terça-feira, 13 de agosto de 2013

José Salmira, Linda e o Bar do Ponto

Antes da demolição de uma casa e de um muro que abriram passagem para a Avenida Sinhá Moreira, havia, no que viria a se tornar uma esquina, a casa de José Joaquim Ribeiro.  Como o nome de sua mãe era Salmira, as pessoas o chamavam de José Mira ou José Salmira, nomes que o acompanharam por toda a vida. Naquele local localizado em uma via chamada Rua Pedro Moreira da Costa e que ia da ponte ao Fórum, sua esposa – Linda Abrahão Ribeiro – tocaria um comércio que ficaria muito conhecido nos anos seguintes: o Bar do Ponto.
O Bar do Ponto, também conhecido como Bar da Linda.
No início, o estabelecimento batizado de 3 irmãos era uma espécie de venda e o balcão era disposto de tal forma que os fregueses ficavam do lado de fora da porta. Os principais produtos eram utensílios de pesca, doces variados, anzóis, linhas de costura e carretéis. 

Naquela época, não existia rodoviária e os ônibus deixavam seus passageiros em frente ao bar. Isso fez com os proprietários recuassem um pouco o balcão e espalhassem cerca de 6 mesas em seu interior. Muitos fregueses eram da própria cidade. Outros, eram viajantes que se hospedavam no Hotel Mello ou na Pensão da Dona Júlia e que se alimentavam com embutidos como salsicha, sardinha e mortadela – servidos por ali. Como os motivos eram distintos, enquanto os forasteiros se referiam ao estabelecimento como Bar do Ponto, os nativos o chamavam de Bar da Linda, e ambos os nomes ficaram bem conhecidos com o passar dos anos

Quando passou a comercializar bilhetes rodoviários, a jornada de Linda tinha início às 5 horas, já que o primeiro ônibus partia por volta das 6. José Salmira que, de manhã, era responsável por uma curiosa vivenda de pássaros, trabalhava como coletor na prefeitura do meio dia ao final da tarde e corria para o bar no início da noite, onde permanecia até encerrar as atividades, às 11 e meia da noite.
Senhor José Salmira acompanha o Bloco dos Democráticos.
Maktub - Vivenda de faisões

Localizada em um terreno ao lado do Bar do Ponto, às margens do Rio Sapucaí, a Maktub Vivenda de Faisões era outra paixão de José Salmira e atraía uma grande curiosidade dos santa-ritenses pela enorme quantidade de espécies. Mutum, Pacu, Jacu, Perdiz, Pavão, Codorna e Faisão eram algumas das aves exóticas que o criador produzia. Até pouco tempo, quem atravessasse a ponte que ligava a cidade ao Santa Rita Country Clube ainda podia ver o letreiro da Maktub que sobreviveu muitos anos ao desgaste do tempo.

Pé de moleque, doce de coco, geleias industrializadas em copinhos de sorvete, doce de abóbora, maria-mole e outras guloseimas eram muito procuradas por Claiton, Galvão, José Alfredo, Tiatião, Lutero, Silvinho Palma e suas irmãs, Nei e outras crianças da cidade que usavam a extinta praça Ruy Barbosa para jogar bolinha de gude e realizar outras brincadeiras.
Ronald, Dona Linda e Robledo.
Nos finais de semana, a juventude se reunia no Santa Rita Country Clube e muitas pessoas saíam dos bailes para buscar melhores preços no Bar da Linda. Rolando Abrahão Ribeiro, filho caçula da comerciante, conta que, no início, o estabelecimento não vendia bebidas alcoólicas: “No primeiro dia em que minha mãe abriu o bar, chegou um homem para pedir uma pinga e ela explicou que não venderia o produto para não concorrer com o bar de Dona Nini (atual Sorveteria Itajubá), bem ao lado do Bar do Ponto. “Lá vende pinga. Nós vendemos linha.” Com o tempo, as regras mudaram e ambas comercializaram aguardente, sem deixar a amizade esfriar. 

A moças da foto
Em uma das raras fotos do Bar do Ponto – ou Bar da Linda – duas moças que aparecem na imagem são as irmãs Fatinha  e Rosinha, praticamente criadas pelos proprietários do estabelecimento. Outra garota criada pelo casal chamava-se Vita e protagonizou um diálogo interessante quando Linda e Salmira precisaram viajar e deixaram o bar para ela e Nini cuidar. 

- A senhora lê, mas não enxerga. Eu enxergo mas não leio. Estamos bem, Dona Nini! – brincou Vita.
Robledo, Ronald e Rolando.
Velhos tempos

Rolando também conta que um dos momentos em que o bar mais enchia, era nos dias de quermesse. “Quando diversos caminhões do bairro da Cachoeirinha paravam em frente ao Bar do Ponto para deixar os visitantes, eram intermináveis as encomendas de doces que levavam para seus parentes e amigos”. 

Com a criação do terminal rodoviário, nos meados da década de 70, terminava um ciclo em que o Bar do Ponto era a recepção de Santa Rita. Pouco depois, em 1976, Linda faleceu por sequelas de um acidente automobilístico e seu marido decidiu não ir à frente com os negócios. Pouco a pouco, José Salmira perdeu o gosto por seus empreendimentos e o comércio encerrou suas atividades. Ao lembrar-se da simpática comerciante que morreu aos 51 anos, muitos santa-ritenses fazem questão de destacar sua generosidade e benevolência. “Até hoje, quando vou a cachoeirinha, conto quem foi a minha mãe e as pessoas dizem que a adoravam”. – confidencia Rolando. Com o falecimento de José Salmira, aos 72 anos, tinha fim uma trajetória que marcou a vida de inúmeros santa-ritenses, por quase duas décadas. O casal deixou cinco filhos, ambos de nomes iniciados com a letra “R”: Ronald, Robledo, Robson, Rosa e Rolando. Por curiosidade, os comerciantes tiveram dois cães: Radar e Rajar.

(Agrademos ao comerciante Rolando Abrahão Ribeiro pelos depoimentos e imagens utilizados na confecção desta matéria)

(Carlos Romero Carneiro)

Oferecimento:

Um comentário:

  1. Robledo e Ronald,
    talvez vcs não lembram mais de mim. Sou o Eloi (amigo de infância), irmão da Cida. Faz vários anos que não vou a SRS mas continuo tentando manter atualizado com as coisas que acontecem em nossa cidade. Li a reportagem de vcs falando de sua mãe e seu pai. Fiquei muito emocionado lembrando de nossa infância e contatos que tivemos. Um grande abraço para vcs.
    Eloi Garcia

    ResponderExcluir