terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Dia de visita.

Eu não cheguei a conhecer o meu avô materno. Ele faleceu no “ano da enchente”. A famosa enchente de 1906 que fez transbordar o rio Sapucaí como nunca se vira antes. O fato tornou-se um assunto obrigatório, cada vez que o nível do rio se elevava durante a estação chuvosa.

Meu avô morava num extremo da vila, na “Chácara Fortaleza”. Segundo minha mãe contava, ele era “doido” por uma prosa. No entanto, a distância, as ruas esburacadas e lamacentas, além da inexistência de luz elétrica, dificultavam as visitas. Por isso, quando aparecia algum amigo, o café com biscoitos demorava para ser servido, enquanto os assuntos emendavam uns nos outros. Era uma preocupação enorme sobre o estado de saúde - física, mental e financeira - da família, só para servir como artifício para retardar, ao máximo, o momento menos desejado: quando a visita se levantava e anunciava que já estava indo pra casa.

Uma ou duas vezes, ele conseguia comover o visitante, mas não era nada fácil. De vez em quando, o major segurava o cavalo pelo freio e impedia que o cavaleiro partisse. A conversa então rendia mais um pouquinho até que o amigo, já desanimado, tivesse que apelar para um último recurso: bater a espora ligeira no cavalo, como quem não quer nada, sorrateiramente, fingindo que o “nervoso” do animal fosse apenas obra dos mosquitos. Só então a prosa tinha fim. Pelo menos até a proxima visita.

Dos arquivos do Dr. Walter Telles.

Um comentário:

  1. Oi, Carlos. Onde você arrumou esses arquivos do tio Walter? Por favor, passe para mim também. Abraços.

    ResponderExcluir