quinta-feira, 9 de maio de 2013

Um pedaço de Santa Rita já foi paulista (Por Ivon Luiz Pinto)

Durante muitos anos não existiu o que é hoje Minas Gerais; Suas terras pertenciam à Capitania do Porto Seguro, Ilhéus, Espírito Santo, Paraíba do Sul e São Vicente. O governo português não tinha nenhum interesse nestas terras, principalmente pela dificuldade de penetrar num território cercado por altas  montanhas. Os primeiros aventureiros que atravessaram as serras e puseram seus pés em nossas montanhas ficaram extasiados pela exuberância e beleza da região. “O chão, narra  Paulo Prado, é um tapete de flores caídas, de todos os tons, desde o amarelo escuro, do vermelho rubro, do cor-de-rosa, até o lilás, o azul celeste e o branco alvíssimo.” Essa exuberância fascinou os olhos de quem penetrou num “ vastíssimo território com a mais variada fauna que, com seus tucanos, beija-flores e bandos de borboletas acordam e animam o silêncio da mata feito de mil ruídos de insetos.”
 A atenção política e a economia colonial estavam localizadas no litoral do Brasil, arranhando as costas como caranguejo, no dizer de Frei Vicente do Salvador. As cidades e vilas que existiam se localizavam nas costas com seus fortes e estruturas de defesa. Somente uma vila se localizava no interior. Fundada pelos jesuítas padres José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, em 1554, a vila de São Paulo de Piratininga, se localizava no interior, longe das praias, longe do mar. Nessa época, os franceses não deixavam em paz as costas  do litoral fluminense e Estácio de Sá, na luta contra o invasor, fundou, em 1565, a cidade do Rio de Janeiro. Em 1709, em consequência da luta entre paulistas e emboabas, na região de São João del Rei, a Capitania de São Vicente teve duas cisões formando a Capitania do Rio de Janeiro e a Capitania de São Paulo e das Minas de Ouro.

 Da vila de São Paulo é que mais tarde partiram os bandeirantes que vieram explorar as riquezas de Minas. De um modo estranho e, às vezes triste, a história de Minas e de São Paulo se liga dentro de uma História maior que é a do Brasil. Um dia, esses bandeirantes intrépidos e aventureiros com sede de riquezas encontraram ouro no leito dos rios cristalinos que serpenteiam as terras frias destas serras. A situação se modifica. A ambição traz novos aventureiros, o governo esquece os canaviais do nordeste e se preocupa com o ouro que é encontrado e a região recebe seu primeiro nome como terra das Minas de Ouro que, mais tarde, se torna Minas Gerais, pois que, além de ouro encontraram várias pedras preciosas. A descoberta desse ouro trouxe problemas administrativos e fiscais  por causa do contrabando de riquezas. Era fácil o desvio do ouro nos caminhos e descaminhos em uma mata fechada e perigosa. Em 1720, após a sublevação de Felipe dos Santos e, em vista de tantos pro-blemas que a mineração tinha levantado, o governo separou esta região da de São Paulo com o nome de Capitania de Minas Gerais. 

Mesmo depois de Minas se separar definitivamente, as confusões entre os limites das duas capitanias trouxeram  problemas e rivalidades. As dioceses de São Paulo e de Taubaté continuaram avançando no território mineiro e, em muitos casos, chegaram a dividir cidades. Esse fato aconteceu na cidade de Santa Rita do Sapucaí,  pois o rio Sapucaí era a linha divisória entre as Dioceses de Mariana, lado direito do rio, e São Paulo, lado esquerdo. Dessa forma, os habitantes do lado esquerdo tinham como obrigação eclesiástica a diocese de São Paulo. Na prática, porém, esta cidade utilizou de um processo político e mineiro de fazer as coisas em sigilo, pois era mais cômodo receber os serviços da diocese de Mariana.

Analisemos este mapa de 1799:

O título da carta se apresenta de sobranceiro ou rompante, no alto da carta e conduzindo no centro uma ilustração representando a Vila de São João del Rei. Em sua margem esquerda e descendo do alto, uma referência a diversas distâncias das povoações. Seguida mais abaixo, dá referências a vários portos. No sopé, à esquerda, uma rosa dos ventos mostra os pontos cardeais e, logo em seguida, a ilustração de uma vegetação de serrado representa a Capitania de São Paulo. Toda a margem direita é tomada pela representação da Serra da Mantiqueira e seus diversos picos e montes. As diversas Vilas são representadas pela ilustração de uma Igreja e todas se confluem para  uma ilustração, no centro, representando a Vila de Campanha da Princesa. O rio Grande se levanta acolhendo afluentes, formando um conjunto semelhante a uma árvore assoprada pelo vento ou a um esboço do pulmão direito. Ela mostra o rio Sapucaí como marco divisório entre o Bispado de São Paulo e o Bispado de Mariana e apresenta o Bispado de São Paulo com letras bem maiores. As Paróquias situadas no lado esquerdo desse rio pertenciam ao Bispado de São Paulo e, as que estivessem no lado oposto, ao Bispado de Mariana. Essa divisão entre Bispados não respeitava a divisão de Capitanias e, por isso, o Bispado de São Paulo que pertencia à capitania de São Paulo avançou seu domínio eclesiástico dentro da Capitania de Minas Gerais. Dessa forma, pertenciam ao Bispado paulista, mesmo estando territorialmente na Capitania mineira as paróquias de Camanducaia, Sant`Ana, Ouro Fino, Cabo Verde, Jacuhi e os registros de Jaguari, de Caldas e de Toledo. Pertenciam ao Bispado de Mariana as paróquias de Soledade de Itajubá, São Gonçalo, Lavras, Pouso Alto, Baependi,  Aiuruoca e o Registro da Mantiqueira. As terras pertencentes à Paróquia de Nossa Senhora de Soledade, atual Delfim Moreira, se estendiam da Serra da Mantiqueira até as divisas de Santana e São Gonçalo.

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