segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A Maria Fumaça


Nossas viagens eram feitas mais de trem, em virtude das péssimas estradas. De Santa Rita do Sapucaí à Itajubá, levava-se quase duas horas. Era uma viagem tranquila, gostosa. De vez em quando uma faísca entrava pela janela e queimava a roupa de um passageiro. Os viajantes usavam até uma peça de roupa, chamada "guarda-pó", tipo de capa de pano brnaco, para se proteger do fogo (e do pó).

Certa vez indo de itajubá para Delfim Moreira, sisitar o primo Maurício Adami, eu quase tive um ataque. É que sempre comia no percurso das viagens, tipo lanche e atirava pela janela o papel, a casaca de banana etc. Nessa viagem, peguei a casaca da banana que havia comido e joguei em cima de um pessoal que andava na beira dos trilhos. Qual não foi minha surpresa quando o trem parou e o pessoal subiu. Eu tinha uns 15 ou 16 anos, mas moleca, como sempre... Felizmente eles não notaram que eu havia feito aquela travessura e a viagem continuou tranquila.

Tinha em Santa Rita o trem das 04h12min que vinha de Pouso Alegre, sempre no horário, porque era formado naquela cidade. Usava para ir à Itajubá ou então voltar dos bailes de Pouso Alegre. A gente saía do Clube em disparada pela avenida, até chegar à estação, depois de passar uma noite feliz, dançando naquela cidade amiga.

Na estação, dona Ernestina vendia seus biscoitos e cafezinho, muito apreciados pelos usuários. De madrugada sempre tinha companhia, seu único filho, apelidado Jorge Gambá. Ele era ótimo também.

Um dia, esperando o trem para ir a Itajubá, eis que ele aponta, na curva da pedreira, com aquele barulho característico e soltando sua fumaça para o céu. Na estação todos se movimentaram, pegando as maletas, sacolas etc. Quando o trem chegou, vimos que tinha vindo somente a máquina. Ao sair de Pouso Alegre, os vagões não  engataram bem, e como era de madrugada a estação não funcionava ou não tinha telégrafo, somente em Santa Rita o maquinista foi comunicado que chegara na hora, porém sem os carros... Foi uma situação hilária e inédita.
 Jandyra Adami. Da obra Passarelas da vida

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