei no processo de seleção da Globo. Eram 7 mil candidatos para 5 vagas. Desde então, passei a participar da produção. Eu trabalhava em uma daquelas mesas que aparecem no Jornal Nacional. Aquilo me subiu um pouco à cabeça. Costumo dizer que tive um “Complexo de Bozó”. Acho que esse tipo de coisa é bom acontecer pra gente aprender. Com 5 meses de trabalho, tomei uma bronca do meu chefe. Ele disse: “Só não demito você hoje porque é estagiário.” Foi aí que caiu a ficha.
Você continuou na Globo?
Assinei diversos contratos com eles e tenho uma ótima relação com o canal. Já trabalhei em todos os jornais da TV Globo, cobri as Olimpíadas de Pequim (Globo News) e fui comentarista do UFC (Sportv). Foram cinco anos de SporTV.
E a ida para o Líbano?
Entre 2004 e 2006, eu fui para o Líbano por causa do meu avô e da relação que nós tínhamos. Na verdade, foi uma promessa que eu tinha feito para ele. Nós saíamos para caçar e ele me contava de quando morava no Vale do Beqaa. A maior emoção da minha vida foi poder caçar no mesmo lugar que ele. Eu vi a casa dele em ruínas e aquela viagem mudou a minha vida. Nessa época, mataram o primeiro ministro do Líbano e um amigo da BBC de Londres me indicou para fazer a cobertura.
Nesse período você estudou enologia?
Enquanto estive no Líbano, um primo que estudou enologia na França retornou ao país e me levou para uma vinícola. Foi ali que eu tomei o primeiro contato com o mundo dos vinhos. Até então, eu não conhecia nada do assunto. Estava acostumado a tomar Almadén e dizia que não gostava. Aquilo mudou completamente a minha vida e, até hoje, eu trabalho com vinhos. Acabei fazendo cursos de sommelier (degustador profissional) e, nesse período, conheci a minha mulher.
Continuou a atuar com o Vale Tudo?
Eu havia apostado tudo no meu trabalho com o UFC. Nessa época, tinha um programa que apresentava duas vezes por semana no Canal Combate e era o comentarista número um do UFC na Sportv. Fui o primeiro cara, na imprensa brasileira, a falar do lutador José Aldo. Ninguém o conhecia. Em sua primeira luta na televisão brasileira, fui eu quem fez o contato para que fosse televisionada. Eu liguei para o Zé Aldo e falei: “Manda a galera de Manaus alugar um telão e preparar o churrasco que a sua luta será transmitida.” Ele começou a chorar no telefone! O mais legal é que, até hoje, temos uma relação muito legal e mantemos contato.
E quando foi que as coisas mudaram para você?
Quando a minha mulher, que é médica, não conseguiu validar o diploma para atuar no Brasil, tive que optar em me separar ou largar tudo e me mudar para a Europa. Eu comecei do zero na Espanha. Sem dominar a língua, demorei dois anos para entrar no mercado de jornalismo no país. No começo fiquei muito amargurado e até pensei que tivesse cometido um erro, mas vejo que valeu a pena.
Como foi esse recomeço?
Eu entrei num processo de seleção de Mestrado para jornalismo, organizado pelo Jornal El País. Era só molecada com, no máximo, 25 anos. Eu só consegui convencê-los a apostar em mim porque disse que queria conhecer como era o trabalho em mídia impressa.
E a vida profissional, hoje em dia?
Atuo em um jornal de esportes, o AS, do El País, faço trabalhos de comentarista para a Sportv e outros veículos e dou cursos de degustação de vinhos. Durante a Copa do Mundo, atuei tanto pela Sportv quanto para o AS, cobrindo os jogos da Copa. Naquele período, estive na final e em 8 jogos no Maracanã.
O que teria a dizer sobre persistência?
Eu podia ter desistido da minha profissão umas três vezes. No primeiro problema na Globo, quando teve a guerra no Líbano e tive que ir embora e quando fui obrigado a largar tudo para morar na Espanha. A gente nunca sabe o que vai acontecer. O mais importante é ser persistente e saber que as coisas não acontecem de uma hora para outra. Eu tive que ralar quatro anos na Espanha, até trabalhando de graça para chegar ao ponto de ser contratado pelo AS, cobrir a Copa do Mundo ou trabalhar para empresas como a CBN. É muita coisa e pouco dinheiro!
É um bom número de atividades...
Costumo dizer para a minha mulher que “alguma coisa vai dar certo”. Ou então, continuarei trabalhando em 5 lugares diferentes, como faço hoje. Há 10 anos o meu pai já falava que o emprego, como a gente conhece, estável, fixo, com contracheque no final do mês, estava acabando. A questão é que, ou você corre atrás, ou ninguém vai pagá-lo no final do mês. Nessa semana, por exemplo, fiz uma matéria sobre o Neymar, produzi uma matéria para a BBC sobre política espanhola, estou indo para um congresso, no norte da Espanha, sobre vinhos e tenho um programa semanal no AS, de futebol americano.
É importante arriscar?
Aquela história de que, se você deixar um lugar, não conseguirá se dar bem em outro é uma grande besteira. Aquele seriado Hulk tem uma metáfora muito interessante. Toda vez que terminava o episódio ele aparecia caminhando, de costas, todo rasgado, mas recomeçava. Isso que é o legal!
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